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Ativistas políticos que participaram da luta contra a ditadura no Brasil após o golpe militar de 1964 e foram presos por sua atuação contra o regime elogiaram o movimento que levou milhares de pessoas às ruas de várias cidades do país, mas apontaram para perigos que rondam o atual fenômeno, como a manipulação de suas reivindicações e a falta de um objetivo definido.
Para o advogado Aton Fon Filho, ex-membro da Ação Libertadora Nacional (ALN) e que permaneceu preso entre 1969 e 1979, o movimento começou com uma reivindicação concreta: a luta pela redução das tarifas de ônibus e a proposta de um sistema público de transporte.
“A causa começou como uma demanda objetiva, algo que faz sentido. Tenho dúvidas do rumo que o movimento vai tomar agora. De que outras forças capitalizem as manifestações e tragam novas palavras de ordem para os protestos”, refletiu.
Fon também apontou diferenças entre manifestações do passado e a atual:
“Na passeata dos cem mil (protesto popular contra a ditadura realizada no Rio de Janeiro em 1968), estávamos combatendo o regime militar. Em 1992, a população foi às ruas para derrubar o presidente Fernando Collor. E agora, o que se quer?”, ponderou Fon.
O ex-preso político afirmou que a classe média não tem uma bandeira definida e recordou o período anterior ao golpe militar, quando o governo de João Goulart foi derrubado em nome do combate à corrupção e à subversão.
“O que significa ser contra a corrupção? Todo mundo é. É uma luta que não vai ter fim, nunca se vai saber quando se venceu. A direita pode apresentar outras palavras de ordem ao movimento, genéricas e subjetivas, e mudar o caráter inicial dos protestos, transformado eles em algo contra o governo federal”, analisou.
Já Eliete Ferrer, organizadora do livro “68: a geração que queria mudar o mundo”, comemorou o fenômeno que tomou conta das ruas:
“Vejo com muito gosto esse movimento. Chegou a hora de fazer a diferença. Vejo isto como uma criança nascendo, se percebendo, que precisa ser orientada. É muito importante sair às ruas”, afirmou Eliete, que é organizadora do grupo Amigos de 68, fórum de discussão que reúne mais de 400 remanescentes da luta contra a ditadura.
Eliete, que precisou deixar o Brasil ao lado de companheiros de luta contra o regime, alertou para possíveis infiltrações dentro do atual movimento, o que teria a intenção de provocar a violência e desmoralizar a causa. Entre as diferenças entre as manifestações de hoje e a oposição à ditarura, apontou o surgimento das novas tecnologias:
“Isto é algo incrível. Os manifestantes hoje têm a internet, instrumento que não tínhamos. Além disso, existem celulares, filmadoras e câmeras de ruas que registram tudo”, comparou.
Pedro Alves Filho, que foi preso durante o regime militar e solto em troca da libertação do embaixador suíço Giovanni Bucher, acredita que as forças de segurança não mudaram da época do regime militar até hoje.
“A formação repressiva é a mesma, tudo passa pelo castigo e pela penalização”, criticou.
Além disso, Alves Filho acredita que falta uma liderança política no movimento: “os partidos devem levar suas mensagens, organizar os protestos e melhorar as reivindicações”.
O deputado-federal Alfredo Sirkis (PV-RJ), que participou da guerrilha urbana contra o regime militar e escreveu “Os carbonários”, livro sobre o período, também teceu diferenças entre os dois períodos.
“Naquela época, havia um grau de opressão muito maior, as forças de ordem utilizavam balas reais, e não de borracha. A luta era contra algo específico, a ditadura. Vejo esse momento mais parecido com o movimento de Maio de 68 na França, uma revolta difusa, com reivindicações não muito claras”, disse Sirkis.
Para o jornalista Alípio Freire, preso entre 1969 e 1974, não se deve criticar os jovens da atualidade ao compará-los com os da década de 60.
“Não são melhores, nem piores. Acredito que somos jovens dentro de um limite, de um contexto histórico. Não éramos iluminados, mas vivíamos em um ambiente altamente politizado. Hoje em dia, estamos em uma época menos inteligente socialmente”, analisou
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