João Antonio Felício é secretário de Relações Internacionais da CUT
É óbvio que os grandes conglomerados de comunicação, pautados exclusivamente pelo interesse mercantil, não nutrem a menor simpatia pelo movimento sindical.
Separamos o joio do trigo, pois temos enorme respeito e admiração pelos trabalhadores que atuam nestes meios. O mesmo não podemos dizer sobre os donos da mídia, que agem como patrões no comando do seu “negócio”, via de regra turbinado por anúncios de transnacionais, do sistema financeiro e de grandes empresas.
As reportagens infames sobre o 11 de julho, Dia Nacional de Luta, são exemplos ilustrativos e elucidativos do que tais barões entendem como “notícia” e “imparcialidade”. Enquanto atos, greves e mobilizações ganhavam as ruas, coroando nossas expectativas, a mídia buscava desqualificar a ação e o crescimento do nível de consciência e articulação, tentando desmerecer a participação do trabalhador como sujeito das mudanças.
Tal comportamento preconceituoso e antidemocrático diante dos que constroem o país – e o mundo todo – objetiva colocar o sindicalismo contra a população para que seus interesses se mantenham intocados. O que move sua prática é a construção do maior fosso possível entre os fatos e a realidade, cavando fundo na alienação a fim de que a desagregação e o individualismo se sobreponham ao interesse coletivo.
Na recente divulgação feita pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) sobre o crescimento de 50% registrado pelo Brasil no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), mais uma vez salta aos olhos o tamanho do desrespeito da mídia privada. Ao debater sobre o setor educacional, que obteve a maior elevação do IDHM em termos relativos (129%), o ranço dos barões da mídia novamente falou mais alto, excluindo e invisibilizando os atores sociais responsáveis por boa parte dos êxitos obtidos no período.
Conforme o PNUD, embora significativa a redução das desigualdades, especialmente no governo Lula, o aumento não contribuiu para melhorar a situação do país como um todo, que ficou em 85º lugar dentre as nações do mundo com melhor IDHM, bem atrás de países da América Latina como o Chile (40º lugar), Argentina (45º), Uruguai (51º) e Peru (77º). Vale lembrar que, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2011, a taxa de analfabetismo entre os jovens de 15 anos ou mais é de 8,6% – o que representa 12,9 milhões de brasileiros. Isso sem falar nos milhões de analfabetos funcionais.
Como reverter esse quadro sem investir continuamente no ensino público, sem a valorização efetiva do setor? Frente às inúmeras limitações e obstáculos impostos à educação pública, reiteramos que o Brasil jamais será uma nação plenamente desenvolvida sem que haja prioridade para a superação de tamanho atraso, sem o que será impossível a potencialização da ciência e da tecnologia nacional. Tanto quanto um problema sério de vagas no ensino superior, a educação pública sofre por falta de qualidade, com as crianças saindo da escola com precários conhecimentos em todas as áreas. Por isso concordamos com os governos Lula e Dilma quando propõem investir no setor parte da lucratividade do petróleo.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) tem um acúmulo de reflexões e propostas para mudar este quadro sombrio. Mais do que uma pauta de reivindicações, com propostas concretas para a o enfrentamento e solução destas mazelas, temos a concepção de uma nova escola de qualidade como motor e guia.
É pelo nosso compromisso com a luz do saber que estamos sendo invisibilizados pelos que querem a manutenção das trevas. Ao divulgar os dados do PNUD a imprensa brasileira novamente ignora por completo nossas contribuições, cerceando a palavra ao movimento sindical, enquanto abre os microfones, projeta em suas câmeras e reverbera em seus jornais e revistas figuras inexpressivas para qualquer alteração da realidade das salas de aula.
Nesta terça-feira, a Rede Globo entrevistou o representante de um desses movimentos, o “Todos pela Educação”, formado por “personalidades” paulistas. Tal agrupamento é exatamente o mesmo que tem sido acionado para condenar as greves que os professores realizam para melhorar a educação e sua qualidade de vida. Em vez de ouvir os envolvidos no processo educacional, pais, professores, funcionários e estudantes, a velha mídia aciona seus aliados, se contentando em fazer eco aos seus próprios preconceitos.
Mais do que educação, falta democracia na comunicação. Para que possamos falar, ver e ouvir a voz das escolas, das universidades, dos bairros e das ruas.