Pela primeira vez, os trabalhadores terão a chance de construir ações concretas que possam apontar para uma nova realidade, sem tragédias anunciadas e com respeito à vida
Imprensa da FUP
Pela primeira vez, o presidente da Petrobrás e os diretores da empresa reuniram-se com a FUP e seus sindicatos para ouvirem críticas, denúncias e propostas em relação às práticas e gestão de SMS. Com um ano de atraso, o Fórum Nacional de Práticas de SMS foi realizado no último dia 06, em cumprimento ao que foi acordado com a categoria, em setembro passado, na última campanha reivindicatória. Ao longo deste período, mais 17 trabalhadores perderam a vida em acidentes e centenas de outros companheiros viveram situações de risco eminente, sofreram lesões e problemas de saúde relacionados ao ambiente de trabalho. Ainda assim, foram preciso oito mortes em agosto e diversas mobilizações da categoria, para que a direção da Petrobrás finalmente priorizasse em sua agenda o Fórum de SMS.
Apesar do curto tempo da reunião (apenas 3 horas), a FUP e seus sindicatos desmistificaram os dados e indicadores do “SMS-de-papel”, que gasta fábulas de dinheiro em marketing, mas cujas práticas de gestão são marcadas pelo autoritarismo, subnotificação de acidentes, terceirização de riscos e punição para os trabalhadores que lutam pela segurança. Os dirigentes sindicais cobraram responsabilidade dos gestores pelas mais de 300 mortes ocorridas nas unidades da empresa e ações incisivas para evitar novas vítimas. As propostas da FUP foram apresentadas em meio aos nomes dos petroleiros que tiveram suas vidas ceifadas nos últimos anos, apesar de todos os alertas e denúncias do movimento sindical.
“Subnotificação é motivo de justa causa”
Refletindo o pensamento da maior parte dos gestores da Petrobrás, o presidente José Sérgio Gabrielli defendeu os “avanços” da empresa na recomposição dos efetivos e nas práticas de SMS, bem como o “rigor” na contratação de serviços. Disse que não acredita que haja subnotificação de acidentes e que, se houver, deve ser “motivo de demissão por justa causa”. Além disso, trouxe novamente à tona o ultrapassado conceito de ato inseguro, ao afirmar que os acidentes acontecem por “falta de disciplina operacional”. Ou seja, a culpa é do trabalhador. Reflexo claro de como atua o corpo gerencial da Petrobrás. Os mesmos que tentaram implantar anos atrás o famigerado GDP-SO e foram derrotados pelos trabalhadores.
Diagnosticar o SMS e frear as mortes
As propostas apresentadas pela FUP foram ouvidas e discutidas pelo presidente José Sérgio Gabrielli, que concordou com a criação de uma comissão paritária (com representantes da Petrobrás e do movimento sindical) para tecer um diagnóstico sobre as práticas de SMS. O grupo terá prazo de até 90 dias para concluir o trabalho e apresentará o resultado ao presidente da empresa, diretoria, gerentes executivos de SMS e RH e dirigentes da FUP e dos Sindicatos, os mesmos que participaram do primeiro Fórum. Gabrielli também concordou com algumas propostas da FUP para ampliar a participação e atuação dos trabalhadores nas CIPAs e propôs uma auditoria para levantar se há subnotificações de acidentes com e sem afastamento.
A FUP apresentará os nomes de seus representantes para a Comissão e focará sua ação nos principais eixos: denúncia dos desvios das diretrizes e procedimentos de SMS, fim das subnotificações de acidentes, fortalecimento das CIPAs e construção de propostas para garantir condições dignas e seguras de trabalho que evitem novas mortes. Mesmo revelando o pensamento conservador e arrogante da diretoria em relação ao SMS, o Fórum foi um espaço importante conquistado pela categoria. Pela primeira vez, os trabalhadores terão a chance de construir ações concretas que possam apontar para uma nova realidade, sem tragédias anunciadas e com respeito à vida.
Essa luta, no entanto, vai muito além de qualquer fórum de negociação com a Petrobrás. Ela se trava no dia a dia, no enfrentamento aos gerentes que teimam em subnotificar acidentes e atropelar as normas de segurança para fazer valer suas metas de produção. Mais do que nunca, os trabalhadores precisam estar organizados, unidos e certos de que lado estão nesta disputa.