Relatos de trabalhadores dão conta de falhas graves na gestão de SMS na RECAP
[Da comunicação do Sindipetro Unificado SP]
No clássico Vertigo (Um Corpo que Cai), filme de 1958 de Alfred Hitchcock, o protagonista Scottie sofre de acrofobia (medo irracional de altura). Em locais altos, ele é tomado pelo pavor e tem a ilusão de que o ambiente está se movendo ao seu redor, como num redemoinho. Esse sintoma é conhecido por vertigem.
A gestão da Segurança, Meio Ambiente e Saúde da Recap parece estar sofrendo de vertigem, talvez decorrente de um quadro crônico de decidofobia (medo de tomar decisões) herdado das medíocres gestões anteriores.
É sabido que, desde a sua criação e até recentemente, essa gerência foi comandada por profissionais
estranhos aos temas de SMS, que além de não entenderem do assunto, tampouco gostavam da matéria.
Estacionados convenientemente ali para aguardar a aposentadoria ou um PIDV, pareciam sofrer de
ergofobia (medo do trabalho) e de tropofobia (medo de mudanças). Sem exceção, todos estiveram envolvidos em acusações de assédio moral, muito por conta da constante perseguição que empreenderam aos que questionaram seus antiquados métodos de gestão.
Convenhamos, repaginar uma gerência com uma herança dessas não é tarefa fácil. Porém, relatos recentes dão conta de que a atual gestão da SMS da Recap começou a trilhar o mesmo caminho que leva a procrastinação, a omissão de desvios crônicos, a promoção de novos desvios e até a subordinação aos
interesses escusos de outras gerências de mesmo nível. Seguem as preocupações relatadas pelos trabalhadores:
Falta d`água na RACE
Na área de processo, onde a RACE deveria ser constituída unicamente por malhas completas (item 9.3.1, norma Petrobrás N-1203), algumas unidades ainda são abastecidas por ramais. É o caso da URFCC, recentemente desabastecida de água durante uma manutenção na RACE. Trechos da malha foram interditados para manutenção e nunca mais foram reconectados, criando ramais. Conforme consta do relato, a atual gestão da SMS também alega que o problema não é novo, mas não apresentou ação reparatória e sequer registrou o problema como anomalia.
Nova viatura, velhos problemas
A nova viatura de emergência (AB-04), adquirida faz quase um ano, ainda não possui diversos equipamentos, tais como mangueiras, canhões móveis, conexões, esguichos, chave Storz, conjuntos autônomos, roupas de brigadistas, etc. A viatura sequer foi emplacada. Enquanto isso, a AB-01 está sendo canibalizada para abastecer a AB-04. Conforme relatado pelos trabalhadores, a gestão atual alega ausência de recursos financeiros para aquisição dos acessórios para a AB-04. Em relação ao emplacamento, alega não ser prioridade, pois o veículo circula somente nas vias internas da refinaria.
Descaracterização de espaços confinados
Durante a parada da GV-6301 a gerência executante dos serviços de manutenção pressionou a gerência de SMS para que essa caldeira fosse descaracterizada como espaço confinado. Porém, as dificuldades para entrada/saída/movimentação e a possibilidade de presença de poluentes tóxicos e inflamáveis e/ou explosivos oriundos de unidades vizinhas, contradizem tal descaracterização. Conforme consta do relato apresentado, somente após a solicitação de um Cotur a gestão da SMS voltou atrás e restabeleceu a GV-6301 como espaço confinado.
Conjuntos autônomos sem certificação
Foram colocados em uso dezenas de conjuntos autônomos sem controle de torque, sem certificação, com arreios antigos e alguns sem anéis de vedação. Os novos conjuntos foram adquiridos desmontados. Conforme orientação da gestão, a montagem das válvulas no corpo dos cilindros foi realizada por trabalhadores da SMS, mas esses funcionários não possuíam as ferramentas adequadas e o conhecimento técnico necessário. Conforme consta do relato, a gestão da SMS alegou falta de recursos financeiros para aquisição de conjuntos completos e certificados.
Trabalhos extras sem suporte adequado de SMS
Já faz alguns meses estão sendo realizados trabalhos aos finais de semana na RECAP, com movimentação de centenas de trabalhadores terceirizados. No entanto, a gestão da SMS não implantou nenhuma escala especial para atendimento dessa demanda, mantendo o mesmo efetivo para os turnos de segurança e de saúde ocupacional aos finais de semana.
Diante de tais relatos, cabe perguntar: Estariam sendo priorizadas as planilhas de custo em detrimento da saúde e da segurança dos trabalhadores e trabalhadoras? A saúde deixou de ser colocada em primeiro lugar? A segurança do trabalhador e da trabalhadora foi precificada?
No desfecho de Vertigo, Scottie é obrigado a subir até o sino de uma torre de igreja. Por conta desse choque inesperado, ele é surpreendentemente curado de sua acrofobia. Será necessária a ocorrência de um acidente para que a gestão da SMS se livre de suas fobias e, consequentemente, desse estado permanente de vertigem?