Sindipetro SP
A solenidade que homenageou os 30 anos da primeira greve dos petroleiros, que foi realizada em plena ditadura militar e resultou na demissão de 349 trabalhadores das refinarias de Paulínia e Mataripe, na Bahia, foi marcada por enaltecimentos e lembranças. O evento aconteceu sábado (06.07), na sede da Regional Campinas do Sindipetro-SP, e contou com a presença de cerca de 200 pessoas, entre petroleiros anistiados e da ativa, autoridades políticas e representantes da CUT, da FUP, de movimentos sociais e de várias categorias sindicais do país.
Uma exposição montada pelos diretores do Unificado, com depoimentos de petroleiros grevistas, fotos da época e notícias veiculadas pelos jornais durante a paralisação de 83, emocionou muita gente. “Fiquei comovido com as fotos e as recordações de tantos episódios que marcaram profundamente a minha vida”, afirmou o anistiado Walter Gallasch, que estava acompanhado da esposa Marlene e da filha Cristiane.
A solenidade foi aberta pelo coordenador do Unificado, Itamar Sanches. “É um prazer fazer parte desse ato, que comemora essa greve tão importante na história dos petroleiros”, declarou .
Logo em seguida, Itamar compôs a mesa, formada por Rogério Santa Rosa, coordenador da Regional Campinas do sindicato; Rosa de Las Mercedes Moreira, integrante do Grupo de Trabalho de Anistia do Sindipetro-SP; Adriano Diogo, deputado e representante da Comissão da Verdade; Cibele Vieira, diretora do Unificado e representante do Químicos; Marcelo Fiorio, representante da CUT; José Maria Rangel, representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobrás; João Antonio de Moraes, coordenador da FUP; Silvio José Marques, representante de todos os ex-presidentes do Sindipetro-SP; Otávio de Azevedo Júnior, presidente do Sindicato dos Metroviários em 1983; Raimundo Lopes, membro da Abraspet-BA (Associação Brasileira dos Anistiados Políticos do Sistema Petrobrás); Vicentinho, deputado federal que representou a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de 83; e o presidente do Sindicato dos Petroleiros de Mataripe, na época, Germino Borges dos Santos.
A greve de 83, segundo Santa Rosa, representa a luta pela democracia e pelo direito do trabalhador. “Temos que agradecer esse legado, esse aprendizado deixado para as novas gerações que estão chegando e que vão liderar as lutas dos trabalhadores”, declarou.
Nesse mesmo contexto, Cibele convocou a juventude para a luta. “A lição nos foi dada há 30 anos. Cabe agora a nós, jovens, despertarmos essa consciência”, disse. Zé Maria completou: “Nossa categoria é respeitada e organizada graças ao movimento de 83. A luta de vocês atravessa gerações e chega a esses jovens, que vão conduzir os rumos da nossa categoria”.
Adriano Diogo fez críticas à impunidade. “Faz 30 anos da greve dos petroleiros e 49 anos do golpe militar e, até hoje, os interventores da greve e do golpe não foram punidos”, lamentou. Rosa falou sobre a luta árdua que ainda há pela frente. “Muitos dos nossos companheiros foram anistiados, mas ainda existem vários deles que esperam pelo julgamento, por uma definição”, comentou.
Marcelo Fiorio destacou a importância da categoria na história dos trabalhadores. “Não haveria a CUT se não houvesse a greve dos petroleiros em 83. A luta de vocês é a luta da classe trabalhadora”, afirmou. Para Silvio Marques, a greve de 83 abriu as portas para os trabalhadores reivindicarem os seus direitos. “Essa greve deu sustentação aos trabalhadores para que acreditassem que podiam e tinham direitos e fizessem outras greves”, ressaltou.
Moraes enfatizou que no momento em que são comemorados 30 anos da greve dos petroleiros, a FUP completa 20 anos de existência. “A FUP é filha da greve de 83. Esse movimento é um daqueles momentos que não devemos esquecer nunca para continuarmos fazendo nossas lutas”, declarou.
Em solidariedade aos petroleiros, lembra Azevedo, os metroviários aderiram à greve em 83. “O sindicato dos metroviários tinha nascido há menos de 30 dias, mas a categoria foi unânime em participar da greve. Temos orgulho desse momento e dessa história, que nunca deve ser esquecida”. Os metalúrgicos também foram solidários ao movimento e decidiram fazer uma greve. “A causa dos petroleiros é uma causa nossa. Muito obrigado pela contribuição que vocês deram à luta da classe operária”, completou Vicentinho. “Atos como esse é que mantêm acesa a chama das lutas”, resumiu Raimundo Lopes.
A greve de 83, de acordo com Germino, foi de enfrentamento e de ocupação.
“Foi uma operação de guerra, com ocupação das refinarias, intervenção do sindicato e cassação dos dirigentes”, afirmou. Segundo ele, o movimento dos petroleiros serviu de estopim para a greve geral, realizada em 21 de julho no regime militar. “Serviu ainda para consolidar a fundação da CUT, em agosto, a criação do PT, as lutas que passamos a apresentar e o fim da ditadura militar”.