A CUT já nasceu combatendo a ditadura, apoiou a instalação da CNV e aprovou no 14º CONCUT a instalação de sua Comissão Nacional Memória, Verdade e Justiça, a primeira no âmbito das Centrais Sindicais.
Estes são alguns dos temas tratados nesta entrevista que Expedito Solaney, secretário nacional de Políticas Sociais da CUT, deu ao Página 13. O dirigente sindical é coordenador da Comissão Nacional Memória, Verdade e Justiça da CUT e, também, representante da Central no GT dos Trabalhadores junto a Comissão Nacional da Verdade.
Qual o papel da Comissão Nacional Memória, Verdade e Justiça da CUT?
A rigor o CONCUT aprovou uma comissão de acompanhamento aos trabalhos da CNV, depois vimos que era insuficiente. A CUT não podia deixar de instalar sua comissão e resgatar a história dos sindicatos e dirigentes cutistas, trabalhadores e trabalhadoras de base que sofreram com o golpe e os 21 anos da ditadura, de levantar dados, fatos, ouvir depoimentos. E a partir do que colhemos com os trabalhos da Comissão, apresentar um relatório e editar um livro, pensamos também em um documentário. Agora, sobretudo denunciar os crimes de lesa humanidade, as violações. Fazer um grande movimento para a punição dos agentes que em nome do Estado cometeram tais crimes; fazer as reparações materiais, pedir desculpa às famílias dos mortos e desaparecidos. Temos também o compromisso e realizar atos que possam trazer para a classe trabalhadora e a juventude mais informações sobre o período de 1964 a 1985 no Brasil, levando em conta os onze pontos que orientam os trabalhos do GT (http://www.cnv.gov.br/index.php/2012-05-22-18-30-05/veja-todos-os-grupos-de-trabalho/271-ditadura-e-repressao-aos-trabalhadores-e-ao-movimento-sindical). O relatório do GT deve ser entregue para a CNV até outubro de 2014, para que seja anexado ao relatório final da CNV previsto para ser divulgado em novembro próximo.
O que foi a Ditadura na visão da classe trabalhadora?
Os trabalhadores, as trabalhadoras e o movimento sindical foram os principais alvos do golpe em 64. Durante os 21 anos de ditadura no Brasil, centenas de sindicatos sofreram intervenção, os interventores nomeados pelos militares não tinham qualquer relação como à luta de classe, com os trabalhadores, eram os conhecidos pelegos, que além de dilapidarem o patrimônio físico dos sindicatos tinham relações de subserviência com os patrões e com o governo militar. No período anterior ao golpe o movimento sindical vinha num ascenso de lutas. A dívida externa, a inflação alta, o arrocho salarial e o desemprego deixado por JK levaram os trabalhadores a greves, manifestações, ocupações de terra e um intenso debate ideológico e cultural pela reforma agrária, contra o imperialismo e por mais democracia. O Comando Geral dos Trabalhadores e as Ligas Camponesas tinham lugar na luta e força suficiente para pensar um Brasil sem concentração de terra e riqueza. As universidades iniciando um processo de produção acadêmica, a cultura, o planejamento urbano. O golpe de 64 veio reprimir tudo isto, interrompendo o avanço da classe trabalhadora, da sociedade do Brasil como um todo. Neste sentido, o relatório da CNV e suas recomendações, assim como o relatório do GT e da comissão da CUT vem para resgatar a memória histórica, mostrar para a juventude trabalhadora o quão trágico foi para o Brasil o Golpe militar e os 21 anos de ditadura.
Que mais é importante ser lembrado?
O Golpe atingiu centralmente a classe trabalhadora e suas organizações. Era essa a base principal de sustentação do governo João Goulart, por isso que ainda hoje se fala em governo de sindicalista, parece que já ouvimos isso há poucos anos atrás quando Lula era presidente da República. E sem dúvida no governo Lula a classe trabalhadora teve outro tratamento, geração de empregos com melhoria dos salários.
O golpe militar de 64 atrasou o Brasil não só nos seus 21 anos de vigência, é muito mais que isso. A redemocratização foi uma pulha, passaram-se 28 anos para que o Brasil instalasse sua Comissão Nacional da Verdade. Não fomos capazes de até agora de punir nenhum agente que em nome do Estado matou, torturou, ocultou cadáveres. Pagamos caro por isso. Temos uma polícia que mata e tortura em nome do estado ainda hoje. Por isso que a CNV tem uma tarefa histórica, recomendar que a justiça puna todos os militares que cometeram crimes de lesa humanidade e que isso nunca mais aconteça.