Por Luiz Eduardo Soares ,antropólogo, cientista político e especialista em segurança pública
O comandante do Exército, general Eduardo Dias da Costa Villas Boas, que ameaça romper com a democracia
O Supremo tem, agora, uma arma apontada contra os juízes: ou votam contra o HC de Lula e pela prisão em segunda instância, ou… ou o quê, general? Traem a pátria? Traem o interesse público? Contrariam suas convicções pessoais? Desagradam sua corporação?
Se o ministro Fachin tinha sido ameaçado, agora teria razões para denunciar a chantagem.
Vivemos uma sequência de ataques à democracia e à independência dos poderes.
Marielle e Anderson assassinados, a caravana de Lula agredida com tiros e impedida, pela violência, de seguir viagem, a mídia ensandecida porque a direita não encontra um candidato viável.
Querem o quê? Prender Lula? Se não bastar, pretendem o quê? Suspender as eleições ou neutralizá-la com o parlamentarismo tirado do bolso do colete nas vésperas do pleito?
O que muita gente boa parece não entender é que o impeachment, na atmosfera envenenada por um antipetismo patológico, abriu caminho para que saíssem do armário todos os espectros do fascismo. “Não sou petista: sou anti-antipetista.”
O antipetismo é o ingrediente que faz as vezes do antissemitismo, na Alemanha nazista.
O antipetismo identifica O CULPADO de todas as perversões, o monstro a abater, o bode expiatório, a fonte do mal.
O antipetismo gerou o inimigo e gestou a guerra político-midiática para liquidá-lo, guerra que se estende, sob outras formas (mas até quando?), às favelas e periferias, promovendo o genocídio de jovens negros e pobres, e aniquilando a vida de tantos policiais, trabalhadores explorados e tratados com desprezo pelas instituições.
Há um fio de sangue que liga as palavras ameaçadoras do general, interferindo na autonomia do Supremo, na véspera do julgamento do habeas corpus de Lula, a agenda regressiva que cancela direitos, as balas contra a caravana de Lula e a execução de Marielle e Anderson.
Os autores não são os mesmos, e existem contradições entre eles, mas há uma linha de continuidade porque todas ocorrem no cenário de degradação institucional criado pelo antipetismo e nele se inspiram.
Ser contrário ao antipetismo, mesmo não sendo petista, é necessário para resistir ao avanço do fascismo.
Os que votaram pelo impeachment e, na mídia, incendiaram os corações contra Lula e o PT, sem qualquer pudor, não tendo mais como recuar, avançam ao encontro da ascensão fascista, que ajudam a alimentar, voluntária e involuntariamente.
Não podemos retardar a formação de ampla aliança progressista pela democracia, uma frente única antifascista.
[Via Rede Brasil Atual]