Em congresso do Sindipetro NF, pesquisador afirma que os petroleiros estão presentes em todas as lutas recentes do País

Antes da palestra de Frederico Romão, o VII Congrenf contou com a abertura solene, com a formação de mesa política de saudação aos delegados…





Sindipetro NF

Tomando como marco a greve dos petroleiros em 1995, o pesquisador Frederico Lisboa Romão, que utilizou o movimento como objeto de pesquisa para sua tese de doutoramento em Ciências Sociais pela Unicamp, fez na noite desta quarta-feira, 13, uma panorâmica sobre a história de luta dos trabalhadores do setor petróleo brasileiro, na abertura do VII Congresso Regional dos Petroleiros (Congrenf), no Teatro do Sindipetro-NF, em Macaé (RJ).

O palestrante demonstrou que há uma relação direta entre os mais intensos movimentos petroleiros com os cenários políticos e econômicos nos quais eles se deram. No País, entre 1953 e 1964, havia um clima de avanços econômicos e sociais, o que também foi experimentado pelos primeiros petroleiros da Petrobrás, estes mesmos que, antes da criação da empresa, haviam participado de movimentos sociais pela soberania brasileira na exploração do petróleo.

Em 1964, veio o retrocesso do Golpe Militar, e os petroleiros, juntos com a sociedade, amargaram a repressão. Há vários registros da participação da categoria nos movimentos de resistência à ditadura, inclusive com prisões e torturas. Em 1968, os sonhos de liberdade que varreram parte do mundo pareciam que provocariam a redemocratização no Brasil, mas o regime endureceu, com o AI-5, e também nesta época há registros de mobilizações de petroleiros na Bahia.

No fim dos anos 70, período  que pode ser caracterizado como de retomada da luta, há o surgimento do chamado Novo Sindicalismo, uma confluência do sindicalismo autêntico com o sindicalismo metalúrgico do Grande ABC paulista. Em 1983, esta organização desembocaria na realização de uma das maiores greves gerais da história do País, quando metalúrgicos, e, depois, outras categorias, pararam em solidariedade a movimento grevista deflagrado por petroleiros.

Após o fim da ditadura, houve avanços democráticos nos anos 80, consolidados na Constituição de 1988, com a ampliação da criação de sindicatos e reintegrações de demitidos. Mas mesmo em um cenário favorável, adverte o pesquisador, nenhuma conquista deste período foi obtida sem luta.

Nos anos 90, o retrocesso neoliberal tentou quebrar a espinha dorsal do movimento sindical e investiu com vigor sobre as categorias mais organizadas, entre elas o bancários, os metalúrgicos e os petroleiros. Foi um momento de revisão da Constituição, desemprego, privatizações, demissões e terceirizações.

A greve dos petroleiros em 95 teve, neste momento, um acentuado caráter de resistência, e só foi possível em razão de um histórico de coesão da categoria e de características muito específicas, que intrigam os pesquisadores. Afinal, provoca Romão, o que faz com que esta categoria consiga ter esta força e este histórico de lutas?

O próprio pesquisador afirma que é possível destacar, baseado em testemunhos e documentos, que os petroleiros se caracterizam por pelo menos cinco fatores: busca constante por organização, capacidade de resistência; busca por articulação nacional, pluralidade de ideários e disputas internas, mas com unidade de ação; e solidariedade interna e em relação às demais categorias. Para cada um destes itens, o pesquisador citou eventos históricos que os confirmavam.

Romão destacou que em todos os momentos, mesmo nos aparentemente mais tranquilos, todas as conquistas foram fruto de muita luta. Ele lembra práticas que hoje parecem corriqueiras, mas que nasceram das mobilizações petroleiras. Uma delas é o concurso público, que foi reivindicação dos petroleiros implantada em 1957, muito antes de ser um procedimento em outros setores estatais. Outro exemplo é a equiparação salarial nacional da categoria, que nasceu do movimento “Equipara ou Para”. Até mesmo o primeiro acordo coletivo da Petrobrás saiu com muita mobilização dos petroleiros, tendo sido assinado mais de 20 anos após implementadas as primeiras formas de organização dos trabalhadores do setor.

Por isso, Romão avalia que a greve de 1995 não pode ser considerada isoladamente. Ela foi, na sua conclusão, “um importante ponto na curva histórica dos petroleiros”.

Solenidade de abertura

Antes da palestra de Frederico Romão, o VII Congrenf contou com a abertura solene, com a formação de mesa política de saudação aos delegados. Integraram a mesa e fizeram suas saudações aos participantes os sindicalistas Cairo Correa (CNQ), Darby Igayara (CUT-RJ), Anselmo Ruoso (FUP) e José Maria Rangel (Sindipetro-NF).

Leia também:

Economistas avaliam cenário brasileiro e mundial no Congrenf