O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou para mais de 60 mil pessoas hoje (23), em Porto Alegre. Lula prestigiou a vigília na capital dos gaúchos em defesa da democracia e do direito de o petista ser candidato nas eleições deste ano. Amanhã, o Tribunal Regional Federal da 4a Região (TRF4) decide o destino da possibilidade de sua candidatura ao analisar apelação da decisão de primeira instância do juiz Sérgio Moro, da Justiça federal de Curitiba, que condenou o ex-presidente no caso do triplex de Guarujá a nove anos e meio de prisão.
Mesmo com a urgência da pauta, que levou trabalhadores de todos os estados do Brasil a realizar a vigília, Lula disse não ter marcado presença em razão de seu julgamento em segunda instância. “Não vou falar do meu processo e não vou falar da Justiça. Primeiro, porque tenho advogados competentes que já provaram minha inocência. Segundo, porque acredito que aqueles que vão votar devem se ater aos autos do processo e não às convicções políticas de cada um. Terceiro, porque tenho a vocês.”
Lula fez críticas à base do governo de Michel Temer (PMDB) e de forças que o sustentam que, segundo suas palavras, julgam os governos do PT por méritos e ações populares e não por crimes. “Falo da soberania nacional, da integração latino-americana, do fortalecimento do Mercosul. Falo contra o desmonte das leis trabalhistas e do fim da Previdência. Falo dos sonhos da juventude que quer ter a oportunidade de estudar, de ter um emprego, a possibilidade de construir família em um país que tem 12% da água doce do mundo.”
País, este, que Lula afirmou ter a “audácia” de ter sonhado e trabalhado por ele. “Provamos, mulheres e homens, que era possível construir um país diferente com empregos formais, com documentos, com aumento de salário. Sonhamos com um país que elevou o poder aquisitivo da camada mais pobre. Sonhamos com um país onde todos podiam tomar café, almoçar e jantar, onde uma criança não precisaria deitar sem ter um copo de leite. Um país, aonde o filho do pobre pode cursar letras. Um país aonde mudamos o ensino técnico e construímos mais de 500 escolas técnicas. Um país aonde a reforma agrária era dar terra para os trabalhadores produzirem e comerem. Esse país, nós construímos.”
“Por conta dessas conquistas estamos vivendo o dia de hoje. Não posso me conformar com o complexo de vira lata do nosso país, com uma elite subalterna, que fala grosso com a Bolívia e como um gatinho com os Estados Unidos. A última elite a acabar com a escravidão. O Brasil foi o último país do continente a ter uma universidade federal (…)”.
“Tive sonhos junto do povo desse país, quando acabamos com a Alca e implantamos o Mercosul com Rafael Correa (ex-presidente do Equador), Hugo Chavez (ex-presidente da Venezuela), Pepe Mujica (ex-presidente do Uruguai) e Michele Bachelet (ex-presidenta do Chile). Sei do sonho de construir a grande pátria. Tivemos a coragem de fazer uma reunião de todos países latino-americanos sem a participação dos Estados Unidos e do Canadá. A primeira reunião que Cuba pode participar. Sei do peso da criação dos Brics (bloco de países emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Sei o que isso significava. Sei da nossa relação com a África. Sei o que significou a autonomia da América do Sul”, disse.
Para Lula, o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, é parte de um contexto que inclui sua retirada da eleição. “Nunca aceitaram que o Brasil tivesse sua soberania. Nunca aceitaram que os países daqui pudessem determinar políticas de relações sem depender deles. Eles queriam combater a coca na Bolívia com bases militares. Nós, para combater o tráfico, pensamos em emprego e renda para a América Latina. Eles nunca aceitaram e fizeram com que a Dilma fosse expulsa do poder, mesmo com 54 milhões de votos”.
Sobre os ataques, Lula questiona os motivos e méritos. “Não sei se é medo de eu voltar. Se for, é bom. Eles não têm medo pelas coisas ruins que fizemos, mas sim pelas coisas boas. Eles sabem do orgulho de uma empregada ver sua filha estudando em uma universidade.”