Como fez em outros acidentes envolvendo empresas do setor privado, a imprensa menosprezou a cobertura do incêndio da Ultracargo, que durante oito longos dias consumiu 30 milhões de litros de gasolina e seis milhões de litros de álcool no Terminal de Alemoa, na Baixada Santista. Somente três dias após a primeira explosão é que os principais jornais do país passaram a dar algum destaque ao acidente.
Se fosse com a Petrobrás, a cobertura da mídia seria ininterrupta e os gestores (e o governo) jamais seriam poupados, como as TVs e os jornais fizeram com os empresários que controlam a Ultracargo. “Uma espécie de sonolência atingiu as redações”, critica o jornalista Luciano Martins, em artigo no Observatório da Imprensa. O fato é que a imprensa santista ficou cobrindo sozinha um dos maiores acidentes industriais do país, enquanto os ditos grandes veículos de comunicação “dormiam”.
Até o nome da empresa responsável pelo acidente, a Ultracargo, foi diversas vezes omitido pelas emissoras de TV durante a transmissão dos tanques pegando fogo, induzindo os telespectadores menos informados a confundirem as imagens com a Petrobrás. Aliás, dezenas de brigadistas de várias refinarias da estatal foram enviados a Alemoa para ajudar a controlar o incêndio, mas o fato passou batido pela imprensa.
Pouquíssimo destaque também foi dado pela mídia aos impactos ambientais causados pelo acidente e que, segundo especialistas, poderão durar pelo menos cinco anos, contaminando a flora e a fauna locais. Os primeiros efeitos atingiram em cheio a comunidade pesqueira da região: mais de sete toneladas de peixes mortosjá foram retirados dos manguezais de Cubatão.
Com a BW e a Chevron, a omissão foi a mesma
No grave acidente ocorrido na FPSO Cidade de São Mateus, em fevereiro deste ano, no Espírito Santo, nem mesmo o fato de 09 trabalhadores terem morrido atraiu os holofotes da mídia. Os jornais deram apenas notas sobre a explosão na plataforma da multinacional BW Offshore. Nenhum dos ditos grandes veículos de comunicação investigou as denúncias de insegurança feitas pela FUP e pelo Sindipetro-ES ou sequer ouviu os familiares das vítimas.
Em novembro de 2011, a complacência da mídia com a versão da Chevron sobre o vazamento de óleo no Campo de Frade também indignou os trabalhadores. Segundo a ANP, a multinacional cometeu 25 infrações ao perfurar um poço na Bacia de Campos, tentando alcançar a camada pré-sal sem autorização. Foram quase três meses de vazamento até o abandono total do poço. A ANP declarou que cerca de 3.700 barris de óleo vazaram para o oceano, mas especialistas que analisaram as fotos de satélite das manchas no alto mar alertaram que o volume teria sido até dez vezes superior a este. A imprensa apenas registrou o fato e sequer apurou com um pouco mais de rigor as infrações cometidas pela Chevron. O caso depois caiu no esquecimento e ficou o dito pelo não dito.
Fonte: FUP