Rede Brasil Atual
A greve nacional dos bancários que começa amanhã (19), por tempo indeterminado, é responsabilidade dos bancos. A afirmação é da presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira, ao ser questionada se as paralisações de agências não prejudicam mais os clientes e usuários mais pobres, os que menos fazem transações bancárias via internet ou telefone.
“Há um mês os bancos vêm pressionando seus funcionários para que alcancem suas metas de vendas de produtos ‘antes de a greve começar’. Há mais de um mês estamos negociando uma pauta absolutamente realista e os bancos não nos ouvem. Não há preocupação com a saúde e as condições de trabalho dos funcionários e o reajuste proposto está muito abaixo de outros setores cujos resultados não chegam nem perto do setor financeiro”, explica Juvandia.
“Portanto, os bancos é que não respeitam seus funcionários e, consequentemente, desrespeitam a população. A greve é uma situação-limite. Se há semanas eles sabem que sua postura só pode legar à greve, e mesmo assim não mudam, então a responsabilidade é deles.” A categoria realiza assembleias de caráter organizativo nesta quarta-feira em todo o país. Na ausência de novas propostas, a greve está aprovada desde a semana passada.
De acordo com a presidenta do maior sindicato do país, enquanto as instituições financeiras resistem em melhorar os pisos salariais dos empregados, a renda dos executivos cresce. “Os ganhos dos executivos do Santander, por exemplo, subiram quase 40%.”
Proposta inferior
O Comando Nacional dos Bancários, que representa 500 mil trabalhadores, entregou pauta com as reivindicações no dia 30 de julho e, após quatro rodadas de negociação com a federação dos bancos (Fenaban), não houve proposta satisfatória de reajuste. Os bancos apresentaram 6,1%, o que repõe a inflação dos últimos 12 meses; a categoria cobra, além disso, 5% de aumento real.
Um estudo do Dieese com base nos balanços dos bancos demonstra que os seis maiores obtiveram no primeiro semestre de 2013 uma média de lucro líquido de R$ 62,5 mil por empregado, ante R$ 52,4 mil no mesmo período do ano passado. O aumento foi de 19,4%, resultado quase três vezes superior ao reajuste aplicado aos salários no ano passado, que foi de 7,5%. Em relação aos empregos, os bancos terminaram o primeiro semestre com média de 22,95 empregados por agência, queda de 5% sobre a média de 24,15 em 2012.
Os representantes dos bancos nas negociações, segundo os sindicatos, têm se recusado a discutir emprego e limites para os programas individuais de metas, o que pode agravar o nível de adoecimento entre os empregados do setor. O volume de notificações de doenças e afastamentos no INSS elevou o trabalho no sistema financeiro ao grau de risco 3, o mais elevado do sistema de seguridade social.
“Do ano passado para cá, as pressões por vendas aumentaram muito, e se isso não mudar o drama de quem sofre com as consequências do estresse e do assédio tenderá a piorar. Por isso, a questão da saúde e das condições de trabalho, como a injustiça salarial, também está empurrando as pessoas à greve”, avalia Juvandia.
Diante do impasse, assembleias feitas na semana passada em todo o Brasil deflagraram greve por tempo indeterminado a partir de amanhã. A expectativa do sindicato é que o movimento predomine nas agências nesta quinta – são 22 mil no país e 2.800 em São Paulo –, mas deve alcançar grandes concentrações, como departamentos administrativos, de tecnologia e de teleatendimento já a partir da sexta-feira.
Durante esse período, os caixas de autoatendimento vão continuar funcionando para atender à população. O Comando Nacional encaminhou notificações às instituições financeiras, em respeito à lei que assegura o direito de greve – e proíbe a dispensa de efetivos ou a contratação de substitutos durante a paralisação. “Esperamos que os bancos retomem as negociações o mais rápido possível, com reajuste compatível com a riqueza do setor. Só assim a greve vai acabar”, disse a presidenta do sindicato.