Indicação de Castello Branco à presidência do conselho de petroleira privada é tentativa de favorecimento

Foto Fernando Brazão/Agencia Brasil

Nome do ex-presidente da Petrobrás foi sugerido para a 3R Petroleum, empresa que comprou diversos ativos da estatal durante seu mandato

[Da Assessoria de Comunicação a FUP]

A Federação Única dos Petroleiros (FUP) recebeu com indignação a indicação do ex-presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, à presidência do conselho administrativo da 3R Petroleum. Empresa privada do setor de petróleo e gás, a 3R vem negociando ativos da Petrobrás desde agosto de 2019, quando Castello Branco presidia a companhia.

Para a FUP, a relação anterior com a 3R demonstra claro conflito de interesses e favorecimento por parte do ex-executivo da Petrobrás, uma vez que Castello Branco foi o responsável por liberar a venda dos ativos da estatal. Hoje, a 3R Petroleum detém 100% dos polos petroquímicos de Areia Branca, Pescada Arabaiana, Macau e Potiguar (Rio Grande do Norte), além dos polos Fazenda Belém (Ceará), Rio Ventura e Recôncavo (Bahia). Na região Sudeste, também é responsável por 70% do polo petroquímico de Peroá, no Espírito Santo, e 62,5% do polo Papa-Terra, na bacia de Campos, no Rio de Janeiro.

Deyvid Bacelar, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros, argumenta que o caso é grave, uma vez que as negociações entre a Petrobrás e a 3R Petroleum movimentaram cerca de R$ 3 bilhões durante os dois primeiros anos de governo do presidente Jair Bolsonaro, quando Castello Branco comandava a empresa pública. “Na época, a 3R comprou uma série de polos de campos maduros de petróleo da Petrobrás a preço de banana. Foram preços abaixo do valor de mercado, conforme avaliações feitas não somente pela própria companhia, como também por especialistas na área. Então é no mínimo estranho termos agora o ex-presidente da Petrobrás, que participou dessas negociações representando a estatal, assumindo a presidência do conselho de administração da 3R Petroleum”, afirma Bacelar.

Segundo o coordenador-geral da FUP, a Federação entrará com uma denúncia no Ministério Público para que o caso seja investigado. “Há indícios fortes de beneficiamento, utilização do espaço em que Castello Branco estava anteriormente, e, principalmente, de informações privilegiadas. Esperamos que essa investigação chegue até aquilo que estamos suspeitando.”

Debandada de ex-gestores da Petrobrás para empresas privadas concorrentes

Caso Castello Branco assuma a cadeira, não será o primeiro ex-dirigente da companhia a ganhar um cargo na 3R Petroleum, uma vez que Hugo Repsold Jr., ex-diretor executivo de Desenvolvimento da Produção e Tecnologia da Petrobrás, ocupa, desde março de 2021, o cargo de diretor corporativo e de Gás & Energia na mesma empresa.

“Infelizmente esse não é o primeiro caso e parece não ser o último. Roberto Castello Branco, ex-presidente da Petrobrás, faz parte de uma série de ex-diretores e gerentes-executivos, que, com informações privilegiadas, saíram da empresa para outras que negociavam uma série de ativos da Petrobrás”, declara Bacelar.

Além de Castello Branco e Hugo Repsold Jr. na 3R Petroleum, outros ex-dirigentes da Petrobrás e da Agência Nacional do Petróleo (ANP) também trocaram seus cargos públicos por cargos em companhias privadas do mesmo setor. É o caso de Décio Oddone, ex-diretor da ANP (entre dezembro de 2016 e março de 2020) e de Anelise Lara, ex-diretora de Refino e Gás Natural da Petrobrás (entre janeiro de 2019 e março de 2021). Décio atualmente é diretor-presidente da Enauta, empresa de produção e exploração de campos de petróleo e gás com presença em quatro regiões do Brasil, enquanto Anelise integra o conselho consultivo da Ipiranga. Ambas as empresas negociaram com a Petrobrás no período em que Oddone e Lara ocupavam cargos na estatal.

“Há uma debandada de ex-diretores e ex-gerentes executivos para empresas que estão fazendo negociatas com a gestão atual da Petrobrás e adquirindo ativos da nossa empresa a preços muito mais baixos. Muito estranho tudo isso que está acontecendo e precisa ser investigado”, conclui Deyvid Bacelar.