José Maria Rangel é diretor de Saúde e Segurança da FUP e coordenador do Sindipetro-NF, além de representar os trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobrás
O ano era 2001, o mês março e o dia 15. A Explosão na P-36 vitimou 11 companheiros. Os familiares e amigos não conseguem até hoje esquecer o que aconteceu. “Sei que meu marido não vai voltar, mas enquanto tiver forças lutarei para que novas tragédias como essa não ocorram mais”. Sábias palavras de Marilena, Viúva de Josevaldo.
Participar da Comissão que iria apurar a tragédia era fundamental para saber o que ocorreu, a Petrobrás negou e fomos para justiça garantir que um dirigente do sindicato representasse a categoria naquela apuração. Nossa participação foi criticada de forma irresponsável pela oposição. A Petrobrás e a turma do contra não queriam nossa participação (Petrobrás e Oposição – juntas). De maneira corajosa – uma marca da nossa direção – encaramos o desafio e começamos a escrever uma história de luta e resistência contra as condições de insegurança nas nossas unidades operacionais.
O sindicato intensificou sua atuação firme, reconhecida nacionalmente, de defesa da segurança e saúde dos trabalhadores próprios e contratados na Bacia de Campos. Foi assim que partimos para a construção do Anexo 2 da NR-30 que deu instrumento legal para os auditores do MTE, e passamos a provocar com denuncias aos órgãos de fiscalização (SRTE, ANP, MPT, Marinha e ANVISA) para que cumpram o seu papel.
Vieram as interdições de plataformas. Fizemos mobilizações por segurança como, por exemplo, negar embarcar em aeronaves para protestar contra a insegurança. Até mesmo uma histórica greve pela vida a nossa categoria fez. Por fim levamos para o Conselho de Administração da Petrobrás a discussão da saúde e segurança dos trabalhadores. O mandato de Conselheiro representante dos trabalhadores também se tornou importante para lutar pela prioridade número um da diretoria do Sindipetro-NF – lutar pela VIDA.
Estas são algumas das ações de quem não se entrega aos desmandos das operadoras, principalmente quando o assunto é o trabalho seguro. Nada do que foi (e continua sendo feito) seria possível se não houvesse sintonia entre categoria e direção do sindicato. Quebrou-se a lógica de que a categoria só se “mexe” quando o assunto é dinheiro, fomos pioneiros na quebra desse paradigma. O sindicato recebe e encaminha quase diariamente informações e denuncias sobre insegurança em bases de terra e mar.
Pouquíssimos sindicatos dão tanto trabalho para a Petrobrás como o Sindipetro-NF – principalmente quando se fala em VIDAS. E mesmo assim tem um grupinho que nunca constrói nada e tenta nos taxar de governistas, chapa branca ou sabe-se lá o que. Ver aqueles que se dizem “ultra esquerda” comemorar a volta de um Conselheiro que nunca soube e não sabe o que se passa na Bacia de Campos – a maior região produtora de petróleo do país – só comprova a relação umbilical com a ala reacionária da empresa. A semana que começa nos traz profunda tristeza pela lembrança dos que se foram.
Não só os 11 companheiros da P-36, mas todos aqueles mais de 300 que morreram ao longo dos últimos 15 anos na indústria do petróleo, mas temos a certeza de que nossa luta não está sendo em vão. Estamos transformando em ação as palavras da viúva Marilena e nos colocando como obstáculos para que tragédias não aconteçam. A cada uma que, infelizmente, não conseguimos evitar renovamos nossa disposição de continuar.