A crise econômica em que mergulhou o estado do Rio de Janeiro fica evidente no aumento do desemprego, no trabalho informal e no alto índice de pessoas em situação de rua. Especialistas apontam que uma das principais causas do aumento da pobreza no estado está relacionada a queda do preço dos barris de petróleo e ao desmonte da indústria que gira em torno da cadeia do petróleo. Para entender melhor a relação da crise que afundou o estado com o setor do petróleo, o jornal popular Brasil de Fato conversou com José Maria Rangel, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP). Confira a íntegra da entrevista:
O aumento do desemprego no Rio de Janeiro está relacionado, principalmente, com as demissões que ocorreram no setor da indústria do petróleo. Em que contexto isso acontece?
Um dos pilares foi o golpe instaurado no país em 2016 que desregulamentou o setor petróleo. Em primeiro lugar, ocorreu a alteração da Lei da Partilha, desobrigando a Petrobras a participar com 30% de todos os leilões e de ser a operadora única do pré-sal. Em segundo lugar, o governo modificou os calendários dos leilões, de forma a permitir a rápida entrada das empresas estrangeiras no pré-sal brasileiro. Em terceiro lugar, foram alteradas as exigências de conteúdo nacional, reduzindo os percentuais mínimos de contratação de fornecedores nacionais.
Como isso impacta na prática?
Todas essas medidas foram sendo implementadas ao mesmo tempo a fim de criar um ambiente favorável para as empresas estrangeiras ocupassem os diferentes espaços da cadeia de petróleo. Essa substituição da atuação da Petrobras e dos fornecedores nacionais por empresas estrangeiras transferiram empregos do estado para o mercado internacional.
De que forma a Operação Lava Jato também contribui para a crise no estado e no setor petroquímico do Rio?
O Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), por exemplo, representaria um marco na integração do refino e da petroquímica no estado do Rio. Mas, a Operação Lava Jato não permitiu que as empreiteiras continuassem atuando, somado a isso veio a política de sucateamento da Petrobras. Dessa maneira, haviam duas alternativas: o cancelamento total do complexo ou ceder os direitos de construção para as empresas estrangeiras. A Petrobras seguiu as duas alternativas. Com isso, além da retomada mais lenta dos empregos, o Brasil continuará com sua forte dependência em produtos petroquímicos e também de construtoras estrangeiras.
Como avalia as saídas apresentadas pelo governo estadual para o Rio?
O governo do Rio aposta em saídas de curto prazo, que trazem apenas um refresco no momento atual, mas não adota nenhuma medida para construir uma saída estrutural para o estado. A solução da crise no Rio passa muito mais por medidas sólidas de recuperação da capacidade de receita, principalmente, pela retomada dos investimentos públicos em energia e programas de mobilidade urbana, não por corte de gastos e privatizações.
[Via Brasil de Fato]