A política de terrorismo de Estado utilizada pelo governo de Israel contra o povo palestino, seja na Cisjordânia ou na Faixa de Gaza, remonta cada vez de forma mais palpável à prática nazista das punições coletivas, de tão trágica lembrança.
Em franco desrespeito à lei e à comunidade internacional, as tropas de Israel continuam seus bombardeios contra a população civil, mandando pelos ares escolas, hospitais e fábricas, mantendo um milhão e meio de palestinos cercados em Gaza, privados de água, luz, combustível, remédio e comida, paralisando os serviços públicos e produzindo uma catástrofe humanitária.
Dos 1,5 milhão de moradores do campo de concentração em que o cerco estrangeiro transformou Gaza, hoje o espaço de mais alta densidade demográfica do mundo, 1,2 milhão estão mergulhados na pobreza e na miséria, sem salário e sem emprego, com o fechamento de 95% das indústrias locais. Segundo o próprio Banco Mundial, em junho de 2005 havia 3.500 indústrias neste território palestino, reduzidas para 780 em junho de 2007 e despencando para apenas 195 em dezembro. A asfixia econômica faz com que 860 mil moradores dependam da distribuição de alimentos da ONU para sobreviver.
Recentemente, o caldeirão estourou. Centenas de milhares de palestinos romperam o muro de Gaza e abriram caminho rumo ao Egito, em busca de um sopro de vida. A situação é tão desesperadora, que organizações israelenses de solidariedade à Palestina qualificaram a prática do governo de seu país como "crime de guerra".
A construção do muro de segregação e a manutenção das colônias na Cisjordânia são exemplos esclarecedores de quais são as pretensões da potência invasora. Ignorando as condenações da Corte Internacional de Haia e o direito dos povos à autodeterminação, Israel estende seus postos militares como metástase em território palestino, impedindo a livre movimentação da sua população. Multiplicam-se os casos de mulheres grávidas, crianças e idosos que morrem ao serem impedidos de receber atendimento médico. Contam-se aos milhares o número de palestinos presos por "insubordinação" aos invasores, assim como as lideranças políticas seqüestradas, torturadas e assassinadas pelas tropas de ocupação. Há poucos dias, dentro de Israel, oito sindicalistas árabes palestinos da Galiléia, da organização Sawt El Amel, foram condenados por terem participado em 1999 de "uma reunião ilegal e por perturbarem a ordem pública" ao denunciar práticas discriminatórias no emprego.
Vale destacar que a execrável prática do bloqueio econômico, também utilizada pelos Estados Unidos contra Cuba, é mantida contra a Palestina desde 1967, em flagrante violação às resoluções e leis internacionais. Infelizmente, Israel tem se comportado como um enclave norte-americano no Oriente Médio, sustentando sua política belicosa, de agressão e pilhagem contra os países da região. Mas não só. Quando Nelson Mandela ainda era um prisioneiro e a ONU debatia a condenação ao regime de segregação racial na África do Sul, os governos de Israel e EUA deram-se as mãos com a Inglaterra em defesa do apartheid, votando contra qualquer sanção ao governo da minoria branca.
Diante do manto de silêncio com que grande parte da mídia não disfarça seus indissociáveis vínculos políticos, ideológicos e econômicos, é preciso que a solidariedade militante fale mais alto. É preciso levar o debate para os locais de trabalho, mobilizar a sociedade, os parlamentares e o governo para que o Brasil tenha uma posição cada vez mais firme contra tão abomináveis práticas. A defesa de um Estado palestino independente, que coexista ao lado do Estado de Israel, é a defesa do direito das nações à soberania, é a defesa de um mundo em que caibam todos, é a defesa da vida contra a morte.