Sob o lema "Vida em primeiro lugar – A força da organização está na transformação popular…
Sob o lema "Vida em primeiro lugar – A força da organização está na transformação popular", as manifestações citaram a indignação dos trabalhadores contra os efeitos da crise econômica e as demissões, por emprego e melhores salários, pela manutenção dos direitos e pela sua ampliação, por Reforma Agrária e Reforma Urbana Já, em defesa dos nossos recursos naturais (O petróleo tem que ser nosso!), contra a corrupção e a impunidade e contra a criminalização da Pobreza e dos movimentos sociais foram os motes "oficiais" da mobilização. A estas bandeiras, várias outras foram agregadas em diferentes cidades.
Fortemente marcado pelo discurso religioso e o protagonismo de lideranças ligadas à ala progressista da igreja católica, o ponto de união em todas as manifestações populares desta 15ª edição do Grito foi a ênfase na questão ambiental.
Em São Paulo, o Grito dos Excluídos serviu para mostrar que existem pessoas inconformadas com atual situação do país, afirmou a coordenadora da romaria a pé, Célia Leme. A caminhada foi iniciada domingo, na Paróquia de Perus, e percorreu diversos pontos da capital paulista, até a missa realizada na manhã desta segunda-feira, na Catedral da Sé. Após o culto, os manifestantes caminharam até o Monumento do Ipiranga.
Segundo Célia Leme, o movimento é importante para "fazer ecoar que, apesar da aparente normalidade, tem gente que não está satisfeita com essa situação". Ela se refere tanto a problemas como a fome e a violência como aos recentes escândalos no Senado Federal.
"A questão da crise no Senado está pegando muito forte. Mexeu forte com a população e com a sociedade organizada", disse Célia.
No Rio de Janeiro, o Grito focou sua atenção no protesto contra a violência policial em comunidades carentes. Segundo o membro da comissão organizadora do Grito Leo Haua, integrante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), este é um momento único que precisa ser usado pelos movimentos sociais para denunciar as injustiças sociais.
“Há alguns anos vem se desenvolvendo uma crise econômica no estado e com isso também cresce a violência do estado contra quem mais sofre com essa crise: a juventude negra das favelas principalmente, os desempregados, os camelôs, que vem sendo criminalizados pelo sistema”, afirmou em entrevista à Agência Brasil.
Em Vitória, pela primeira vez, o movimento social, que geralmente encerra o desfile de 7 de setembro no Centro de Vitória, ocupou outro espaço e foi realizado no mesmo horário do desfile Cívico-Militar. O Grito dos Excluídos capixaba se voltou para a ética na política neste ano. Com o auxílio de um carro pipa, os manifestantes varreram e lavaram as escadarias do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Tribunal de Justiça (TJES) e Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales). Entre os assuntos alvos de críticas estavam a violência, a corrupção e a crise política do Senado.
Um dos coordenadores do movimento e da Pastoral da Arquidiocese de Vitória , Padre Kelder Figueira, destaca que a sociedade privilegia o lucro, os bens de consumo e a exploração do trabalho em detrimento da dignidade da vida do ser humano.
"A corrupção está associada à política e ao modelo econômico estabelecido, e as instituições que deveriam se dedicar ao bem comum legitimam a prática da defesa de interesses de pessoas e de determinados grupos. Por isso esse gesto simbólico de lavar as escadarias do Tribunal de Contas, de Justiça e da Assembleia Legislativa", afirma o padre.
"A gente veio gritar contra a violência da criança. Estamos denunciando todos os tipos de violência,como abuso sexual, violência psicológica e a pedofilia. Essa é uma forma da sociedade voltar os olhos para esses problemas e dentro da própria família acontece essa violência", denuncia a representante da Pastoral da Criança, Rosilene Castro.
Em Curitiba, a manifestação do Grito dos Excluídos reuniu cerca de 400 pessoas no aterro da Caximba. O local foi escolhido para o evento, segundo o militante da Assembleia Popular Pedro Carrano, porque o lixo e o modelo ideal de aterro foram, este ano, motivos de discussões em diversas comunidades locais. "É um problema que Curitiba está discutindo e que todas as cidades brasileiras terão de repensar. O Grito faz parte de uma reflexão nacional, por isso contamos com a participação popular", diz.
Este ano, o Grito contou com a participação do movimento estudantil, que pediu a abertura dos arquivos da ditadura militar. Além de falar do problema do lixo, os militantes abordaram ainda as lutas dos povos indígenas, a crise financeira internacional e o extermínio da juventude pela violência e as drogas.
Em Belém, o evento chamou a atenção para questões como a crise econômica e a violência na cidade.A caminhada começou às 8h, na rua São Domingos e seguiu por várias ruas do bairro, sempre com paradas em locais estratégicos como a delegacia, caixa d’água, posto de saúde e uma escola do bairro. Em cada parada, as cerca de duas mil e quinhentas pessoas fizeram uma explanação sobre os problemas recorrentes desses locais.
"O que chamamos atenção é que não adianta a polícia estar na rua, com viaturas, se não houver uma política de inclusão, que priorize a educação e a saúde, para que os jovens não se envolvam com o consumo e tráfico de drogas", disse um dos coordenadores da programação, Eraldo Rodrigues Júnior.
Os participantes também se posicionaram contra a privatização do serviço de água e esgoto da cidade. ‘Estamos questionando a privatização da água porque achamos que isso não vai trazer benefício para a população’, comenta.
Recife teve maior manifestação
Recife foi palco da maior manifestação desta 15ª edição do Grito dos Excluídos. Ao contrário e outras cidades, na capital pernambucana, os pedidos de "fora Sarney" e pelo fim do Senado foram feitos apenas por integrantes da central sindical Conlutas e dos partidos políticos PSTU e PSOL.
Cerca de 5 mil pessoas – representando mais de 50 entidades e movimentos sociais – participaram do Grito dos Excluídos, em Recife, que contou com um reforço de peso: o arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido.
Índios, representantes dos movimentos negros e gay e menores de rua engrossaram as fileiras da manifestação.
Segundo um dos organizadores do grupo, Jaime Amorim – que também é coordenador regional do MST – os movimentos sociais preferiram "não estreitar" o debate. Ele disse que com a exclusão social ainda existente no Brasil não dá para comemorar o Sete de Setembro mas sim "contestar" o modelo institucional brasileiro que está ultrapassado.
Na manifestação chamou a atenção um trio formado pelo "Presidente Lula", por "Barack Obama" e por um integrante com visual parecido com o de Lampião. Todos sob a bênção de um boneco gigante encarnando dom Helder Câmara, ex-arcebispo de Olinda e Recife, já falecido, e que marcou sua passagem na Arquidiocese pelo trabalho em defesa de perseguidos políticos e dos excluídos.