CUT
“Agricultura familiar, mãos calejadas que alimentam o povo, sonhando terra solidária, política agrária, plantando um sindicalismo novo”. Embalando a mística apresentada por jovens agricultores, a canção – que converteu-se numa espécie de hino dos que buscam a justiça social no campo brasileiro – ecoou na noite desta terça-feira (19) pelo salão de convenções de São Lourenço do Oeste, no interior catarinense.
Com chapéu de palha na cabeça, cerca de 800 delegados e delegadas de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, abriram o IV Congresso da Agricultura Familiar da Região Sul reafirmando o compromisso coletivo de ampliar a mobilização por mais investimentos no segmento, rechaçando a lógica excludente ditada pelo agronegócio e pelas transnacionais.
Compondo a mesa e o plenário, deputados federais e estaduais, secretários e representantes governamentais, prefeitos e vereadores, davam a dimensão do reconhecimento da sociedade ao papel desenvolvido pela entidade.
O coordenador da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-Sul), Celso Ludwig, destacou a importância da “unidade, organização e mobilização” na conquista de políticas públicas que garantem maior volume de compra e melhor remuneração, como o que estabelece que ao menos 30% da merenda escolar deve ser adquirida do segmento.
Celso pediu que ficassem de pé os ex-coordenadores da Fetraf-Sul e atuais deputados estaduais Dirceu Dresch (PT-SC) e Altemir Tortelli (PT-SP), elogiando sua trajetória e compromisso: “Vocês plantaram boas sementes e agora estamos colhendo bons frutos”.
A secretária nacional de Comunicação da Central Única dos Trabalhadores e agricultora familiar de Xanxerê, Rosane Bertotti, lembrou da história de luta e conquista da CUT, que completa 30 anos no dia 28 de agosto, e de como, com sua “garra e ousadia”, a Fetraf-Sul fez parte desta caminhada. “Sem ousar não teríamos eleito o primeiro presidente operário da nossa história, nem a primeira presidenta do nosso país. A CUT sempre fez a diferença”, disse.
Entre as prioridades do momento, defendeu Rosane, estão a reforma política e a democratização da comunicação com a construção de um novo marco regulatório para enfrentar os conglomerados da desinformação e o grande capital, “alterando a correlação de forças em favor do povo brasileiro”.
SETOR ECONÔMICO E PRODUTIVO ESTRATÉGICO
A coordenadora nacional da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf-Brasil), Elisângela Araújo, destacou que “a soberania alimentar e nutricional da população passam por mais investimentos públicos, por mais crédito, por política agrária”. Um dos pontos preocupantes, alertou, é o problema da sucessão no campo. “Infelizmente a agricultura familiar não está sendo tratada como setor econômico e produtivo estratégico e isso impacta negativamente o conjunto das famílias, mas sobretudo na juventude. No Nordeste, de onde venho, a cada 10 proprietários apenas dois têm perspectiva de sucessão, pois os jovens estão indo para as cidades”, revelou Elisângela.
Para o coordenador da Fetraf-Sul no Paraná, Marcos Rochinski, é preciso virar a página do “modelo concentrador de terra e de tecnologia, excludente da população, representado pelo grande agronegócio”. “Apesar de termos avançado de forma significativa no último período, não queremos ser uma espécie de agronegocinho, queremos ser reconhecidos como um setor estratégico para o desenvolvimento nacional”, sublinhou o líder paranaense, frisando que o governo está priorizando crédito e financiamento para a plantação de commodities, “o que também leva a um desempoderamento das nossas organizações”. Rochinski denunciou que a falta de uma política educacional que dialogue com as necessidades do segmento, está convertendo a universidade “na maior fábrica de tirar jovens do campo”.
JUVENTUDE
Destacando a coragem da presidenta Dilma de enfrentar obstáculos ao desenvolvimento e à justiça social, a secretária nacional de Juventude – e também agricultora familiar – Severine Macedo lembrou como a redução dos juros impactou positivamente a produção e a população, ao mesmo tempo em que contrariou o sistema financeiro e os bancos. Severine frisou que há um compromisso do governo com o desenvolvimento sustentável e solidário, mas reiterou a importância da mobilização popular para assegurar avanços.
A presidenta da CUT-Paraná, Regina Cruz, enfatizou que este é o momento de unir “campo e cidade” para lutar por um projeto de desenvolvimento inclusivo e contra o retrocesso neoliberal. Regina citou o caso da luta contra a privatização da água, movimento que expressa a defesa da vida e da saúde do conjunto da sociedade.
Dialogando com esta preocupação, de “afastar o fantasma da privatização”, o deputado federal Pedro Uczai (PT-SC) defendeu que “é preciso democratizar as decisões sobre o futuro de empresas controladas majoritariamente pelo poder público, não se levando em consideração somente uma dada conjuntura”. Em função disso, declarou, “apresentei à Câmara dos Deputados uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para alterar o artigo 20 da Constituição a fim de resguardar as empresas estatais como bens públicos, ou seja, que pertencem, de fato, ao povo brasileiro”.
Entre outras lideranças participaram da cerimônia de abertura osecretário estadual do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo do Rio Grande do Sul, Ivar Pavan; o prefeito de São Lourenço do Oeste, Geraldino Cardoso; o delegado do Ministério de Desenvolvimento Agrário em Santa Catarina, Jurandir Gurgel; o ex-ministro da Pesca, Altemir Gregolin; o vice-reitor da Universidade Federal da Fronteira Sul, Antonio Andreoli e os representantes da CUT-RS e CUT-SC, Vilson Alba e Ana Júlia.
O evento foi encerrado com duas belas apreentações de danças típicas da cultura alemã e italiana.