Gustavo Marsaioli é mecânico da Replan desde 2006 e diretor do Sindipetro Unificado do Estado de São Paulo
Há anos, os operadores da Estação de Tratamento de Água (ETA) da Replan vêm sofrendo um grande dilema.
Em julho de 2011 tiveram início as negociações com a gerência, a fim de adequar o número de trabalhadores dessa unidade. Devido à intransigência dos gestores da empresa, entretanto, deflagrou-se o movimento reivindicatório.
Durante muitos meses o setor da Utilidades (Elétrica, Vapor e ETA) enfrentou uma grande e extensa luta, com atrasos diários em todos os turnos, com o objetivo de pressionar o avanço nas negociações. Infelizmente, houve apenas conquistas para a área Elétrica e Vapor, que teve aumento do efetivo de trabalhadores.
A ETA é, hoje, a única unidade que opera com somente um trabalhador no painel. Isso implica em sobrecarga de trabalho e constrangimento, além de riscos à segurança.
Imagine só o cenário: na maior refinaria do país, a ETA é uma das unidades com o menor investimento em manutenção e modernização, onde vários automatismos nunca funcionaram e exige-se muito mais trabalho dos operadores.
Sem o auxílio de um companheiro de trabalho, os operadores são obrigados a tomar diversas decisões sozinhos, o que aumenta o nível de tensão. São obrigados ainda a operar diversas telas simultaneamente e preencher relatórios e outras burocracias, como o cumprimento do PBO (Padrão Básico de Operação), atender o rádio, telefone. No caso de simples necessidades, como tomar água, café ou ir ao banheiro (pasmem!), sofrem o constrangimento de ter de chamar o colega no rádio para poder sair do posto de trabalho. O operador que está no painel fica preso, com o seguinte agravante: na área há somente dois operadores, que têm de cobrir suas rotinas e manobras em uma área geográfica extensa.
A ETA, além dos parques de tratamento e desmineralização, conta com três torres de refrigeração, aonde se sobe de escada. A captação de água fica a uma longa distância da CCL e da CCI, agravando a dificuldade. Enquanto isso, o companheiro do painel fica aguardando a rendição para poder ir ao banheiro, sendo duplamente constrangido por ter de repetir no rádio a necessidade da troca. Um absurdo completo.
Devemos pensar também no risco de falhas na operação devido a essa condição degradante de trabalho, que exige muita concentração sobre períodos exaustivos de trabalho sem pausa para descanso (e nem para o café, a água, as refeições…).
Hoje, com o baixo nível do rio e a contaminação maior dos equipamentos, o problema se intensificou, aumentando absurdamente as intervenções de regeneração dos vasos, ou seja, o que já era absurdo se tornou insuportável.
A direção do Sindicato tem conversado com os trabalhadores e, além disso, estamos em negociação com a refinaria para a reposição do efetivo. O momento pode se tornar estratégico para retomarmos essa reivindicação.
A atual gerência da Replan já demonstrou sua linha de pensamento ao longo desse tempo, chegando a afirmar que a meta é zero operadores. O problema é que entre seu audacioso plano e a realidade inexiste o bom senso, expondo os trabalhadores a condições indecentes de trabalho e riscos de segurança, visando a ampliação dos lucros.
Todos sabem que uma falha no fornecimento de água é a pior emergência que a refinaria pode sofrer. Imagine o que significam milhares de equipamentos contendo fluidos inflamáveis com falta de refrigeração?
Quem não lembra do Apagão do dia 21 de abril de 2011 e o risco que todos correram naquele evento? Pois é, parece que a gerência tem memória curta.
E nós trabalhador@s? Memória curta não, mas o pavio…esse sim ficou curto!