Em um artigo no jornal britânico The Guardian, o correspondente Jonathan Watts escreve sobre a Lava Jato e lembra que, inicialmente, as investigações pareciam restritas ao PT. Mas que isso mudou.
“À medida que a escassa escala do desmembramento do processo surgiu, muitos brasileiros concentraram sua fúria em políticos – inicialmente Lula, Rousseff e no PT. Os jornais sugeriram a mensagem de que os socialistas sujos em Brasília eram totalmente responsáveis pelo problema”, relata.
“A realidade era consideravelmente menos clara. Quase todos os principais partidos estão envolvidos em múltiplas e interconectadas trilhas de corrupção voltadas a governos anteriores. E foi o Partido dos Trabalhadores que implementou as reformas judiciais que permitiram que a investigação prosseguisse. Não haveria Lava Jato se o governo não tivesse nomeado, em setembro de 2013, um procurador-geral independente”, diz ainda.
No texto, Watts questiona se a operação Lava Jato vale a pena. “Isso ajudou a alavancar o Partido dos Trabalhadores fora do poder e inaugurou uma administração que aparece tão contaminada, mas muito menos disposta a promover a transparência e a independência judicial”, aponta. “Tantas acusações agora estão empilhadas contra Temer e seus aliados, que ele vai se esforçar para manter sua presidência até o final de seu mandato em 2018”.
Segundo o jornalista, a Petrobras – o campeão nacional da era Lula – foi colocada de joelhos diante dos estrangeiros. As empresas concorrentes vão poder controlar a produção dos novos campos petrolíferos.
“As principais empresas e políticos comuns estão completamente desacreditados. Os eleitores lutam para encontrar alguém para acreditar. Não é apenas o estabelecimento que está cambaleando, mas toda a República”, pontua.
“A longo prazo, muitos ainda esperam que a Lava Jato acabe por tornar o Brasil uma nação mais justa e eficiente, dirigida por políticos mais limpos e respeitadores da lei”. No texto, Watts diz que existe o risco de a operação abalar “a frágil democracia” e abrir caminho para uma “teocracia evangélica de direita” ou “o retorno de ditadores”. “Se esse expurgo representa ou não uma cura para o Brasil, isso não dependerá apenas de quem cai, mas de quem segue”, finaliza.
Tradução de trechos da reportagem feita pelo Brasil 247