`Havia gente que queria que a Petrobrás desmilinguisse´. Leia a íntegra do que disse Lula no ato do dia 15/09

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No dia 15 de setembro, a FUP e seus sindicatos, junto com as centrais sindicais e os movimentos sociais, realizaram um grande ato público, em frente à sede da Petrobrás, no Rio de Janeiro, em defesa da empresa, do pré-sal e do Brasil. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve presente e, sob o sol escaldante do meio dia, falou aos  trabalhadores durante 22 minutos, com a mesma empolgação e descontração de quem conversa com companheiros de luta.

Leia abaixo a íntegra do pronunciamento de Lula, cujo vídeo pode ser acessado aqui.

O ato

Eu liguei pro Zé Maria (José Maria Rangel, coordenador da FUP) e procurei o Vagner (Vagner Freitas, presidente da CUT) pra que a gente fizesse um ato na Petrobrás, no dia 03 de outubro para comemorar os 63 anos de criação da nossa Petrobrás e eles me alertaram que o dia 03 de outubro estava muito próximo às eleições. Embora isso aqui não seja um ato partidário, porque aqui tem gente de muitos partidos políticos, a gente não quis fazer no dia 03 de outubro  e eu acatei a decisão de fazer na data que eles marcaram. Depois virou um ato pra gente defender a Petrobrás dos ataques que ela vem sofrendo e, depois do pré-sal.

Orgulho da camisa da Petrobrás

E então, resolvi que eu tinha que vir na porta da Petrobrás, pra discutir estes assuntos com vocês. Eu quero falar uma coisa de sentimento. Eu fiz questão de colocar essa camisa da Petrobrás. Eu fiz questão de colocar porque quando começa a acontecer algumas denúncias de corrupção dentro da Petrobrás, muitas pessoas que vestiam essa camisa com orgulho começam a ter vergonha de utilizar a camisa e ser confundido com alguém que praticou corrupção.

Eu falo na condição de presidente que mais visitou a Petrobrás no seu mandato. Eu falo na condição de um presidente que deve a muitos engenheiros da Petrobrás, a reconquista da indústria naval neste país, porque em 2002 o presidente da Petrobrás e a direção da Petrobrás naquela época diziam que eu estava mentindo quando eu dizia que nós tínhamos tecnologia pra recuperar a indústria naval brasileira. E a engenharia da Petrobrás mais o pessoal da indústria naval, eles provaram que o papel de um verdadeiro metalúrgico que trabalhava em estaleiro não era vender cerveja nas praias de Angra, mas sim trabalhar construindo navios para este país.

Portanto, eu quero dizer aos petroleiros que não tenham vergonha desta camisa, porque esta camisa deve orgulhar não apenas vocês, mas orgulhar o povo brasileiro, pelo que a Petrobrás significa para o Brasil. E os milhares e milhares de trabalhadores desta empresa não podem ser confundidos com alguém que por ventura possa ter cometido um erro qualquer. Se alguém praticou um erro, se alguém roubou, este alguém tem mais é que ser investigado, ser julgado e, se for culpado, tem que ir pra cadeia e o povo da Petrobrás tem que ter orgulho da sua camisa.

Pré-sal

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Em segundo lugar, companheiros e companheiras, eu lembro com orgulho, quando entraram na minha sala, num dia, mais ou menos três e meia ou quatro horas da tarde, o companheiro Estrela (Guilherme Estrella, ex-diretor da área de Exploração e Produção da Petrobrás) e o companheiro José Sérgio Gabrielli (ex-presidente da Petrobrás), com um monte de papel na mão, com mapas coloridos, pra me dizer que tinham encontrado o pré-sal.

Eu fui pra casa e, conversando com a Marisa (esposa de Lula), eu dizia: não é possível que eu tenha nascido com o negócio pra lua, não é possível. Porque foi na minha gestão que a gente conquistou a auto-suficiência e que nós anunciamos a maior descoberta de petróleo contemporâneo feita em todo planeta terra. Eu não acreditava que fosse possível a gente tirar petróleo de  sete mil metros de profundidade.

Eu fiquei extremamente preocupado que na hora que a sonda descesse, a gente poderia trazer um japonesinho, um coreano ou um chinês, ao invés de trazer petróleo e muita gente dizia: ô Lula, vocês estão discutindo este investimento estratégico do pré-sal, a Petrobrás não tem tecnologia ainda, vai ser muito difícil tirar esse petróleo.

Pois bem, para aqueles que diziam isso, é preciso a gente dizer que da data que nós descobrimos o pré-sal até agora, nós estamos tirando mais petróleo do que tiramos nos 31 anos de Petrobrás. Em apenas oito anos, nós já tiramos mais petróleo do pré-sal do que nos primeiros 31 anos da Petrobrás e eu fico pensando quem é que não quer que vá adiante este projeto estratégico da Petrobrás?

Quem joga contra a Petrobrás e o pré-sal

Quem é que não quer que a gente não cumpra a meta de chegar a quatro mil barris de petróleo em 2020?

Quem é que não quer que a gente construa as refinarias neste país, não apenas pra refinar o que nós precisamos, mas para exportar produtos com valor agregado e, não apenas óleo cru, como eles pensavam que nós íamos exportar?

Quem é que não gosta do fato de nós temos aprovado a partilha do petróleo do pré-sal para transformar essa riqueza numa riqueza do povo brasileiro?

Quem é que está incomodado da gente criar uma empresa pública e estatal pra tomar conta desse petróleo?

Quem é que está contra a gente ter aprovado 75% da destinação dos royalties para a educação deste país e 25% para a saúde?

Certamente não é nenhum trabalhador brasileiro, certamente não é nenhum petroleiro, certamente não é nenhum brasileiro que ama este país, porque o petróleo é o passaporte pro futuro deste país.

O petróleo é a coisa que mais pode dar garantia pra gente fazer no século 21 aquilo que a gente não conseguiu fazer no século 20. Imagina que sem petróleo (do pré-sal), a gente já tem filho de pedreiro se formando engenheiro, filho de empregada doméstica se formando médico. Outro dia lá em São Paulo, o filho do jardineiro do cemitério da Vila Formosa, estava fazendo relações exteriores, sendo diplomata.

Ora, se a gente conseguiu fazer isso sem o petróleo (do pré-sal), imagina o que a gente pode fazer quando a gente estiver tirando quatro mil barris de petróleo e exportando para o mundo inteiro?

Desenvolvimento

E não é apenas o petróleo, é a indústria petroquímica que vai subir por conta disso, é a indústria naval que parecia ser impossível e é só visitar os estaleiros do Rio pra ver que tinha metalúrgico habituado a ficar lixando casco de navio podre e hoje ele está fazendo navio novo pra levar petróleo e o que mais tiver pra fora.

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Havia gente que queria neste país, que a Petrobras desmilinguisse. Vocês estão lembrados que no governo deles, eles venderam praticamente 62% das ações da Petrobrás em oito anos e, na verdade, o que eles queriam, era entregar a Petrobrás. Graças a Deus, os trabalhadores, o movimento sindical, os movimentos sociais e os partidos de esquerda se mobilizaram e não deixaram. Eles não se conformam: por que no nosso governo e não no governo deles?

Eu fiz questão de pedir pro José Eduardo Dutra (ex-presidente da Petrobrás e atual diretor Corporativo e de Serviços da empresa) falar porque ele foi presidente da Petrobrás e quando ele entrou aqui tinha muita gente de cabeça baixa e hoje a gente precisa dizer aos companheiros da Petrobrás: levantem a cabeça, porque vocês são brasileiros e têm direito de ter a auto estima muito evoluída.

Nenhum petroleiro pode estar com a auto estima baixa. Nós temos razão de estar orgulhosos e se alguém um dia pensa em acabar com aquilo que a Petrobrás pode significar para este país, não vai ser já.

Marina Silva

Mas gente, se tem uma coisa que você não pode terceirizar é o cargo de Presidente da República, pois este cargo ou você assume ou não assume. Esse negócio de pedir pra cada um falar um pedacinho de coisa que vai acontecer nesse país, não dá certo. Afinal de contas, esse país é grande demais, não é uma colcha de retalho que pode ser subdividida com centenas e centenas de interesses.

Então, se eu fosse a candidata que faz oposição à Dilma, proibiria os seus economistas de falar, porque cada um que fala, fala mais bobagem do que o outro e ela vai acabar mostrando o que pode acontecer num programa de governo feito a quinhentas mãos, menos as dela.

Queridos companheiros e companheiras, eu não costumo falar mal de politico nas minhas candidaturas. Eu lembro de politico chamando o Sarney de tudo quanto é nome, eu lembro de politico na porta do Palácio do Planalto, na Alvorada, pra colocar denúncia de corrupção e eu não tenho coragem de fazer isso. Eu como não quero falar mal dos outros, eu só tenho que falar mal dos nossos próprios erros e falar bem da minha candidata.

Dilma Rousseff

E eu digo todo dia uma coisa, eu tenho 34 anos de partido político, tem gente que milita comigo desde quando a gente criou este partido. Eu tinha mais de trinta ministros, tinha gente com muita experiência e alguém há de perguntar: por que o Lula foi escolher exatamente a Dilma e não alguém ligado a ele historicamente?. E eu respondo: é porque eu não via a Presidência da República como um clube de amigos. Eu vi a Presidência da República como uma coisa muito séria e pra governar este país é preciso alguém que tenha pulso pra fazer as coisas acontecerem.

Economia

Eu de vez em quando vejo as pessoas fazerem críticas à Dilma porque o PIB não está crescendo. Agora, é importante lembrar que o PIB não tá crescendo o tanto que eu gostaria que crescesse e que a Dilma também gostaria. Mas pega os países do G20 e veja quantos PIBs estão crescendo mais do que o nosso. Pega a Europa e veja que a solução deles pra cuidar da crise foi colocar 62 milhões de postos de trabalho fechados, foi reduzir salários. Na Espanha e na Itália, mais de 50% da juventude está desempregada e neste país, no mesmo período, nós criamos 11 milhões de empregos de carteira assinada.

Inflação

Eu acho fantástico alguns especialistas escreverem nos jornais ou irem à televisão falar o seguinte: a inflação está fora do controle. Nós estamos há 11 anos mantendo a inflação dentro da meta. O que é a meta? Nós aprovamos que a meta seria 4,5%, podendo ser 2,5% a menos ou 2,5% a mais e a inflação está rigorosamente dentro da meta. A Dilma quer 4%? Quer. Ela quer 3%? Quer Ela quer 2%? Quer. Mas a gente não faz o que a gente quer, a gente faz quando as circunstâncias políticas permitem que a gente faça e nós estamos dentro de uma crise econômica mundial que eles não discutem.

A China crescia a 14%, agora está crescendo 7%. Os Estados Unidos até agora não recuperaram a sua economia. Ai como eles são vira latas, eles fala. Tem uma luz no fim do túnel, mas, essa luz nunca acende direito.

Mas aqui nesse país, nós estamos trabalhando com uma certeza e, aqui quem trabalhou como eu, dentro de uma fábrica nos anos 80, sabe que a inflação não era de 6% ao ano. Era de 80% ao mês. Eu lembro que eu trabalhava na Vilares e a gente saia da fábrica e a gente corria pra comprar no dia do salário tudo que não era perecível, porque se a gente colocasse o dinheiro em casa, ele desaparecia. Eu comprava papel higiênico e não usava, eu comprava óleo que não ia utilizar em dez anos, mas comprava pra inflação não comer meu salário.

O Brasil mudou

Agora vamos ser francos, companheiros, o que era o Brasil quando nós pegamos e o que é o Brasil de hoje? Eu vejo de vez em quando as pessoas atacarem a presidenta Dilma sem a sensatez de explicar como é que vão resolver. Eu fico vendo quando levei a Dilma no G20 no meu último ano de mandato e eu disse pra ela: ó Dilma, você vai participar da reunião do G20 com essa gente aqui e você pode ter certeza que eu conheço você muito bem e conheço eles muito bem e você, Dilma, é melhor do que eles. Portanto, você, Dilma, tem que utilizar a sua competência pra obriga-los a fazer as coisas que eles não fazem, porque quando a crise era no Brasil, nos anos 80, quando a crise era na Bolívia, no México, eles eram sabidos demais. Todo mundo dava palpite no Brasil como se a gente fosse um pote de água benta, onde todo mundo podia colocar o dedo. Depois que a crise chegou no país deles, eles não sabem nada, poderiam agora pedir uma opiniãozinha pra gente, que a gente ajudaria a reduzir parte dos problemas deles.

Recado aos trabalhadores da Petrobrás

É por isso, companheiros, que eu não queria deixar passar em branco o aniversário de 63 anos da Petrobrás. Essa empresa registrou nestes últimos anos 450 patentes. Essa empresa só conseguiu chegar ao pré-sal porque teve investimento em pesquisa. No tempo deles, a gente não acharia petróleo nem numa árvore quanto mais a 7.000 km de profundidade.

Então, queridos companheiros e companheiras, quem estiver errando, que pague o preço pelo erro, mas o que nós queremos é garantir a duzentos milhões de brasileiros que a Petrobrás continue sendo a nossa empresa. O petróleo é nosso, o pré-sal é nosso e ele vai garantir que nossa juventude tenha o que nós não conseguimos ter.

Então, eu queria pedir pra vocês (petroleiros) não vir aqui na Petrobrás só reivindicar salário… reivindicar salário é uma das coisas que vocês têm que fazer … agora, eu como sindicalista, acho que falta é um pouco de política nas nossas discussões… Em 11 anos, os trabalhadores receberam aumento real de salário no Brasil inteiro, em quase todas as categorias”.

Então, eu queria pedir pra vocês (sindicatos) colocarem um pouco de política na cabeça dos trabalhadores, porque a luta essencialmente economicista não leva a nada. A gente ganha aumento real de salário e ele desaparece no mês seguinte.

Graça (Maria das Graças Foster, presidente da Petrobrás), eu nem sei se você está me ouvindo, mas se estiver, saiba que não tem motivo algum para não andar de cabeça erguida. Companheiros engenheiros, companheiros faxineiros, companheiros terceirizados, nós temos que ter orgulho do que nós fizemos até agora e fazer mais daqui pra frente, porque o Brasil não vai regredir, o Brasil vai continuar avançando, pra desgraça dos nossos adversários.

Um abraço, companheiros e vamos agora dar um abraço à Petrobrás.