Por Jailton Andrade, diretor do Sindipetro Bahia
Talvez a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis – ABICOM e a Confederação Nacional da Indústria – CNI não tenham percebido, mas os caminhoneiros brasileiros têm mais poder que os insurgentes do parlamento norte-americano.
Lá, Dow Química, BP, ExxonMobil, Facebook, Microsoft e Google, dentre outras, suspenderam financiamento de campanhas em resposta à tentativa de desconstituir a vitória de Joe Biden à presidência dos EUA. Na visão dos negocistas industriais, houve uma ameaça à transição democrática do poder.
O curioso é notar que as multinacionais, de um lado, querem o livre mercado sem interferências governamentais, do outro financiam planos de governo e, como é típico dos negocistas, querem lucrar com isso.
A Business Roundtable (BR), um colosso que reúne os presidentes das maiores empresas norte-americanas como Apple, Amazon, GM, Ford e Walmart, disse em nota que “o caos que se desenrola na capital do país é o resultado de esforços ilegais para reverter os resultados legítimos de uma eleição democrática”.
Naturalmente que o colosso do norte está menos preocupado com a democracia dos EUA e mais com seus negócios. As 181 empresas que compõem a BRT têm um faturamento anual de US$ 7 trilhões.
Muitas dessas megaempresas atuam no Brasil como Walmart, Johnson & Johnson e Paypal e nenhuma delas se insurgiu contra o ataque fatal à democracia brasileira no ano de 2016 e à eleição fraudulenta de 2018, este último episódio engendrado pelas redes sociais do Facebook Inc. O banimento de Trump do Twitter mostra o lado que o mercado escolheu.
Aqui em pindorama, os capitalistas nacionais (e os multinacionais que invadiram nossa economia pela CNI, IBP e pelo CADE) tencionam para aumentar, ainda mais, os preços de combustíveis, alegando que estão defasados em relação ao mercado externo.
Ignoram o fato de que, em 10 dias de greve no ano de 2018, os caminhoneiros derrubaram o presidente da maior empresa brasileira, a Petrobras. Esqueceram que o caos provocado pela greve dos caminhoneiros forçou a criação, em tempo recorde, da Lei nº 13.703, um acordo de frete mínimo que a CNI agora tenta desconstruir no STF alegando inconstitucional.
O ataque é sincronizado. De um lado a ABICOM, usando o CADE para viabilizar o que a gestão da Petrobras quer: garantir o PPI para aumentar sua margem de lucro; do outro a CNI tentando desvincular o futuro aumento dos combustíveis do aumento no valor do frete rodoviário.
Para completar o sadismo do lucro, entra o governo federal com o “BR do mar”, uma iniciativa que tenta retirar, o mais rápido possível, a força dos caminhoneiros incentivando a cabotagem. Enquanto isso o IBP, outra peça do quebra-cabeça representando a Chevron, Raízen, Shell e outras, tentam incluir no programa BR do mar, os navios-tanque, de onde também se beneficiarão.
Tanto a norte-americana Business Roundtable (BR) como o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) são associações de lobby, e se o nome “BR do mar” não for recado para o colosso estadunidense, será, no mínimo, um tapa na cara do caminhoneiro, se ele não parar no dia 1º de fevereiro.
É tudo tão sujo que a CNI e a FIESP já usam a saída da FORD do país como argumento para reduzir o “custo Brasil”, que inclui a redução do frete rodoviário.
O “reequilíbrio da matriz de transporte” pretendida pelo BR do mar é uma fraude à inteligência de mais de um milhão de caminhoneiros do país.
Tudo isso é carne e carnaval em fevereiro. É a paz da pessoa jurídica internacional num país sem caminhoneiro.
[Artigo publicado originalmente pelo Sindipetro-BA | Ilustração: Sindipetro-BA]