Governo interino quer “colocar a companhia num lugar secundário no cenário de petróleo e gás e entregar nossas reservas ao capital multinacional”, diz José Maria Rangel, coordenador da entidade
A informação de que, agora presidida por Pedro Parente, a Petrobras está virtualmente paralisando as atividades de exploração de petróleo não é novidade para a Federação Única dos Petroleiros (FUP). “Para nós não tem novidade nenhuma. A empresa tem um diferencial em relação às outras grandes operadoras. Ela tem onde furar e onde achar. Coisa que as outras não têm. Neste momento, quando os equipamentos da área de petróleo e gás estão com os custos mais baixos, ela poderia estar incrementando a produção. Infelizmente, o caminho que Parente está tomando é o da redução de investimento e encolhimento da companhia. Esse é o tamanho que eles querem dar à Petrobras”, diz o coordenador da FUP, José Maria Rangel.
Apenas três poços da área de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos, estão sendo perfurados pela Petrobras hoje.
Rangel lembra que, na época em que o PSDB foi governo, a partir de 1994, já houve significativa redução na atividade de perfuração. “Quando o PT chegou no governo em 2003, o então presidente da companhia José Eduardo Dutra e o diretor de exploração e produção, Guilherme Estrela, tiveram que correr mundo afora para alugar sondas de perfuração. Agora estão apenas revivendo os anos 90”, afirma.
Para ele, a intenção da política de Parente é “colocar a Petrobras num lugar secundário no cenário de petróleo e gás e entregar nossas reservas ao capital multinacional”. “Se não há perfuração, você não acha petróleo. Se não acha, uma multinacional acaba comprando.”
Lava-Jato
Na próxima quinta-feira (25), a FUP, a Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM) e a CUT realizarão ato em frente ao estaleiro Mauá, em Niterói, com presença do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. O objetivo, diz Rangel, é levar ao conhecimento da população os efeitos nocivos da Operação Lava Jato no setor e o prejuízo causado aos trabalhadores.
“A partir do momento em que a Lava Jato paralisou a Petrobras e as grandes construtoras do país, ela estrangulou o setor de petróleo e gás, que já chegou a corresponder a 13% do PIB nacional.” A cadeia do setor gera empregos diretos e indiretos e abrange prestadores de serviço, metalúrgicos, comércio, entre outros. “Em Niterói, a indústria naval está toda demitindo, porque não tem mais obra”, diz Rangel.
Na convocatória do ato de quinta-feira, as entidades afirmam: “É preciso investigar e punir sem discriminação todos os empresários e políticos que praticam os crimes de corrupção que sangram há décadas o nosso país. Mas é inaceitável que essa conta seja imposta também à classe trabalhadora”.
De acordo com avaliação dos petroleiros, a crise política e econômica já desempregou 1,5 milhão de pessoas desde o início da Lava Jato. “O IBGE calcula o desemprego hoje em 11 milhões de trabalhadores. Desses, 1,5 milhão é de alguma atividade ligada à área de petróleo e gás”, calcula o coordenador da FUP.
Fora todos os problemas causados pela Lava Jato, a venda de ativos ameaça a estatal. No dia 28 de julho, foi anunciada a venda do campo de Carcará (a 230 km do litoral paulista) pela Petrobras para a norueguesa Statoil.
A Federação Brasileira de Geólogos (Febrageo) entrou na Justiça para tentar reverter a negócio. A Petrobras vendeu sua participação de 66% no campo na Bacia de Santos por US$ 2,5 bilhões. Dias depois do anúncio, a Febrageo emitiu nota oficial acusando a venda de “crime de lesa-pátria”. Segundo o presidente da Febrageo, João Cézar de Freitas Pinheiro, os conhecimentos existentes sobre o campo indicam que ele pode valer até “dez vezes mais”.
A FUP também está preparando uma ação no mesmo sentido “de barrar essa entrega” do campo de Carcará, diz Rangel.
Fonte: Rede Brasil Atual