Em entrevista, presidente da UNE fala sobre apoio dos estudantes a candidata Dilma Rousseff







O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Augusto Chagas fala sobre o apoio da entidade à candidata petista, no segundo turno das Eleições 2010. A entrevista foi concedida na sexta-feira (15), ao Portal Terra.

O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Augusto Chagas, atribui a "polarização do segundo turno" à decisão da entidade de declarar voto à petista Dilma Rousseff, posição também adotada pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes). As organizações, que na primeira etapa da corrida presidencial não apoiaram um determinado candidato em respeito à pluralidade de seus integrantes, criticaram, em notas individuais, o viés privatista e neoliberal representado pelo tucano José Serra. Em ambas as notas, os estudantes são convocados a participar do processo.

"No ambiente de polarização que se configura na atual quadra política, é fundamental que essa geração tome posição e derrote o setor conservador representado na candidatura de José Serra", diz o texto assinado pela UNE. Já a Ubes evoca os "caras-pintadas", que entraram em cena durante o impeachment do ex-presidente Fernando Collor.

"E é por isso que a histórica União Brasileira dos Estudantes Secundaristas mais uma vez colocará os caras-pintadas nas ruas para impedir a volta da direita ao poder", diz a nota da Ubes.

Augusto Chagas ressaltou que o voto declarado a Dilma é uma postura coerente com o histórico da entidade: "num segundo turno, é mais natural que a entidade se posicione. É um momento em que as organizações sociais precisam emitir uma opinião mais concreta".

"Tem a ver com oferecer para a sociedade a opinião da UNE, mostrar que ela está embasada no que sempre lutou. Se você olhar para os últimos 30 anos, desde que a UNE se reorganizou em 1979, e fizer um retrospecto das bandeiras que a entidade defende, você vai entender as razões pelas quais, num cenário de polarização como esse, a UNE se posiciona nesse momento", completou Augusto.

No primeiro turno, a UNE declarou se manteria de forma independente em relação ao processo eleitoral. Agora, no segundo turno, a entidade muda de posicionamento e declara apoio à candidata Dilma Rousseff (PT). Por quê?

Nós reunimos a diretoria no último fim de semana e, diante da polarização do segundo turno, achamos que a UNE deveria se posicionar e indicar o voto à Dilma, muito nesse cenário de polarização e de comparar a trajetória dessas duas candidaturas, o que representam, os governos que poderíamos utilizar de exemplo nas práticas que, para a UNE, são questões muito valiosas, que são a característica da relação com o movimento social, das políticas educacionais, do desenvolvimento… Chegamos à conclusão de que a postura adequada para nossa entidade é indicar o voto à Dilma, por acreditar que seria ela a mais capaz de conduzir as propostas que a UNE, desde o primeiro turno, veio apresentado às diferentes candidaturas.

Em abril passado, durante entrevista a Terra Magazine, você comentou que não era uma tradição da UNE apoiar candidaturas e que houve poucas ocasiões em que vocês tomaram essa posição.

De fato, tentamos sustentar, ao longo da campanha eleitoral, a postura que, na nossa opinião, é a postura mais adequada para uma entidade como a UNE: de apresentar propostas. O primeiro turno é o momento em que uma série de candidaturas apresenta ideias diferentes para o rumo do Brasil, em que o debate se faz de maneira mais aberta. A UNE procurou interagir com o debate feito pela sociedade do ponto de vista de apresentar, para essas diferentes candidaturas, essas opiniões.

O segundo turno é um momento muito mais polarizado. É um momento em que a sociedade vai tomar uma posição concreta em relação a dois projetos que, na nossa opinião, são muito diferentes. A UNE, durante os anos Fernando Henrique Cardoso – e, hoje, a gente pode dizer que o Serra representa muito daquelas opiniões -, passou muitos anos num período de resistência intensa. Se pegarmos o cenário educacional naquela ocasião, por exemplo, veremos que nossas universidades federais viveram uma situação de estrangulamento. Um exemplo que sempre repetimos: A UFRJ, a mais importante universidade federal brasileira, teve a luz cortada em 2001, porque, por dois anos, não conseguiu custear sua conta de luz. 

Foi um período em que a relação com o movimento social…e quando a gente fala da candidatura do Serra…Nesses últimos anos, por exemplo, na condução do governo de São Paulo, vimos se repetir essa relação. Você pega essas greves recentes dos professores. Tivemos oportunidade de participar de maneira direta daquelas reivindicações e vimos qual é o tratamento que é oferecido ao movimento social.

É por esse cenário de polarização e por achar que a UNE tem autoridade suficiente para se posicionar, que resolvemos indicar o voto à Dilma Rousseff no segundo turno.

A decisão da UNE de se posicionar no segundo turno tem relação com a reação apresentada por Serra nas pesquisas de intenção de voto?

Em segundos turnos, a UNE… Em 2002, a UNE chegou a tomar posição no segundo turno. Em 2006, a UNE acabou fazendo uma campanha de crítica ao que representava a campanha do Alckmin. Então, num segundo turno, é mais natural que a entidade se posicione. É um momento em que as organizações sociais precisam emitir uma opinião mais concreta.

Tem a ver com oferecer para a sociedade a opinião da UNE, mostrar que ela está embasada no que sempre lutou. Se você olhar para os últimos 30 anos, desde que a UNE se reorganizou em 1979, e fizer um retrospecto das bandeiras que a entidade defende, você vai entender as razões pelas quais, num cenário de polarização como esse, a UNE se posiciona nesse momento.

O fato de o Serra ter sido presidente da UNE não provocou um certo constrangimento?

Não deve haver constrangimento. A UNE respeita todos os dirigentes que passaram por ela. Nossa campanha não se personifica, não é contra a figura dele, mas contra as ideias e as políticas que hoje ele representa.

Serra ontem, inclusive, deu mais uma declaração infeliz em relação a UNE, numa atividade em Belo Horizonte, dizendo que a entidade hoje é pelega e que, na época dele, era uma organização que lutava, que tinha ideias. Eu diria que, na nossa opinião, na ocasião em que Serra era da UNE, ele estava do lado do povo, das ideias de transformação e que, hoje, infelizmente, a biografia que ele deve responder é a biografia de quem caminhou no sentido das ideias conservadoras, do atraso.

Como será o apoio da UNE à Dilma?

Nós demos essa primeira publicidade, que é uma publicidade mais oficial, divulgando a nossa nota. A ideia é que, já nestaa próxima segunda-feira (18), a gente consiga transformar isso numa campanha. Achamos que tão importante quanto a UNE oficialmente se posicionar é divulgar isso para os estudantes. Pretendemos fazer uma ampla distribuição de materiais pelo Brasil e, principalmente, realizar debates em universidades. Ao longo do fim de semana, temos mais uma reunião em que pretendemos definir esse calendário, mas já há indicativos de realizarmos debates em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba.

Tanto a nota da UNE quanto a da UBES têm um tom de convocação dos estudante. A da UBES chega a evocar os "caras-pintadas", dizendo que, mais uma vez, os colocará "nas ruas para impedir a volta da direita ao poder". O tom é esse mesmo?

Na democracia, o fundamental é que as pessoas participem e que o debate possa acontecer. Num momento de mais polarização, em que o que está em jogo são caminhos muito diferentes, na nossa opinião, achamos que é importante, de fato, que os estudantes possam se mobilizar. Com certeza esse vai ser o tom que vamos adotar nos debates nas universidades.