Fechamento da Unidade 6 da RLAM encolhe parque de refino baiano

 

A Refinaria Landulpho-Alves (RLAM), localizada na cidade de São Francisco do Conde, região metropolitana de Salvador, a primeira refinaria do Sistema Petrobrás, inaugurada em 1950, e segunda maior refinaria do país em capacidade de processamento, é um dos oito ativos na área do refino colocados à venda pela direção da estatal.

Embora ainda não tenha sido vendida, a Petrobras já tem efetuado mudanças operacionais na RLAM preparando esse processo de venda.

Segundo informações obtidas pelo Sindipetro através do CEPPETRO-NEC-UFBA, a Petrobras já colocou em andamento medidas visando fechar uma unidade de craqueamento, a U-6, que produz, entre outros derivados, gasolina e gás liquefeito de petróleo (GLP).

“Essa movimentação da direção da estatal coloca em dúvida o que a própria empresa vem afirmando à sociedade,  de que a produção de derivados na Bahia não seria afetada com a venda da RLAM. Ao que tudo indica a venda trará o encolhimento da capacidade de refino da refinaria de Mataripe”, alerta o diretor do Sindipetro Bahia e funcionário da RLAM, Attila Barbosa.

A U-6 completou 60 anos de produção em fevereiro e produz, com baixo custo operacional, a melhor gasolina do país, que, inclusive, era utilizada na Fórmula 1. Em 2014, no auge da sua produção, a Unidade alcançava uma lucratividade de cerca de R$ 800 mil por dia, portanto, uma unidade viável e estratégica.

Desde que adotou a política de paridade de preços dos seus derivados em relação ao mercado internacional,  seguindo os preços do dólar e do barril de petróleo (que começou no governo Temer) , houve  uma grande redução da carga processada nas refinarias e aumento do volume de importação. O que significa que a RLAM tem produzido, a cada ano, um volume menor de derivados em relação à sua capacidade máxima. A consequência foi um aumento significativo nos custos da gasolina, gás de cozinha  e do óleo diesel.

Para os pesquisadores do CEPPETRO-NEC-UFBA,  a dúvida que permanece é se o fechamento da U-6 é somente a materialização da estratégia da Petrobras de subutilizar seu parque de refino ou se já seria uma espécie de uma “estratégia casada” com futuros compradores que podem estar interessados no processamento de derivados mais pesados, como óleo combustível, e portanto teriam menos “apetite” para gerir as unidades de craqueamento da RLAM.

Os pesquisadores acreditam que “se essa decisão estiver relacionada ao primeiro motivo, é curioso porque a Petrobras tem sinalizado que seu objetivo é manter a operação das unidades com a geração de maior agregado. Nesse sentido, a preservação das unidades de craqueamento é fundamental”, afirmam.

Seja por um motivo ou pelo outro, o fato é que o fechamento da U-6 significa, ao contrário do que apregoado por especialistas e pelo governo, uma redução do parque de refino da Bahia e, consequentemente, uma queda na capacidade de produção de derivados. Ao que parece a venda da RLAM terá, de fato, um aumento da capacidade de uso da refinaria, mas não pelo aumento da produção de derivados e sim pelo encolhimento operacional do refino baiano.

Capacidade de produção

Atualmente, a RLAM tem uma capacidade de produzir 377.388 barris de derivados de petróleo por dia, sendo 67.776 barris de gasolina e 22.435 de GLP.

Nos últimos cinco anos, a Petrobras tem reduzido progressivamente o fator de utilização (FUT) da refinaria, o que significa que a RLAM tem produzido, a cada ano, um volume menor de derivados em relação à sua capacidade máxima.

Em 2014, a RLAM produziu 302.403 barris de derivados de petróleo, valor que caiu abruptamente até 2017, quando a produção chegou a 204.338 barris por dia. Nos últimos dois anos, a produção oscilou na faixa de 205 a 210 mil barris de derivados.

Com efeito, o FUT saiu de 80% em 2014 para 55% em 2019, segundo dados da ANP. Quando se analisa a situação dos derivados produzidos pela U-6, principalmente do GLP, o cenário é ainda mais alarmante.

A ociosidade do GLP (a capacidade de produção é em torno de 23 mil barris por dia) tem sido ainda maior que dos demais derivados. A produção de GLP saiu de 14.054 barris por dia em 2014 para 10.125 em 2019, uma queda de 28%. Tendo em vista que a capacidade de produzir GLP da RLAM é de 22.435 barris por dia, o FUT do GLP caiu de 63% para 45% nos últimos cinco anos, o que significa dizer que a Petrobras está utilizando menos de metade da sua capacidade de produzir GLP.

Via Sindipetro Bahia