Cerca de 800 trabalhadores demitidos pelo Consórcio UFN3, responsável pela construção da Fafen (Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados) da Petrobrás, que fica em Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, interditaram na madrugada desta sexta-feira (05.12) a BR-158, rodovia que liga o município a Brasilândia, em frente ao canteiro de obras da unidade. No começo da manhã, um grupo aproximado de 150 operários bloqueou a BR-262, que faz divisa com o Estado de São Paulo, em frente à sede da UFN3. Os manifestantes cobram o pagamento da rescisão contratual e dos salários atrasados.
O Consórcio, formado pela Galvão Engenharia e pela empresa chinesa Sinopec, paralisou a obra, demitiu mais de 4 mil trabalhadores, sendo 2 mil desligamentos só no mês de novembro, deixando parte deles sem pagamento, e acumula uma dívida milionária com fornecedores de Três Lagoas e região. Sem dinheiro e sem esclarecimentos, os terceirizados da Fafen se revoltaram e decidiram fazer o protesto.
Há dias, eles tentam negociar com o consórcio, sem sucesso. “Os trabalhadores querem dinheiro para ir embora da cidade e saber quando receberão o pagamento da rescisão, mas ninguém se posiciona, nem consórcio e nem Petrobrás”, afirmou a assessoria de imprensa do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil Leve de Três Lagoas e Região (Sintricom-MS).
Segundo a assessoria, o sindicato também está de mãos atadas, sem saber a quem recorrer. “Estamos acompanhando todos os acontecimentos, mas também não temos informação. Falamos com o gerente do consórcio, Márcio Saad, e ele disse que não sabe quando os trabalhadores vão receber”, declarou.
O cenário é desolador, principalmente para os trabalhadores. “Queremos ir embora para a nossa casa e não podemos porque não temos dinheiro e nossas famílias também estão passando necessidade. Já tentamos negociar com o consórcio e procuramos as autoridades de Três Lagoas, mas ninguém nos ajuda”, lamentou um dos demitidos, que não quis se identificar com medo de represálias.
Outro manifestante, que também não quis dizer o nome, contou que os trabalhadores tentaram negociar. “Demos três votos de confiança (ao consórcio), mas eles não cumpriram nenhum acordo. Queremos receber nosso dinheiro já, negociação não adianta mais”, destacou.
Manifestação já era anunciada
Há dias, os trabalhadores do Consórcio UFN3 já demonstravam revolta com a situação que enfrentam em Três Lagoas e ameaçavam fazer uma manifestação. O Perfil News, site de notícias da cidade, chegou a receber uma mensagem em que a pessoa, que se diz trabalhador do Consórcio, alerta para “a possibilidade de os revoltosos promoverem um quebra-quebra no comodato e atearem fogo no local. E mais: essa situação pode vir para a cidade, com os trabalhadores invadindo a área urbana de Três Lagoas”.
O drama vivido pelos demitidos preocupa o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil Pesada (Sintiespav), Nivaldo Moreira. “Podemos ter um Natal de preocupações, pois os demitidos, sem dinheiro e sem condições de voltar para suas terras, podem se revoltar e colocar a cidade em polvorosa”, comentou ele, em entrevista ao site de notícias.
Unificado pede esclarecimentos à Petrobrás
A direção do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro Unificado-SP), entidade que representa os trabalhadores da Petrobrás na Fafen, enviou ontem (04.12) um ofício à gerência de Gás e Energia da Petrobrás, solicitando uma reunião para esclarecimentos sobre a situação da Fafen, em Três Lagoas-MS. Os dirigentes sindicais querem saber também como se dará a mudança dos trabalhadores próprios para outras unidades e negociar os critérios para a transferência.
Além das demissões dos terceirizados, devido à paralisação das obras de construção da fábrica, a Petrobrás anunciou a transferência da maioria dos trabalhadores próprios para outras unidades. O Consórcio UFN3 alega falta de dinheiro e acumula, segundo a imprensa local de Três Lagoas, mais de R$ 90 milhões em dívidas com fornecedores.
Por causa do calote, de acordo com o site de notícias A Tarde On Line, dezenas de fornecedores e prestadores de serviços entraram com pedidos de insolvência, falência e de execuções no Fórum da Justiça Federal da comarca local.
Levantamento feito pela reportagem do site no cartório de protestos aponta centenas de títulos protestados num total de R$ 35 milhões para cerca de 130 credores, que cobram dívidas que vão de R$ 250 – como a da Revcal Serviços – a R$ 1.058 – da Alpha Materiais Elétricos.
Uma empresa que fornecia alimentação aos trabalhadores demitidos, que ainda não receberam seus direitos trabalhistas e não têm dinheiro para voltar para casa, suspendeu as refeições no final do mês passado. A dívida do Consórcio com a empresa já ultrapassa R$ 500 mil.
Centenas de trabalhadores também tiveram que sair dos hotéis onde estavam hospedados, já que há meses o consórcio não paga um centavo. Sem ter para onde ir, os trabalhadores foram levados para um alojamento.
2 mil demitidos só em novembro
Em apenas dois meses, cerca de 3 mil trabalhadores foram demitidos pelo Consórcio UFN3. Só no mês passado, foram mais de 2 mil dispensados. Na última semana de novembro, 600 funcionários foram para a rua e, segundo informações dos próprios trabalhadores, havia mais uma lista de demissões com 1,4 mil nomes.
O canteiro de obras da Fafen, de acordo com os trabalhadores, conta hoje com cerca de 800 operários e outros 500, que foram demitidos, estão alojados na cidade.
O Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil Pesada (Sintiespav) busca uma solução para a questão do descumprimento das obrigações do consórcio com os trabalhadores e tem a expectativa de que a situação seja solucionada nos próximos 20 dias.
“O Consórcio afirma que tem dinheiro para receber da Petrobrás e a Petrobrás, por sua vez, diz que já pagou tudo. A solução que buscamos é o cumprimento do que foi acordado com os trabalhadores demitidos e isso só deverá realmente acontecer em uma reunião entre o consórcio, representantes da Petrobrás e nós, do sindicato”, declarou o presidente do Sintiespav. O encontro está sendo negociado pelo promotor Paulo Roberto Aseredo, do Ministério Público do Trabalho.
A Fafen é considerada a maior fábrica de fertilizantes nitrogenados em construção na América Latina e recebeu investimentos de quase R$ 4 bilhões. A construção teve início em 2011 e a previsão era que a unidade fosse entregue este ano.
Fonte: Sindipetro Unificado de SP