FUP lamenta morte da médica Margarida Barreto, pioneira em pesquisas sobre assédio moral e sexual no trabalho

A Federação Única dos Petroleiros (FUP) e seus sindicatos filiados lamentam profundamente o falecimento da médica, professora e pesquisadora Margarida Maria Silveira Barreto, ocorrido nesta quinta-feira (3), em consequência de um câncer no estômago. Muito querida e respeitada nos meio sindical e acadêmico por seus estudos e pesquisas pioneiras sobre assédio moral e sexual no trabalho, Guida, como era conhecida, foi professora do curso de Pós-graduação em Medicina do Trabalho da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, doutora em Psicologia Social e integrou como pesquisadora o Núcleo de Estudos Psicossociais de Exclusão e Inclusão Social da PUC-SP.

Com seus trabalhos, contribuiu enormemente com as pautas sindicais de combate às diversas formas de assédio que as trabalhadoras e os trabalhadores enfrentam. Guida dedicou grande parte de sua vida às pesquisas sobre saúde dos trabalhadores, principalmente os impactos relacionados à saúde mental e violência nas relações de trabalho. Para ela, o descaso com a saúde do trabalhador é comparável a um “homicídio culposo corporativo”.

Em sua caminhada pela promoção e proteção da saúde da classe trabalhadora, Margarida participou de diversas atividades organizadas e realizadas pela CUT e entidades filiadas, trazendo o debate do assédio, em especial o assédio sexual sofrido pelas mulheres. Foi assessora no sindicato dos químicos de São Paulo, estudando e pesquisando sobre o tema.

Em abril do ano passado, Guida Barreto participou da jornada de formação do Sindicato dos Trabalhadores da Justiça Federal do Rio Grande do Sul (Sintrajuf/RS), que teve como tema “A saúde dos trabalhadores e das trabalhadoras ameaçada: trabalhar sim, adoecer não”. Em sua apresentação sobre como prevenir e enfrentar o assédio moral e sexual no trabalho, ela disse que, para compreender o contexto da violência nos ambientes de trabalho, é preciso lembrar que o Brasil é uma sociedade patriarcal, um dos países mais desiguais do planeta e que preserva estruturas oriundas de um sistema escravocrata.

A médica destacou que o autoritarismo está presente em todas as categorias profissionais e que é ainda mais nítido quando se analisa os recortes de gênero, raça e divisão sexual do trabalho. Segundo suas pesquisas, mais de 50% das mulheres trabalhadoras relatam situações de humilhação e assédio. Ela lembrou que a pandemia agravou ainda mais esse quadro: “Nunca pensei que dentro de uma pandemia teríamos essa situação de violência no trabalho acentuada”, afirmou (veja abaixo o vídeo).

Margarida Barreto deixa uma contribuição fundamental para as lutas em defesa da saúde e da emancipação da classe trabalhadora. Um legado fundamental para as entidades sindicais e a organização dos trabalhadores. Como afirmou em uma de suas últimas palestras,  “a violência no trabalho está intimamente ligada à organização do Estado, tanto no âmbito privado quanto no público, e é preciso romper esse silêncio institucional”.

Margarida Barreto, presente!

[FUP, com informações da CUT e do Sitrajufe/RS]