A FUP é uma das entidades que assinou o manifesto em defesa do MST e da democracia…
A solidariedade das entidades representativas da sociedade civil organizada, intelectuais e artistas, brasileiros e estrangeiros, ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) está mais uma vez expressa em um manifesto público lançado segunda-feira, 21, contra os novos ataques da direita na tentativa de criminalização deste que é um dos mais importantes movimentos de massa do país. Mais de duas mil pessoas já assinaram o manifesto, que pode ser acessado aqui.
A FUP, através de seu coodenador, João Antônio de Moraes, foi uma das primeiras entidades sindicais a expressar seu apoio incondicional à luta do MST e repudiar a CPI armada pela direita para tentar impedir a atualização dos índices de produtividade, conforme estabelece a Constituição.
Leia a seguir a nota pública do MST e o manifesto contra a criminalização ao movimento e em defesa da democracia:
Bastou realizarmos mais uma jornada de lutas – cobrando o cumprimento de uma pauta de reivindicações apresentada ao governo Lula ainda em 2005 – e exigirmos a atualização dos índices de produtividade agrícola, como estabelece a Constituição Federal, para que viesse a reação.
Os setores mais conservadores do Congresso e da sociedade, liderados pela senadora Kátia Abreu (DEM/TO), começaram a orquestrar uma nova ofensiva contra o MST. Na semana passada, os parlamentares ruralistas protocolaram mais uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) contra o MST – a terceira em menos de 5 anos. É exatamente uma represália à nossa ousadia de solicitar a atualização dos índices de produtividade agrícola, que poderá beneficiar os proprietários rurais que realmente produzem em nosso país.
Os que não produzem, certamente, aprovados os novos índices, terão dificuldades de acessar os recursos dos cofres públicos. Assim, os “modernos” defensores do agronegócio não apenas defendem uma agricultura atrasada, em defesa própria, como também expressam, mais uma vez, seu caráter anti-social e parasitário dos recursos públicos.
Os ruralistas, agora parlamentares, alegam que há uma malversação dos recursos públicos destinados à Reforma Agrária para justificar essa CPI. É um direito deles fazer esse questionamento e elogiamos a disposição de prezar pelos recursos públicos.
Mesmo sabendo que a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que a senadora Kátia Abreu preside, financiou a campanha eleitoral da senadora e até hoje não foi investigada. Mas se há problemas com esses recursos públicos, para que serve o Tribunal de Contas da União (TCU), subordinado ao Congresso Nacional, ou a Receita Federal?
Há a necessidade de criar uma nova CPI ou os objetivos são apenas imobilizar um movimento social e ocupar espaços na mídia para inibir a bandeira da Reforma Agrária? Parlamentares identificados ou coniventes com esses objetivos é que não faltam.
Mas se não nos faltam inimigos da Reforma Agrária, fortalecidos política e economicamente há cinco séculos pela existência do latifúndio, também não nos faltam solidariedade e apoio de incansáveis e valorosas lutadoras e lutadores da Reforma Agrária.
Abaixo, segue o texto do Manifesto. Assine-o e promova sua divulgação. Para assinar, entre em: http://www.petitiononline.com/manifmst/petition.html .
Secretaria Nacional do MST
Manifesto em defesa da Democracia e do MST
“…Legitimam-se não pela propriedade, mas pelo trabalho,
nesse mundo em que o trabalho está em extinção.
Legitimam-se porque fazem História,
num mundo que já proclamou o fim da História.
Esses homens e mulheres são um contra-senso
porque restituem à vida um sentido que se perdeu…”
(“Notícias dos sobreviventes”, Eldorado dos Carajás, 1996)
A reconstrução da democracia no Brasil tem exigido, há trinta anos, enormes sacrifícios dos trabalhadores. Desde a reconstrução de suas organizações, destruídas por duas décadas de repressão da ditadura militar, até a invenção de novas formas de movimentos e de lutas capazes de responder ao desafio de enfrentar uma das sociedades mais desiguais do mundo. Isto tem implicado, também, apresentar aos herdeiros da cultura escravocrata de cinco séculos, os trabalhadores da cidade e do campo como cidadãos e como participantes legítimos não apenas da produção da riqueza do País (como ocorreu desde sempre), mas igualmente como beneficiários da partilha da riqueza produzida.
O ódio das oligarquias rurais e urbanas não perde de vista um único dia, um desses novos instrumentos de organização e luta criados pelos trabalhadores brasileiros a partir de 1984: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. E esse Movimento paga diariamente com suor e sangue – como ocorreu há pouco no Rio Grande do Sul, por sua ousadia de questionar um dos pilares da desigualdade social no Brasil: o monopólio da terra. O gesto de levantar sua bandeira numa ocupação traduz-se numa frase simples de entender e, por isso, intolerável aos ouvidos dos senhores da terra e do agronegócio. Um País, onde 1% da população tem a propriedade de 46% do território, defendida por cercas, agentes do Estado e matadores de aluguel, não podemos considerar uma República. Menos ainda, uma democracia.
A Constituição de 1988 determina que os latifúndios improdutivos e terras usadas para a plantação de matérias primas para a produção de drogas, devem ser destinados à Reforma Agrária. Mas, desde a assinatura da nova Carta, os sucessivos Governos têm negligenciado o seu cumprimento. À ousadia dos trabalhadores rurais de garantir esses direitos conquistados na Constituição, pressionando as autoridades através de ocupações pacíficas, soma-se outra ousadia, igualmente intolerável para os senhores do grande capital do campo e das cidades: a disputa legítima e legal do Orçamento Público.
Em quarenta anos, desde a criação do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), cerca de um milhão de famílias rurais foram assentadas – mais da metade de 2003 pra cá. Para viabilizar a atividade econômica dessas famílias, para integrá-las ao processo produtivo de alimentos e divisas no novo ciclo de desenvolvimento, é necessário travar a disputa diária pelos investimentos públicos. Daí resulta o ódio dos ruralistas e outros setores do grande capital, habituados desde sempre ao acesso exclusivo aos créditos, subsídios e ao perdão periódico de suas dívidas.
O compromisso do Governo de rever os critérios de produtividade para a agricultura brasileira, responde a uma bandeira de quatro décadas de lutas dos movimentos dos trabalhadores do campo. Ao exigir a atualização desses índices, os trabalhadores do campo estão apenas exigindo o cumprimento da Constituição Federal, e que os avanços científicos e tecnológicos ocorridos nas últimas quatro décadas, sejam incorporados aos métodos de medir a produtividade agrícola do nosso País.
É contra essa bandeira que a bancada ruralista do Congresso Nacional reage, e ataca o MST. Como represália, buscam, mais uma vez, articular a formação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) contra o MST. Seria a terceira em cinco anos. Se a agricultura brasileira é tão moderna e produtiva – como alardeia o agronegócio, por que temem tanto a atualização desses índices?
E, por que não é criada uma única CPI para analisar os recursos públicos destinados às organizações da classe patronal rural? Uma CPI que desse conta, por exemplo, de responder a algumas perguntas, tão simples como: O que ocorreu ao longo desses quarenta anos no campo brasileiro em termos de ganho de produtividade? Quanto a sociedade brasileira investiu para que uma verdadeira revolução – do ponto de vista de incorporação de novas tecnologias – tornasse a agricultura brasileira capaz de alimentar nosso povo e se afirmar como uma das maiores exportadoras de alimentos? Quantos perdões da dívida agrícola foram oferecidos pelos cofres públicos aos grandes proprietários de terra, nesse período?
O ataque ao MST extrapola a luta pela Reforma Agrária. É um ataque contra os avanços democráticos conquistados na Constituição de 1988 – como o que estabelece a função social da propriedade agrícola – e contra os direitos imprescindíveis para a reconstrução democrática do nosso País. É, portanto, contra essa reconstrução democrática que se levantam as lideranças do agronegócio e seus aliados no campo e nas cidades. E isso é grave. E isso é uma ameaça não apenas contra os movimentos dos trabalhadores rurais e urbanos, como para toda a sociedade. É a própria reconstrução democrática do Brasil, que custou os esforços e mesmo a vida de muitos brasileiros, que está sendo posta em xeque. É a própria reconstrução democrática do Brasil, que está sendo violentada.
É por essa razão que se arma, hoje, uma nova ofensiva dos setores mais conservadores da sociedade contra o Movimento dos Sem Terra – seja no Congresso Nacional, seja nos monopólios de comunicação, seja nos lobbies de pressão em todas as esferas de Poder. Trata-se, assim, ainda uma vez, de criminalizar um movimento que se mantém como uma bandeira acesa, inquietando a consciência democrática do país: a nossa democracia só será digna desse nome, quando incorporar todos os brasileiros e lhes conferir, como cidadãos e cidadãs, o direito a participar da partilha da riqueza que produzem ao longo de suas vidas, com suas mãos, o seu talento, o seu amor pela pátria de todos nós.
Contra a criminalização do MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA!
Pelo cumprimento das normas constitucionais que definem as terras destinadas à Reforma Agrária!
Pela adoção imediata dos novos critérios de produtividade para fins de Reforma Agrária!
São Paulo, 21 de setembro de 2009
Plínio de Arruda Sampaio, presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária – ABRA, ex-Deputado Federal Constituinte pelo PT-SP (1985-1991) e ex-consultor da FAO
Osvaldo Russo, estatístico, ex-presidente do INCRA (1993-1994), diretor da ABRA e coordenador do núcleo agrário nacional do PT
Hamilton Pereira, o Pedro Tierra, 61, é poeta e membro do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo
Antônio Cândido, crítico literário, USP
Leandro Konder, filósofo, PUC-RJ
István Mészáros, Hungria, filósofo
Eduardo Galeano, Uruguai, escritor
Alípio Freire, escritor
Fábio Konder Comparato, jurista, USP e Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra
Fernando Morais, jornalista e escritor
Dr. Jacques Alfonsin, jurista, Porto Alegre
Altamiro Borges, PCdoB
Nilo Batista, jurista
Alberto Broch, Presidente da CONTAG
Artur Henrique, Presidente da CUT
Augusto Chagas, Presidente da UNE
Bartira Lima da Costa, Presidente da CONAM
Ivan Pinheiro, secretario geral do PCB
Ivan Valente, Deputador Federal PSOL/SP
José Antonio Moroni, diretor da ABONG e do INESC
José Maria de Almeida, CONLUTAS, presidente do PSTU
Nalu Faria, coordenadora geral da Sempreviva Organização Feminista – SOF e integrante da executiva nacional da Marcha Mundial das Mulheres.
Paulo Pereira da Silva, Deputado Federal PDT-SP e presidente da Força Sindical
Renato Rabelo, presidente do PcdoB
Renato Simões, Secretário de Movimentos Populares do PT
Roberto Amaral, ex-Ministro da Ciência e Tecnologia, Secretário Geral do PSB
Sérgio Miranda, PDT-MG
Valter Pomar, Secretário de Relações Internacionais do PT
Wagner Gomes, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB
Dom Ladislau Biernaski, Presidente da CPT
Dom Pedro Casaldáliga, Bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia – MT
Dom Tomás Balduino, conselheiro permanente da CPT
Frei Betto, escritor
Leonardo Boff, escritor
Reverendo Carlos Alberto Tomé da Silva, TSSF, Anglicano, Capelão Militar
Miguel Urbano, Portugal, jornalista
Anita Leocádia Prestes, historiadora, UFRJ
Beth Carvalho, sambista
Adriana Pacheco, Venezuela, ViveTV
Adelaide Gonçalves, historiadora, UFCE
Ana Esther Ceceña, UNAN
João Antonio Moraes, Federação Única dos Petroleiros – FUP
Associação Brasileira de ONG’s – ABONG
Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal (ABEEF)
Chico Diaz, ator
Cândido Grzybowski – IBASE
Comitè italiano de apoio ao Movimento Sem Terra (Amigos MST-Italia)
Antônio Carlos Spis, CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais)
Dora Martins, juíza de direito, e presidenta da Associação de Juízes pela Democracia
Emir Sader, sociólogo, LPP/UERJ
Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB)
Hamilton de Souza, jornalista, PUC-SP
Heloísa Fernandes, socióloga, USP e ENFF
Jose Arbex, jornalista, PUC-SP
Maria Rita Kehl, psicanalista, São Paulo
Osmar Prado, ator
Paulo Arantes, filósofo, USP e ENFF
Vandana Shiva, Índia, cientista
Virginia Fontes, historiadora, UFF/Fiocruz
Vito Gianotti, jornalista e historiador, Núcleo Piratininga de Comunicação – Rio de Janeiro
Lindberg Farias, prefeito de Nova Iguaçu (PT/RJ)
Chico Alencar, Deputado Federal (PSOL/RJ)