A nova Constituição da Bolívia, referendada no dia 25 de janeiro, não agradou os departamentos…
A nova Constituição da Bolívia, referendada no dia 25 de janeiro, não agradou os departamentos mais ricos do país (Santa Cruz, Pando, Beni e Tarija). Mesmo com a resistência, a nova Carta Magna teve o apoio de dois milhões de bolivianos, totalizando quase 62% dos votos. O resultado final não calou as críticas à inovação, principalmente as remetidas pela imprensa da Bolívia e de outros países, inclusive do Brasil. Para debater o tema, o ministro das Relações Exteriores da Bolívia, David Choquehuanca, e o Embaixador do país no Brasil, René Maurício Dorfler Ocampo, estiveram nesta sexta-feira (13), na CUT-DF.
Com mais de cem pessoas presentes, Choquehuanca deu início ao debate com o relato do paradoxo da situação da Bolívia. "Nós temos gás, temos petróleo, temos água doce, temos tudo. Mas, infelizmente, a Bolívia é o país mais pobre da América Latina. Isso porque não houve uma administração responsável pelos que governaram", disse. O ministro ainda afirmou que a nova Constituição foi uma tentativa de "refundar" o país, para ele, há mais de 500 anos explorado. "Temos que recuperar nossa cidadania, nossa identidade, nossos recursos naturais. Para isso, necessitamos fazer novas normas", afirmou.
Choquehuanca deu continuidade à explanação afirmando que o programa de governo apresentado ao povo boliviano "contempla a nacionalização, a recuperação das empresas estratégicas e dos recursos naturais". Além disso, a Carta Magna também aprofunda uma reforma agrária ao proibir latifúndios e estabelece que o Estado exercerá o planejamento da economia e a administração dos recursos naturais com poder de intervenção em toda a cadeia produtiva. Pela nova lei, a extensão máxima das propriedades rurais tem de 5 a 10 mil hectares. "O território da Bolívia é o dobro do da França, onde há 70 milhões de habitantes e nenhum movimento sem terra. Nós temos apenas nove milhões de habitantes, mas temos esse tipo de movimento porque as terras não foram bem distribuídas", contextualiza.
O ministro ainda rechaça as afirmações da mídia de que a nova Constituição é uma tentativa de Evo Morales, presidente do país, perpetuar-se no poder. "Como a mídia pode falar isso se neste novo modelo o presidente pode ser reeleito apenas uma vez de maneira contínua, enquanto na antiga ele podia se reeleger quantas vezes quisesse de maneira descontínua?", defendeu. A nova Constituição boliviana também estabelece que as 36 etnias indígenas que formam a Bolívia devem estar representadas nos poderes Legislativo e Judiciário.
No final do debate, Choquehuanca afirmou que a intenção do governo de Evo é criar um país mais justo, que possa atender às necessidades do povo. "A única coisa que queremos é que os bolivianos possam construir uma Bolívia para todos. Que todos tenham acesso à riqueza. Que todos possam se beneficiar dos recursos naturais", finalizou.
Para o secretário de Política Social da CUT-DF, Ismael José César, essa foi uma oportunidade de demonstrar a intenção de unidade dos povos do Brasil e da Bolívia. "Estamos aqui para selar a solidariedade entre os trabalhadores da Bolívia e os trabalhadores do Brasil. Portanto, mexeu com o povo boliviano, mexeu conosco", concluiu.