Enquanto o presidente dos EUA Barack Obama era recebido, nesta quinta-feira (21), pelo presidente da Autoridade Palestina e da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Mahmoud Abbas, na Cisjordânia, grupos da oposição veem a visita com ceticismo e protestam contra a negligência estadunidense para com um processo de paz efetivo, com o estabelecimento de um Estado da Palestina independente e soberano.
Para Kayed Al-Ghoul, da Frente Popular para a Libertação da Palestina na Faixa de Gaza (parte da oposição ao governo liderado pelo partido Fatah de Abbas), a Autoridade Palestina não pode confiar ou apostar novamente no governo estadunidense, e retomar negociações bilaterais seria um erro.
Durante a visita de Obama à cidade palestina de Ramallah, o presidente Abbas agradeceu o apoio econômico dos EUA, enquanto também reclamou dos assentamentos construídos ilegalmente pelo governo sionista de Israel, cujo primeiro-ministro é Benjamin Netanyahu, em terras palestinas.
Em resposta, apesar de dizer condenar a prática dos assentamentos, Obama disse apenas que também entende que a política israelense é “complicada” e que isso não será solucionado “do dia para a noite”, provavelmente referindo-se ao peso que os partidos sionistas têm na política israelense.
Al-Ghoul, assim como outras forças da oposição, disse que a intenção dos EUA ficou clara: “Trata-se de uma política coerente e totalmente tendenciosa a favor da potência ocupante e do projeto sionista na Palestina”.
Ele ressaltou também que “qualquer tentativa ardilosa de Obama durante a sua visita não enganará” o povo palestino, o que demonstra uma profunda desconfiança de grande parte dos movimentos de resistência ao “processo de paz” sugerido por Obama.
Ainda, a mãe do palestino Samer Issawi, que está detido em uma prisão israelense (em greve de fome há 241 dias, em protesto contra a sua condição), enviou ao presidente Obama uma carta aberta, que conclui com um apelo:
Partidos e frentes de oposição contra a visita de Obama
Al-Ghoul ressaltou que as forças nacionais islâmicas são contrárias à visita de Obama, o que indica que todas estão conscientes da natureza do papel norte-americano no tabuleiro geopolítico de poder, e que os EUA não conseguiriam enganar o povo palestino com qualquer discurso.
“Nosso povo quer uma solução justa baseada na garantia do direito de retorno, de acordo com a Resolução 194, e na restauração de todos os direitos nacionais”, completou, em resposta às retóricas vazias de Obama sobre defender uma solução de “dois Estados” que vivam em paz.
Também outra força de oposição, Frente Democrática de Libertação da Palestina manifestou-se contrária à visita de Obama, assim como o Partido do Povo Palestino, que divulgou um cartaz em que se lia “O Povo da Palestina não te considera bem-vindo”, com uma foto de Obama.
Al-Gouhl salientou que não há novidades nos discursos de Obama. Pior, a falta de condenação à política de expropriação e de violação diárias dos direitos humanos de todo o povo palestino corrobora a convicção dos partidos de oposição palestinos de que o compromisso de Obama é apenas com “a segurança do Estado de Israel” (como disse o presidente quando chegou ao país), e nada mais.
O militante palestino clama para que as lideranças palestinas não atendam aos pedidos de negociação, já que não vê comprometimento ou garantias de Israel, e para que formulem uma política e estratégia diferentes, a fim de definir mais opções de luta e adotar um processo político melhor estruturado como referência global.
A base da nova estratégia deveria ser a convocação de uma conferência internacional que vise criar mecanismos para que sejam cumpridas as resoluções de legitimidade internacional relacionadas à causa palestina, como o direito de retorno, a autodeterminação e um Estado palestino independente sobre todos os territórios palestinos ocupados, incluindo Jerusalém. Tais resoluções já foram emitidas pela ONU diversas vezes, apesar de sempre encontrarem oposição estadunidense.
Descrédito generalizado e fundamentado
O portal de notícias The Electronic Intifada (A Intifada Eletrônica) lembrou que a visita de Obama acontece no 65º aniversário da Nakba (que os palestinos chamam de “catástrofe”, quando milhares foram expulsos das suas terras e casas até para outros países), ao que o presidente referiu-se apenas como o 65º do estabelecimento do Estado de Israel.
Lembrou também que embora as duas partes (os palestinos e Israel) tenham negociado vários acordos desde 2005, ainda nenhum foi implementado. Mais ainda, também se completam 20 anos desde os Acordos de Oslo, em que várias exigências foram feitas aos palestinos mas que não garantiu qualquer avanço construtivo.
Um exemplo da assimetria de poder e de comprometimento foi o reconhecimento feito pela Autoridade Palestina do Estado de Israel, ao que não foi correspondida. Este é um exemplo também do ressentimento da oposição política à Autoridade e de grande parte do povo palestino.
O presidente Obama está mais comprometido, porém, a demonstrar o apoio dos EUA repetida e incondicionalmente a Israel. Meios de comunicação israelense abordam os discursos do presidente como tentativas de convencer o governo sionista do seu apoio.
Ainda, um parlamentar do partido Lar Judeu, recentemente integrado à coalizão do governo, disse: “Somos nós os que teremos que conviver com as consequências trágicas e destrutivas do estabelecimento de um Estado palestino”, o que demonstra a indisposição sistemática e consolidada do novo governo com uma solução para o conflito e a opção pela continuidade à opressão e ocupação sionista da terra e do povo palestino.