Greve na França segue mobilizando o país contra a reforma previdenciária

Os petroleiros aderiram à greve e fecharam 12 refinarias…





Vermelho

As paralisações no tráfego aéreo e no ferroviário da França na terça-feira (19), somadas ao fechamento de aproximadamente 20% dos postos de gasolina do país, marcam o início de uma nova greve geral convocada pelos sindicatos em protesto contra a reforma do sistema previdenciário, que, entre outras medidas, eleva a idade mínima da aposentadoria de 60 para 62 anos. Trata-se de uma jornada de protestos contra o endurecimento das regras das aposentadorias. 

A repressão policial aos protestos contra a elevação da idade da aposentadoria imposta pelo regime francês produziu cenas de guerra nas principais cidades francesas nesta quarta-feira (20). Em Paris e Marselha aconteceram atos de vandalismo, condenados pelos sindicatos, ao mesmo tempo que a polícia investia contra manifestantes pacíficos.

No centro da cidade de Lyon a polícia entrou em confronto com centenas de cidadãos, resultando em destruição de lojas e automóveis, além de dezenas de manifestantes presos e feridos. A polícia já deteve cerca de dois mil manifestantes, desde a semana passada.

Sem trégua após uma gigantesca greve de três milhões e meio de pessoas, realizada nesta segunda-feira, o desacordo entre os trabalhadores e o regime francês está longe do fim.

Os protestos e greves já afetam também os aeroportos. Segundo as autoridades aeroportuárias, metade dos voos previstos para esta terça-feira em Paris-Orly e cerca de 30% nos outros aeroportos franceses foram cancelados. Os controladores aéreos estão de braços cruzados, num dia crucial de mobilização dos sindicatos contra o novo regime de reformas.

A votação do projeto no Senado está prevista para esta quinta-feira (21), para a análise de 500 emendas. Estão programadas centenas de manifestações pelo país nesta semana.

Mas o presidente Nicolas Sarkozy já avisou que não vai recuar: "a reforma é essencial e a França está comprometida com isso e dará continuidade (à reforma), assim como fizeram nossos parceiros alemães", disse Sarkozy a jornalistas durante uma reunião em Deauville, no norte do país.

Onda de protestos

Nesta quinta-feira, 21, os protestos na França. atingem o oitavo dia O país enfrentou no dia 18 bloqueios e "operações escargot" de caminhoneiros, greve de ferroviários e manifestações de estudantes do nível médio. “Esperamos ser ouvidos pelo governo. Sabemos que uma reforma é necessária, mas queremos um plano mais equilibrado”, afirmou Mohammed Touis, da central sindical CFDT. O sábado (16) também foi marcado por mobilizações em todo o país.

O site do jornal "Le Figaro" estima que mais de 2.500 postos estejam sem combustível. De acordo com Alexandre de Benoist, delegado-geral da União dos Importadores Independentes de Petróleo (UIP), que administra cerca de 4.800 postos, entre mil e 1.500 estariam "quase ou totalmente a seco". Na rede Total, eram 650 de um total de 4 mil. Já os distribuidores independentes calculavam mil de 3.500 postos sem combustível.
Célula anticrise

O desabastecimento de combustível gerado pela adesão das refinarias à greve contra a reforma da Previdência — que irá à votação amanhã no Senado — obrigou o governo francês a criar uma “célula interministerial de crise”. Os ministros da Economia, do Interior, da Energia e da Ecologia integram a célula anticrise, que vai coordenar as tarefas dos diferentes serviços básicos do Estado para garantir o seu funcionamento. A situação mais emergencial é a dos combustíveis. Muitos motoristas encheram os tanques de seus carros nos últimos dias após as informações de que haveria desabastecimento em consequência da greve, que afeta 11 refinarias.

Com as 12 refinarias paradas e vários depósitos de combustível bloqueados, a França começou a recorrer a suas reservas emergenciais, que, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), são suficientes para 98 dias.

Sem combustível, sem vôos

A empresa Aeroportos de Paris (ADP) informou que alguns voos foram cancelados ou sofreram atrasos já na segunda-feira em Roissy-Charles de Gaulle, mas não divulgou números. Segundo a Air France, quatro voos de longa distância pararam para abastecer antes de chegar à França, a fim de assegurar que tivessem combustível para voltar.

O maior problema nos aeroportos começa nesta terça-feira. O sindicato Sud Aérien convocou uma greve geral para esta terça e uma operação "aeroportos mortos" para esta quarta-feira em Roissy, Orly e Toulouse. A Direção Geral da Aviação Civil (DGAC, que regula o setor) estima que o movimento em Orly caia à metade. Nos demais aeroportos, a redução prevista é de 30%.

TAM e Air France, as duas empresas com voos diretos entre França e Brasil, informaram nesta segunda-feira que não há previsão de cancelamentos. Mas a Air France ressaltou que pode haver atrasos nesta terça, devido à greve geral.

Pesquisa: 71% da população apoiam os grevistas

Se nesta terça-feira os sindicatos devem tomar as ruas, na segunda foi a vez dos estudantes de nível médio. Segundo o governo, houve paralisações em 261 liceus, ou 6% dos 4.302 existentes no país. Mas o sindicato da categoria afirma que 950 escolas de nível médio estão mobilizadas, 600 das quais não funcionaram nesta segunda-feira (18).

Em Bordeaux, 800 estudantes foram às ruas com slogans como "Sarko, sua reforma está podre". Segundo pesquisa publicada nesta segunda-feira pelo jornal "Le Parisien", 71% dos franceses apoiam os grevistas.

Trens

A Sociedade Nacional de Caminhos de Ferro (SNCF, na sigla em francês) anunciou nesta terça que, por enquanto, suas previsões estão sendo cumpridas. Para hoje, está prevista a circulação de 60% dos trens com saída ou destino a Paris, metade dos trens de alta velocidade (TGVs), 25% dos trens regionais e todos os Eurostar.

Estradas

Nas rodovias francesas, as ações de bloqueio começam a ser sentidas sobretudo nas estradas de acesso a Paris.

Escolas

Um terço dos professores primários também cruzará os braços, segundo os sindicatos, número que o Ministério da Educação reduz para 10%. Segundo o jornal “Le Monde”, 379 escolas estão fechadas, afetando 1.200 alunos. Além disso, cinco universidades se somarão à greve.

Correios

A greve também terá repercussão em La Poste – empresa pública de correios -, na France Télécom e no setor público audiovisual. As bancas amanheceram sem jornais.