Em meio à já acirrada luta para barrar o desmonte das refinarias, os petroleiros enfrentam mais uma grave investida do governo Temer contra o Sistema Petrobrás: a venda de 74 unidades de exploração e produção de petróleo em cinco estados do país. Só na Bacia de Campos, onde estão 14 das áreas anunciadas, a privataria eliminará cerca de 10 mil empregos, o que significará uma perda de receita para a empresa de US$ 1 bilhão anuais, segundo levantamento do Sindipetro-NF.
Não é de hoje que a FUP e seus sindicatos vêm alertando que a missão conferida a Pedro Parente pelos golpistas é privatizar por completo o Sistema Petrobrás e deixar o caminho livre para as multinacionais se apropriarem não só do pré-sal, como de toda a logística e infraestrutura do setor de óleo e gás, que a estatal construiu nessas seis décadas de existência. Esse sempre foi o plano dos grupos políticos e empresariais que apoiaram o impeachment da presidente Dilma e que são os mesmos que tentaram privatizar a empresa no governo Fernando Henrique Cardoso.
No final dos anos 90, após quebrar o monopólio da Petrobrás, o governo obrigou a estatal a entregar 25% das áreas exploratórias para a ANP leiloar. Pedro Parente, além de ministro de FHC, era seu homem de confiança no Conselho de Administração da empresa, onde também aprovou a privatização da Refap, de campos terrestres, das Fábricas de Fertilizantes e de outras refinarias, que só não foram vendidas em função da reação nacional dos petroleiros e da vitória de Lula na eleição presidencial de 2002.
Na época, a justificativa dos entreguistas para que os investidores estrangeiros se apropriassem da Petrobrás era de que a empresa não tinha capacidade de produzir petróleo sozinha. A desculpa agora é de que a petrolífera precisa saldar suas dívidas e, para tentar convencer a sociedade e até mesmo os trabalhadores de que a única alternativa é vender ativos, Parente utiliza as mesmas argumentações estapafúrdias do passado. Quem não se lembra, por exemplo, da falácia de que o pré-sal foi endeusado?
O povo brasileiro precisa se contrapor aos entreguistas, antes que seja tarde demais. Ou a classe trabalhadora intensifica as mobilizações em uma grande reação nacional contra a privatização da Petrobrás, ou estaremos fadados ao que Bertolt Brecht já alertava no início do século passado, em seu famoso poema Intertexto: “Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo”.
Intertexto (Bertolt Brechet)
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.