“Hoje é dia de dizermos em alto e bom som: ‘ainda estamos aqui. Estamos aqui para dizer que estamos vivos e que a democracia está viva, ao contrário do que planejavam os golpistas de 8 de janeiro de 2023″, afirmou o presidente da República
[Com informações do Brasil 247/Edição da FUP]
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou na manhã desta quarta-feira (8) durante evento no Salão Nobre do Palácio do Planalto, em memória dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Em sua fala, Lula fez uma defesa contundente da democracia e criticou qualquer tentativa de ruptura com o regime democrático.
“Hoje é dia de dizermos em alto e bom som: ‘ainda estamos aqui. Estamos aqui para dizer que estamos vivos e que a democracia está viva, ao contrário do que planejavam os golpistas de 8 de janeiro de 2023. Estamos aqui, mulheres e homens, de diferentes origens, crenças, partidos e ideologias unidos por uma causa em comum, para dizer em alto e bom som: ‘ditadura nunca mais; democracia sempre’”, afirmou.
Lula afirmou que “se estamos aqui é porque a democracia venceu. Caso contrário, muitos de nós talvez estivéssemos presos, exilados ou mortos, como aconteceu no passado, e não permitiremos que aconteça outra vez. Se hoje podemos expressar livremente nossos pensamentos, ideias e desejos é porque a democracia venceu. Ao contrário, a única liberdade de expressão permitida seria a do ditador e de seus cúmplices, e usada para mentir, espalhar o ódio e incitar a violência contra quem pensa diferente”.
O presidente assinou o decreto que cria o Prêmio Eunice Paiva de Defesa da Democracia. Participaram da assinatura o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski; o advogado-geral da União, Jorge Messias; e dois netos de Eunice: Chico Rubens Paiva e João Francisco Paiva Avelino.
Eunice Paiva, que teve sua história contada no premiado filme “Ainda Estou Aqui”, é considerada um dos símbolos da luta contra a ditadura militar. A jurista, que se especializou na defesa dos direitos humanos, foi esposa do ex-deputado Rubens Paiva, torturado e assassinado pelos militares.
Em seu discuro, Lula falou sobre a liberdade de expressão, que na sua visão, seria atacada após o golpe. “Se hoje podemos contar histórias e ver as histórias livremente contadas nos cinemas, teatros, na música e na literatura é porque a democracia venceu. Caso contrário, a arte teria que ser submetida aos censores, que nos proibiram de ver, ouvir e ler tudo aquilo que julgassem subversivo. Hoje estamos aqui para garantir que ninguém seja morto ou desaparecido em razão da causa que defende. Estamos aqui em nome daquelas e daqueles que não podem mais estar. Estamos aqui em nome de todas as Marias, Clarices e Eunices”, afirmou, em referência ao filme “Ainda Estou Aqui”.
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A solenidade ocorreu após a reintegração ao acervo da Presidência da República de obras de arte que foram vandalizadas há dois anos. As peças passaram por um processo de restauro. Ao todo, foram entregues 21 obras.
O presidente Lula destacou o trabalho de recuperação de obras vandalizadas pelos golpistas durante os ataques. “Se essas obras de arte estão aqui de volta, restauradas com esmero por homens e mulheres que a elas dedicaram mais de 1,7 mil horas de suas vidas, é porque a democracia venceu. Caso contrário, estariam destruídas para sempre e tantas outras obras inestimáveis teriam o mesmo destino da tela de Di Cavalcanti, vítima do ódio daqueles que sabem que a arte e a cultura carregam a memória de um povo”, disse.
Também presente à cerimônia, o ministro do STF, Alexandre de Moraes, fez uma reflexão crítica sobre a postura do país em relação ao sentimento golpista em janeiro de 2023. “Todos nós achávamos que o golpismo, esse novo populismo digital extremista, tinha se dado por vencido. E nós erramos. Não estava vencido e não está vencido. 8 de janeiro demonstrou. Houve uma tentativa de golpe, uma tentativa de golpe filmada pelos próprios golpistas”, disse o ministro.
Ele reafirmou o compromisso do STF em combater qualquer forma de discurso de ódio, que, segundo ele, tem sido veiculado principalmente por meio das redes sociais. “O STF não vai permitir que as redes sociais continuem sendo instrumentalizadas dolosa e culposamente para discursos de ódio, nazismo, fascismos, racismo, misoginia e discursos antidemocráticos”, declarou.
Ao final da solenidade, o presidente Lula desceu a rampa do Planalto em direção ao público que o guardava na Praça dos Três Poderes, aos gritos de “sem anistia”, em referência ao clamor pela punição dos mentores e financiadores do 8 de janeiro. Os manifestantes realizaram um abraço simbílico em torno da palavra democracia, um ato público que contou com participação dos movimentos sociais e das centrais sindicais. A FUP esteve presente, representada pelo seu coordenador-geral, Deyvid Bacelar.