Por Altamiro Borges
O governo dos EUA anunciou ontem a expulsão de dois diplomatas venezuelanos. Segundo o jornal Valor, “a atitude é uma represália à medida similar adotada pelas autoridades de Caracas, o que complica as gestões para melhorar as relações bilaterais após a morte do presidente Hugo Chávez”. Na prática, a iniciativa do império visa interferir no processo eleitoral em curso na Venezuela, em que se enfrentarão o candidato chavista Nicolás Maduro e o empresário direitista Henrique Capriles.
Os dois “diplomatas” ianques foram expulsos pouco antes do anúncio da morte de Hugo Chávez, em 5 de março. Os adidos militares David Del Mônaco e Deblin Costal foram acusados de conspiração. Segundo o serviço de inteligência, eles entraram em contato com oficiais do Exército propondo um plano de desestabilização do país. Pelo twitter, o ministro da Defesa, Ernesto Villegas, foi duro: “Vocês têm 24 horas para abandonar o território”. Já Nicolás Maduro lamentou o oportunismo dos EUA “numa hora tão difícil para os venezuelanos”.
Documentos vazados pelo WikiLeaks
Num primeiro momento, o presidente Barack Obama não se pronunciou sobre a expulsão dos seus “diplomatas”. Agora, já em plena disputa presidencial, ele parte para a “represália” com o objetivo de tumultuar a eleição. A iniciativa confirma recentes documentos vazados pelo WikiLeaks que mostram que o império continua ativo na Venezuela. Segundo vários telegramas, os EUA promoveram reuniões com lideres da direita venezuelana com o objetivo explícito de unir a oposição para as eleições de outubro de 2012.
Um deles relata os encontros entre a empresa de espionagem Stratfor e Henrique Capriles, que obteve 45% dos votos nas eleições do ano passado e que é novamente candidato. Cobrindo o período de julho de 2004 a dezembro de 2011, eles trazem detalhes sobre a política local. Num deles, a Stratfor prega a união da oposição para promover “a revolução na Venezuela”. Há seguidas referências ao grupo sérvio Canvas (Center for Applied Non Violent Action and Strategies), que orienta os passos para derrotar o chavismo.
“Quando alguém nos pede ajuda, como é no caso da Vene [Venezuela], fazemos a pergunta ‘O que fazer?’. Analisamos a situação e depois vem a ‘missão’ e também o conceito operacional – o plano de campanha”, afirma um dos telegramas. Em outro a Stratfor afirma que, “por causa da completa desconfiança entre os diferentes grupos da oposição venezuelana, a empresa teve que fazer a análise inicial… Cabe à oposição venezuelana saber aonde quer chegar. Em outras palavras, depende da oposição perceber que a falta de unidade poderia fazê-los perder a eleição antes mesmo dela ter começado”.