O painel As alternativas da mídia e a disputa de hegemonia, do V Encontro Nacional de Comunicação…
O painel As alternativas da mídia e a disputa de hegemonia, do V Encontro Nacional de Comunicação da CUT (Enacom), coordenado pela Secretária Nacional da Mulher Trabalhadora, Rosane Silva, reuniu os jornalistas Joaquim Palhares, da Agência Carta Maior; Paulo Salvador, da Rede Brasil Atual; Renato Rovai, da Revista Fórum; o coordenador da Rede Abraço de Radiodifusão Comunitária, José Sotter e o presidente do Sindicato dos Portuários de Santos, Francisco Nogueira.
Em sua explanação, Joaquim Palhares contou da experiência da Carta Maior, sublinhando a importância da conformação de parcerias significativas com jornalistas e entidades populares para o êxito do empreendimento, que "busca unificar forçar, estabelecendo como campo de atração a esquerda da América Latina" e conta hoje com mais de 57 mil internautas inscritos, visitando regularmente a página web.
Palhares falou sobre as perspectivas que se abrem a partir do investimento na internet, "mais barata, ágil e onde é possível incluir muita gente" e do compromisso da Agência com uma abordagem "mais ampla, mais larga, de futuro". "Eu não acredito em pequenas iniciativas. Acredito nas que podem repercutir para que as pessoas analisem o seu dia-a-dia, que estimulem o debate com análises mais de fundo", declarou.
Na avaliação do diretor da Carta Maior, a importância e a necessidade da Central Única dos Trabalhadores realizar um encontro de comunicação, aprofundando o debate do tema com seus principais dirigentes é fundamental. "A CUT é a organização mais poderosa da América Latina, a central consegue movimentar as massas, ir para o embate", ressaltou. Conforme Palhares, é imprescindível que a CUT assuma a responsabilidade no debate sobre a democratização da comunicação, estando à altura da sua importância histórica, liderando o processo. "Não vamos conseguir fazer o debate sem uma comunicação poderosa", frisou.
REDE BRASIL ATUAL – Representando a Rede Brasil Atual, que reúne a Revista do Brasil, a Rádio Brasil Atual e portal de internet, Paulo Salvador lembrou que é "hora de uma nova mídia para um novo Brasil". Ele exemplificou o longo processo de amadurecimento de vários sindicatos cutistas que superaram incompreensões e limitações corporativas para dar um passo além na batalha pelas idéias: "reunimos 60 sindicatos que decidiram fazer um projeto de comunicação que pensasse o Brasil". Agora, destacou, é hora de investir cada vez mais para construir audiência e ampliar a divulgação. Neste sentido, Salvador reforçou a necessidade de que o conjunto das entidades reproduzam os links da Rede e contribuam para potencializar o projeto.
Renato Rovai fez um breve relato dos oito anos da Revista Fórum, dos desafios superados para chegar a 76ª edição e de como a internet trouxe maior independência em relação à produção de conteúdos, particularmente da pauta planetária, antes muito vinculada às informações enviadas por agências internacionais tipo AP, France Press e UPI, ou o TASS, do bloco soviético. "Há 20 anos foi criada a internet num centro de estudo da Suíça, com a comunicação deixando de ser vertical, para ser horizontal", disse Rovai, avaliando que este é um elemento que descortina inúmeras possibilidades para a democratização da comunicação.
Citando Eduardo Galeano, o editor da Revista Fórum acredita que este é um momento de ação de marimbondos contra o rinoceronte, com a confluência de pequenas forças para colocar em xeque os oligopólios de mídia. Contou sobre a experiência venezuelana no combate à ditadura dos meios de comunicação, que patrocinaram um golpe com o apoio dos Estados Unidos e depuseram por 48 horas o presidente Hugo Chávez em abril de 2002. E de como o protagonismo popular, "através de meios de comunicação comunitários e alternativos, da pulverização de iniciativas", conseguiu derrotar o fascismo golpista.
Em relação ao atual momento, Rovai se declarou "radicalmente otimista" e sublinhou a necessidade de manter um campo amplo, mas bem demarcado, de movimentos em favor da democratização para ampliar apoios às iniciativas já existentes e fomentar novas que estão por vir, "confrontando-se com a lógica piramidal do mercado, de que uns mandam e outros obedecem".
Em nome da Abraço, Sotter denunciou a repressão que continua sendo desencadeada contra as rádios comunitárias, movida por setores da Polícia Federal em São Paulo com truculência, condenando os diferentes pesos e medidas utilizados: "vejam se a PF vai fechar emissoras que estão com a outorga vencida". Sotter lembrou que quem não quer a regulamentação são as rádios mercantis, que propagam que qualquer forma de controle social é censura. "O fato é que fazemos uma comunicação classista e não corporativa. Temos lado, que é o fortalecimento da identidade cultural brasileira, da soberania. Não queremos e não seremos alternativos auto-flagelativos, nosso compromisso é com a construção de meios para a comunicação da cidadania e direitos", ressaltou.
Respondendo a uma pergunta sobre ética e estética, Sotter enfatizou que "a ética da Abraço é a da diversidade, da pluralidade, de construir consciências a partir do respeito ao contraditório, pois não queremos dominar as mentes, mas libertá-las". Já a nossa estética, declarou, "é a das várias identidades culturais presentes pelo país afora".
CANAL AQUAVIÁRIO – O presidente do Sindicato dos Portuários de Santos, Francisco Nogueira, exibiu o programa da entidade na Baixada, o Canal Aquaviário, que tem obtido enorme sucesso de crítica e de público. Divulgado a partir da compra de espaço numa TV comercial, o programa incorpora junto ao trabalho de divulgação sindical, elementos que dialogam com as necessidades da população e questionamentos políticos e econômicos que vêm pautando o debate das demais emissoras. "Temos claro que não podemos deixar a mídia nos pautar, nós é quem temos de pautar a mídia e isso se dá com investimento em comunicação, com qualificação de profissionais, dialogando e dando visibilidade às reivindicações da nossa categoria, da classe trabalhadora e da sociedade", declarou Nogueira.