No último dia 03, os trabalhadores da Reduc vivenciaram um acidente que trouxe à tona a forma irresponsável e leviana com que as gerências da Petrobrás ainda lidam com as questões de segurança e, consequentemente, com a vida dos petroleiros. A explosão de uma válvula de oito polegadas em uma linha de vapor de baixa pressão da U-1320, unidade do setor de Energia e Termoelétrica, esfacelou a peça de ferro fundido, cujos estilhaços atingiram um técnico de operação, que sofreu traumatismo bucomaxilar. Uma semana após o acidente, o trabalhador acidentado concedeu uma entrevista exclusiva à FUP e ao Sindipetro Caxias, contando em detalhes como ocorreu o acidente, o tratamento recebido pela empresa e o trauma que o acompanha a partir de agora.
Por receio de alguma represália gerencial da Reduc, o técnico de operação da refinaria preferiu não ter seu nome identificado.
Confira a entrevista:
Há quanto tempo você integra o quadro de técnicos de operação da Reduc? Trabalha como funcionário próprio ou terceirizado?
Trabalho como empregado próprio da Petrobrás desde —, mas como técnico de operação, desde 1993.
Como foi o acidente ocorrido na Unidade U-1320, da Reduc, na última semana? Você pode narra-lo?
Eu tinha que librar uma bomba, que é acionada por uma turbina. No dia anterior, já havia ocorrido uma parada e essa bomba travou. Ela funcionava no dia anterior, mas quando eu passei nesta área para uma revista, percebi que ela encontrava-se parada. Diante disso, comuniquei ao Centro de Controle de Operação da Reduc, mexi mais uma vez na bomba, junto a um colega e vimos que ela continuava travada. Comunicamos novamente, pedimos a inspeção, que foi feita pelo pessoal da manutenção. Eles verificaram que não tinha como movimenta-la e pediram que eu a librasse. No dia seguinte, quando cheguei, fui direto ao procedimento normal, ou seja, librar esta bomba. Eu isolei a entrada de vapor, que é de 600 libras de pressão e, no momento em que eu estava fechando a válvula desta bomba, percebi o aumento de pressão nos drenos. Aí, quanto mais eu ia fechando a válvula, maior era o barulho e a pressão. Quando eu percebi que havia algo errado, pensei em desfazer a manobra, então falei comigo mesmo: vou voltar à posição anterior. Quando me posicionei para abrir a válvula e pus a mão em cima, a válvula ao lado estourou. Eu até imaginei que fosse a própria, que eu estava mexendo, mas depois fiquei sabendo que era a válvula ao lado, que inclusive já havia apresentado problemas anteriormente.
*Librar: ato de acorrentar a válvula e passar o cadeado para evitar abertura indevida
Qual foi a reação dos demais trabalhadores?
Eu estava sozinho no momento do acidente. Eu tinha saído do vestiário, o meu colega de área estava na sala de controle, onde acontecia uma auditoria, que ele estava participando. Por isso, saí do vestiário e fui fazer a manobra sozinho.
Este acidente te afetou além de questões físicas?
Sim. Hoje, quando falo deste acidente, fico meio trêmulo, nervoso, ansioso, por que ainda estou muito abalado psicologicamente. Além disso, ainda me sinto debilitado fisicamente, com fortes dores pelo corpo e nos locais onde fui especificamente atingido pela explosão.
Como é o sistema de segurança na U-1320Na maioria das vezes, os equipamentos não são totalmente seguros para trabalharmos. Foi o caso deste acidente, pois a válvula já deveria ter sido trocada. Existem bombas e outros equipamentos que precisamos dar um jeito para que continue operacional. Existem peças que precisam ser trocadas, mas não feitas de imediato, entre outras precariedades que prejudicam o nosso trabalho e nos expõe a situações perigosas.
Você normalmente se sente seguro em seu ambiente de trabalho?
Não. Nunca me sinto totalmente seguro trabalhando na Reduc, mas eu preciso trabalhar. Fazer o quê?
Após o acidente, como procedeu a gerência da unidade?
Fui levado para o setor médico da unidade, onde fui atendido e encaminhado ao hospital Caxias’Dor. Na Reduc, tive um acompanhamento do médico chefe do setor. Somente isso.
Quais as partes do seu corpo foram prejudicadas com este acidente?
O meu rosto, onde agora tenho um grande inchaço e hematomas, onde também pensei que havia uma fratura inicialmente. O meu nariz está quebrado e também perdi um pedaço da pele, na lteral do rosto, onde também tive muito sangramento. Além disso, sinto muitas dores na mão esquerda, no peito e também tenho hematomas na barriga, devido ao impacto por causa do deslocamento de ar, que foi provocado pelo isolamento térmico, acredito.
Já ocorreram outros acidentes parecidos nesta mesma unidade?
Já. Já ocorreu com essa mesma bomba, com outro operador, há alguns anos atrás. Neste caso, o que explodiu foi a turbina.
De acordo a sua CAT, a necessidade de afastamento é de apenas três dias. Você se sente em condições de retornar às suas atividades?
Não. Neste momento, nem psicologicamente, nem fisicamente, por que ainda sinto dores. Mas compareci ao setor médico da Reduc e o médico me deu alta e permissão para que eu volte a trabalhar. Só não sei se é pra estar na área ou sala de controle. Se for na área, neste momento não tenho condição alguma de retornar à refinaria.
Na sua opinião, o que a Petrobrás pode fazer para mudar e otimizar as questões de saúde e segurança das unidades operacionais da empresa?
Eles precisam estar atentos a nossa necessidade de mais qualidade e segurança nos equipamentos em que trabalhamos. Acredito que é preciso mais investimentos nisso e muitas mudanças em relação ao que tem sido feito. Ouvir os trabalhadores, o que eles tem a dizer ou questionar, reclamar ou pedir, por que o operador sabe o que está acontecendo na unidade, sabe o que é necessário, conhece as falhas e consegue prever o que pode vir a acontecer. Neste acidente, por exemplo, nós já havíamos comentado que isso poderia acontecer em algum momento. Não pensamos que poderia ser aquela bomba especificamente, mas prevíamos que algum acidente poderia ocorrer na unidade. A gente já comunicou dezenas de vezes as falhas operacionais que acontecem, mas não somos respondidos e os consertos não são feitos.
Como você se sente ao ver a omissão da Petrobrás em relação a este acidente que você está envolvido?
Eu fico muito triste, até porque, esta não é uma empresa qualquer, é a Petrobrás, empresa número 1 do Brasil. Não olhar para o lado pessoal do trabalhador é absurdo. Eu não tive nenhuma assistência na minha casa, não me procuraram em nenhum minuto e, ainda tenho que ver a deturpação que a empresa está fazendo sobre o acidente, que na verdade foi bem pior e mais grave do que eles estão contando. Eu fico muito abalado com isso. Acho que o que também me afeta muito é saber que sou um mero número insignificante para a empresa. Eles não tiveram nenhum sentimento pela minha pessoa ou pela minha família.
Quais as orientações que você teve do médico da Petrobrás?
Ele me disse que eu já estou em condições de voltar ai trabalho, mesmo eu dizendo que não.
Qual a sua nota para o sistema de SMS da Petrobrás?
Pelo atendimento que tive depois do acidente, só não sou zero por que tive o mínimo de atenção. Então neste quesito, dou 4. No dia a dia de trabalho, a minha nota é 6, bem abaixo do que deveria ser.