Em reunião com centrais, Dilma pede apoio para reforma política e promete respostas em agosto

Rede Brasil Atual

Durante reunião de quase duas horas com representantes de oito centrais sindicais, nesta quarta-feira (26), em Brasília, a presidenta Dilma Rousseff dedicou 40 minutos para explicar aos dirigentes como serão norteadas as ações para os cinco pactos anunciados pelo governo – com vistas à melhoria dos serviços públicos – e destacou a importância de ser convocado um plebiscito no país para discussão da reforma política. Embora a presidenta não tenha sido explícita no apelo às centrais, a sua fala na abertura do encontro foi vista pela maior parte dos presentes como uma forma de pedir o apoio das entidades para as medidas divulgadas nos últimos dias.

A presidenta admitiu que é preciso aprimorar a interlocução com as centrais e disse concordar com as críticas das ruas sobre a qualidade dos serviços públicos. Afirmou, ainda, que a pressão das mobilizações está correta e ajuda na transformação do país. Participaram do encontro representantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT),  Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), União Geral dos Trabalhadores (UGT), Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) e Força Sindical, bem como Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), CSP-Conlutas e Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), além de técnicos do Dieese.

Os sindicalistas apresentaram os principais itens definidos na pauta traçada nos últimos dias com solicitações ao governo, tais como melhorias na qualidade do transporte público e redução das tarifas, mais investimentos na educação e na saúde, retirada de tramitação, no Congresso, do Projeto de Lei 4.330 – referente à regulamentação das atividades de terceirização, fim do fator previdenciário e aumento dos valores das aposentadorias, reforma agrária e redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais. Dilma deixou claro que essa pauta será negociada como um todo e que o governo apresentará uma resposta até agosto.

Mesmo lembrando que alguns desses temas precisam ser discutidos e negociados no Congresso e ressaltando a importância de as centrais participarem dessas negociações, a presidenta assegurou, no que se refere ao PL 4.330, que embora não possa vir a vetar o projeto inteiro, não deixará que sejam retirados direitos dos trabalhadores.  Além disso, ela enfatizou que não aprovará qualquer projeto sem que exista acordo entre trabalhadores, empregadores e governo e que atenderá à reivindicação das centrais de estabelecer um canal de diálogo permanente, conforme relatou, ao final do encontro, o presidente da CUT, Vagner Freitas.

Momento político

“A reunião não teve o objetivo de discutir a pauta dos trabalhadores e sim o atual momento político do Brasil. Colocamos para a presidenta que é preciso levar em consideração, nesse debate, os interesses dos trabalhadores organizados. Foi um espaço para que discutíssemos o que está acontecendo e como devemos fazer para que o movimento crie propostas progressistas”, afirmou Freitas.

Durante sua fala à presidenta no encontro, o dirigente da CUT ponderou que as melhorias nos serviços pleiteados pela população só existirão com o investimento na rede pública. “O governo tem de se debruçar sobre a saúde, transporte, educação e segurança pública de qualidade. Não adianta querer melhorar privatizando. Apontamos que a resposta tem de vir do Estado e ela (a presidenta) concordou”, contou, ao sair do Palácio do Planalto.

Críticas

Mesmo com várias manifestações sendo realizadas nas ruas – especialmente em Brasília nesta quarta-feira, que desde o começo da manhã teve o Congresso cercado por bolas de futebol em protestos contra a Copa das Confederações e o trânsito do Plano Piloto modificado por mais de duas vezes –, a atitude de Dilma foi criticada por algumas entidades. Para o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, presidente da Força Sindical, foi um erro ter sido priorizada no encontro a explicação sobre os cinco pactos e o plebiscito e não as reivindicações das centrais. “A reunião foi a pior das três que as entidades sindicais já tiveram com a presidente”, afirmou.

“Sou favorável a se consultar o povo, o problema é que a pauta apresentada por nós pouco foi discutida. Se o governo ouvisse melhor nossas pautas talvez até nem fossem necessários estes cinco pactos tão anunciados, porque apresentamos, inclusive, sugestões de como melhorar áreas como saúde e educação”, ressaltou.

Já o coordenador nacional da CSP-Conlutas, José Maria de Almeida, também presidente do PSTU, disse que saiu do Planalto com a sensação de que participou de “uma reunião para inglês ver”. “Pareceu-me mais uma tentativa do governo de incorporar as centrais sindicais como base de apoio para o seu projeto e não para a discussão das propostas levantadas previamente por nós.”

Data para negociações

O presidente da CUT, num tom mais ponderado, enfatizou que mesmo reconhecendo que o governo precisa tratar melhor a pauta dos trabalhadores, a mesa específica de negociação possui uma data agendada, que é a reunião do dia 3 de julho, e não a de hoje propriamente. “Nós também achamos que é preciso destravar a pauta e atender às nossas reivindicações, mas algumas falas sobre o encontro de hoje foram distorcidas”, afirmou Freitas, sobre as críticas.

A reunião foi acompanhada pelos ministros Manoel Dias (Trabalho e Emprego) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil). No próximo dia 11, as centrais prometem ir às ruas em todo o país pela aprovação de sua pauta de reivindicações.

Campanha

A CUT, segundo Vagner Freitas, deverá construir, daqui por diante, uma campanha nacional pela reforma política e pelo plebiscito. “Qualquer político ou organização que for contra essa consulta é porque está acostumado à velha política e quer tratar esses assuntos longe da população e da classe trabalhadora, exclusivamente nos corredores do Congresso”, acentuou.

De acordo com ele, as conquistas do movimento sindical são resultado de mobilizações e da capacidade de organização da classe trabalhadora e não concessão do poder público. “Os avanços são fruto de manifestações de rua, como a que promoveremos no dia 11 de julho em todo o país. A negociação se constrói na mesa, mas apenas se efetiva com manifestação de massa”, complementou.