Greve dos eletricitários completa 11 dias, com adesões em todo o Sistema Eletrobras

Foto: Divulgação/FNU

Iniciada no dia 17 de janeiro, quando os trabalhadores de Furnas, Cepel e Eletrobras interromperam suas atividades, a greve dos eletricitários segue mobilizando nacionalmente a categoria e fortalecendo a luta por direitos e contra a privatização do Sistema Eletrobras.

A paralisação, que já havia ampliado no dia 24 com a adesão dos empregados da Eletronorte e da Eletronuclear, ganhou reforço na quinta-feira (27), quando os eletricitários da Eletrosul se somaram ao movimento nos estados de Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Nesta sexta-feira, 28, os trabalhadores da Companhia Hidrelétrica do São Francisco, a Chesf, também aderiram à greve.

A categoria luta contra o desmonte do plano de saúde e o aumento das mensalidades, contra a retirada de direitos e por melhores condições de trabalho. A gestão da Eletrobras aumentou de 10% para 40% o valor das alíquotas do plano de saúde, com descontos nos contracheques dos trabalhadores. “O aumento, que começa a vigorar já a partir de fevereiro,  é parte do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), imposto à categoria, informa a Federação Nacional dos Urbanitários (FNU).

Os eletricitários denunciam ainda as escalas abusivas e a ausência de testes de Covid na empresa. A greve também é um protesto contra a privatização do Sistema Eletrobras, o que causará novos aumentos na conta de luz das famílias brasileiras, como apontam diversos estudos.

Após aprovação da MP 1031/21, que autorizou a privatização da estatal, o Coletivo Nacional dos Eletricitários tem atuado em várias frentes para impedir que o processo aconteça. Do outro lado, o governo Bolsonaro acelera os processos e atropela as instâncias de fiscalização e controle para entregar a empresa o mais rápido possível ao mercado especulativo, como alertam as entidades que integram a Plataforma Operária e Camponesa da Água e Energia (POCAE), da qual a FUP também faz parte. Entenda o que está em disputa e a importância de apoiar a greve dos eletricitários:

Eletrobras atropela o TCU com manobras para acelerar privatização

O processo de privatização está sob análise do TCU. Foi dividido em dias partes, e a primeira delas está em julgamento. Trata das garantias físicas dos empreendimentos que serão descotizados, aumentando estruturalmente o custo da conta de luz. A segunda diz respeito à  modelagem propriamente dita, ou seja, como viabilizar a emissão das ações ao mercado financeiro. Para isso, é preciso retirar Eletronuclear e Itaipu do grupo Eletrobras. O TCU ainda não começou a analisar essa segunda etapa. Mesmo assim, sem que o tribunal tenha tomado qualquer decisão sobre o assunto, a Eletrobras convocou Assembleia Geral Extraordinária para o dia 22 de fevereiro, com o objetivo de  aprovar a modelagem.

“O governo tenta acelerar o cronograma da venda da empresa, porque a avaliação é que isso precisa ocorrer ainda no primeiro semestre, devido ao calendário eleitoral. No entanto, acreditamos que podemos evitar o processo de privatização da Eletrobras, definitivamente. Para isso, precisamos de apoio de todos movimentos sociais, partidos e  parlamentares para denunciar o processo açodado e mal feito por parte dos agentes de mercado que hoje dirigem a empresa”, alertam os movimentos que integram a POCAE.

Em meio a esse processo — e devido a ele — a Eletrobras tem precarizado as relações de trabalho, sucateando e retirando direitos e conquistas de seus funcionários. Depois de alterar as regras do plano de saúde, previsto em ACT, após uma negociação conturbada e em que trabalhadores foram coagidos, em plena pandemia, a empresa acaba de retirar o atendimento à saúde. Isso no momento em que a Covid volta a atingir alto índices de contaminação.

Entenda os impactos da privatização do Sistema Eletrobras:

ITAIPU

Em 2023, vence o “anexo C” do tratado entre Brasil e Paraguai, sobre a hidrelétrica de Itaipu. Hoje, a energia produzida pela usina e que cabe ao Brasil é vendida a preço de custo, basicamente os custos de operação e manutenção e o custo financeiro do financiamento para a construção da obra. Essa energia é vendida em cotas que cada distribuidora tem obrigação de comprar.

Depois de 2023, a obra estará quitada, e a usina poderá continuar vendendo a energia pelo sistema de cotas, porém a um custo muito mais baixo, beneficiando o consumidor. Ou poderá ser vendida no mercado livre, gerando lucros fabulosos.

Apenas a parte brasileira da UHE Itaipu, vendendo energia a preço de mercado, geraria, no mínimo, uma receita de mais de R$ 7,3 bilhões anuais. Devido a essa indefinição sobre o acordo binacional de Itaipu, não é possível precificar a usina. Portanto, não se pode saber qual a indenização a ser paga à Eletrobras pela perda desse ativo

ELETRONUCLEAR

A lei 14.182 não prevê que a Eletrobras privada será sócia minoritária da Eletronuclear. O governo, porém, o governo está impondo essa condição para a  privatização da empresa. Em primeiro lugar, não se pode simplesmente direcionar a participação de uma determinada empresa privada na sociedade em uma estatal, como é o caso da Eletronuclear, sem que haja algum tipo de processo concorrencial, sob pena de infringir o princípio da impessoalidade e da moralidade.

Porque a Eletrobras privada deverá ser a sócia na Eletronuclear e não outra empresa privada qualquer?

Em segundo lugar, caso a Eletrobras privada queira, poderá abandonar a sociedade, deixando todo o programa nuclear brasileiro sem condições econômicas de sobrevivência, a não ser que conte com recursos do Orçamento.

Com a capitalização da Eletrobras, o futuro da Eletronuclear poderá sofrer forte impacto. Um dos grandes problemas é que a captação de recursos se dará pela Eletrobras, que deterá quase que 70% do capital da Eletronuclear. Há o risco de, ao ser privatizada, a Eletrobras se recuse a ficar com a Eletronuclear e não faça a captação dos pelo menos R$ 16 bilhões para terminar a UTN3, além de devolver à ENBPar pela bagatela de R$12,5 bilhões.

A futura corporation que o governo pretende criar com a venda da empresa teria duas opções:

1) Continuar a sociedade com a Eletronuclear, com a maioria das ações PN sem direito a votos, e levantar os R$ 16 bilhões para conclusão da UTN3;

2) Vender a Eletronuclear por R$12,5 bilhões para a ENBPar e não se comprometer com a captação de R$ 16 bilhões para a conclusão da UTN3.

Qual das duas tem maior probabilidade de ser a escolha da iniciativa privada?

Temos que ficar atentos com o risco que se criará para o futuro da energia nuclear no Brasil com a capitalização da Eletrobras, verificando  quem vai fazer os aportes futuros para a continuidade do programa nuclear, mesmo que a Eletronuclear gere lucros vultosos à partir de 2028 (8,6% a.a. ref. UTN3).

TCU

O governo e a direção da Eletrobras convocaram Assembleia Geral Extraordinária dos acionistas ara discutir as condições da privatização, sem que estas tenham sido avaliadas pelo TCU. O tribunal sequer emitiu acórdão sobre a primeira etapa do processo, do Valor Adicionado às Concessões, e ainda nem iniciou a análise da segunda etapa, da modelagem da privatização. Trata-se de uma manobra do governo, na tentativa de constranger a Corte a aprovar a privatização nos termos colocados na convocação da AGE — se houver qualquer modificação por parte do TCU, deverá ser convocada outra assembleia.

A convocação da AGE antes da conclusão da análise do TCU retira da Corte sua função de  guardiã do interesse público e a relega a mero órgão homologatório das decisões do Poder Executivo.

[Fonte: Plataforma Operária e Camponesa da Água e Energia/POCAE]