A edição de uma portaria (que ganhou o sugestivo número 666) pelo Ministério da Justiça provocou reações negativas em diversos setores, que identificam uma possível tentativa de retaliação de Sergio Moro contra o jornalista Glenn Greenwald, por causa das revelações que vêm sendo divulgadas pelo site The Intercept Brasil, em parceria com outros veículos. Entre as manifestações públicas, estão as da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
“A ABI considera inconstitucional e um abuso de poder a edição de medidas governamentais direcionadas a intimidar quem quer que seja, principalmente, na conjuntura atual, o jornalista norte-americano Glenn Greenwald, radicado no Brasil há 13 anos e diretor da publicação (Intercept)”, diz, em nota, o presidente da entidade, Paulo Jerônimo, que fala em tentativa de intimidação. A associação cita trecho da portaria que menciona deportação sumária de “pessoa perigosa ou que tenha praticado ato contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal”.
Na nota, a ABI diz que ainda que está acompanhando o caso “e tomará medidas, no campo judicial, caso a portaria seja usada para atingir Greenwald, em mais um caso de arbítrio e de atentado à liberdade de imprensa”.
No sábado, 27/07, o presidente Jair Bolsonaro, ao comentar o teor da portaria, afirmou: “Talvez pegue uma cana aqui no Brasil”, referindo-se ao editor do The Intercep Brasil.
Nesta segunda, 29, o presidente voltou a atacar o jornalista: “No meu entender, ele cometeu um crime porque em outro país ele estaria já numa outra situação. Espero que a Polícia Federal chegue, ligue realmente todos os pontos. No meu entender isso teve transações pecuniárias”, afirmou.
ATO NESTA TERÇA
Nesta terça-feira, às 18h30, a FUP estará presente ao ato convocado pela ABI em apoio ao jornalista Glenn Greenwald, que está sendo ameaçado pelo presidente Jair Bolsonaro e seu governo. O ato acontecerá no auditório do 9° andar de sua sede na Rua Araújo Porto Alegre 71, Centro, Rio de Janeiro.
Aniquila a independência da PF
Já o presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz, afirma que Moro “usa o cargo, aniquila a independência da Polícia Federal e ainda banca o chefe de quadrilha ao dizer que sabe das conversas de autoridades que não são investigadas”, segundo a colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo. Ele lembrou que a Ordem chegou a recomendar o afastamento de Moro assim que começou a divulgação de mensagens dele com procuradores da Operação Lava Jato.
“Muitos disseram que a OAB foi açodada quando sugeriu o afastamento do ministro, exata e exclusivamente para a preservação das investigações”, observou Santa Cruz.
[Com informações da Rede Brasil Atual]