Em reunião no Planalto, CMS cobra redução dos juros e enfrentamento à guerra cambial

Lideranças da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) estiveram reunidas no Palácio do Planalto, nesta quarta-feira (13)…





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Lideranças da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) estiveram reunidas no Palácio do Planalto, nesta quarta-feira (13), com o secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho. No encontro, que contou com representação da CUT, MST, UNE, Marcha Mundial de Mulheres, CGTB, CTB, CMB, UBM, Unegro e Conen, as entidades expuseram sua pauta unitária em defesa de um projeto nacional de desenvolvimento, enfatizando a necessidade de mudanças inadiáveis na política econômica, com a redução dos juros e do superávit primário.

Em nome da Operativa da CMS, a secretária nacional de Comunicação da CUT, Rosane Bertotti, fez um breve histórico das lutas desenvolvidas pela Coordenação, que teve papel de destaque no enfrentamento à tentativa de golpe contra o presidente Lula em 2005, na defesa do protagonismo do Estado e do fortalecimento do papel do mercado interno no combate à crise internacional.

Rosane Bertotti apresentou os 10 pontos centrais da pauta da CMS, colocando ênfase na redução dos juros e na necessidade da participação dos movimentos sociais no Conselho Monetário Nacional, "para promover o desenvolvimento com distribuição de renda e valorização do trabalho".

"Mudanças na política econômica, reforma agrária, urbana, política, da educação e da comunicação, defesa do pré-sal, redução da jornada sem redução de salário, garantia de trabalho decente contra o trabalho escravo, defesa da saúde pública e contra o fator previdenciário. Esta é a síntese da nossa pauta, que expressa o projeto de país que queremos ver implementado por esse governo", declarou Rosane. Para consolidar estes avanços, destacou a dirigente, "temos claro o papel da unidade das entidades populares que se aglutinam em torno da CMS e que têm demonstrado seu compromisso no enfrentamento com a direita reacionária e sua mídia, organizando e mobilizando as suas bases, no campo e na cidade".

De acordo com Ubiraci Dantas de Oliveira (Bira), vice-presidente da CGTB, um ponto chave a ser enfrentado neste momento é a guerra cambial desatada pelo governo dos EUA, que está arrebentando a economia nacional. "O juro alto atrai capital especulativo e deixa o real sobrevalorizado. Assim, as mercadorias de fora são colocadas dentro do país, destruindo a capacidade de produção da indústria nacional, comprometendo o salário e o emprego", acrescentou.

Para Sônia Leite, da Marcha Mundial de Mulheres, “é preciso dar atenção especial à valorização do salário mínimo, que impacta diretamente na qualidade de vida das empregadas domésticas – chamadas de ‘animal em extinção’ por Delfim Neto -, cerca de sete milhões de mulheres”. Soninha defendeu o acesso à creche como fundamental para a autonomia econômica feminina e alertou para a necessidade de mais investimentos na política nacional de atenção integral à saúde da mulher. A criminalização do aborto, disse, é outro ponto angustiante, "pois afeta principalmente pobres e negras".

O presidente da União Nacional dos Estudantes, Augusto Chagas, reiterou que o primeiro ponto preocupante é a política econômica, apontada como "a tampa que impede que várias conquistas sociais possam se desenvolver de uma forma mais plena". Por esta razão, frisou, o grande desafio da conjuntura é a mobilização popular para dar enfrentamento ao conservadorismo que impede o pleno desenvolvimento do Brasil. "É a pressão popular que tem condições de levar o país a um novo patamar, e o Projeto Brasil, da CMS, é a nossa plataforma para disputar novos rumos", acrescentou.

Representando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, João Paulo Rodrigues reiterou a relevância da CMS: "nenhum fórum reúne esta amplitude de forças, se afirmando como espaço privilegiado de articulação e pressão por mudanças na política econômica".

Em nome da União Brasileira de Mulheres (UBM), Lúcia Stumpf defendeu as mudanças na política econômica como o "cerne" das propostas para que o país seja capaz de implementar reformas democráticas, como a da educação, urbana, comunicacional e agrária. "Estas transformações não serão passageiras, serão um conjunto que democratizará a estrutura de poder no país. Por isso, nos próximos meses, vamos às ruas para apoiar mudanças e garantir políticas mais ousadas".

Para Edson França, da Unegro, a regularização de terras quilombolas é essencial para que estas comunidades centenárias tenham acesso a crédito e a políticas públicas. Edson também cobrou a plena  implementação da lei sancionada pelo presidente Lula sobre a história dos afrodescendentes, "democratizando o conhecimento e o saber".

Diretora da Confederação das Mulheres do Brasil (CMB), Gláucia Morelli elogiou a "postura ousada e bastante sonhada" da presidenta Dilma de colocar como prioridade do governo a erradicação da miséria, mas lembrou que para que isso aconteça, "será necessário baixar os juros, enfrentar a remessa de lucros e a guerra cambial".

O secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, disse estar satisfeito em se reunir com "os principais movimentos do país e debatendo uma pauta estratégica, que dialoga com questões de fundo”, que “encontram-se em disputa, como a política econômica”. Gilberto Carvalho disse que da parte do governo há “abertura total para o diálogo” com as entidades populares e se comprometeu a encaminhar as demandas apresentadas pela CMS aos respectivos ministérios, que deverão se reunir com a Coordenação já no início de maio.

Conforme o secretário-geral da Presidência, será mantido um canal de negociação permanente com os movimentos sociais. “Governo é datado, tem dia para acabar e atua no limite da correlação de forças. Nosso papel é fazer a realidade no limite do possível”, declarou o ministro, lembrando que “sem mobilização, as coisas não ocorrem”.