O Petronotícias, site jornalístico especializado no setor de óleo e gás, repercutiu o papelão protagonizado por um diretor bolsonarista da Petrobrás, que aproveitou um evento da empresa, com a presença do presidente Jair Bolsonaro, para puxar o saco do chefe, com um discurso político de ataque às gestões anteriores e em defesa do atual governo. Como se não bastasse, ele, que entrou na empresa em 2019, por indicação política, ainda teve a audácia de usar um uniforme de petroleiro e mandou às favas as medidas de prevenção contra a Covid-19 determinadas pela Petrobras, como o uso de máscaras
[Da redação do Petronotícias]
O clima fechou nos bastidores da Petrobrás e o que era para ser uma festa, pelo início dos testes operacionais do Polo Gaslub, acabou virando motivo de desavença. Não pegou nada bem entre os petroleiros da empresa o discurso de ontem (31) do diretor de Relacionamento Institucional e Sustentabilidade da Petrobrás, Rafael Chaves.
O executivo, que participou da cerimônia no Gaslub, subiu ao palco prometendo que não faria um discurso político. Ficou só na promessa mesmo. Chaves, usando o macacão de petroleiros, deixou suas falas técnicas no bolso do terno que costuma usar em aparições públicas. Preferiu partir para o ataque contra governos anteriores. O tom do discurso surpreendeu. Isso no momento em que a empresa ainda precisa explicar as contradições reveladas pelo Petronotícias na licitação das obras da unidade de hidrotratamento (HDT) da Refinaria de Paulínia (Replan). O diretor da Petrobrás falou repetidamente dos casos de corrupção do passado. Mas agora, com um evidente problema em uma importante concorrência, a petroleira repetiu a mesma afirmação usada na época dos grandes desvios: “a Petrobrás não comenta licitações em andamento”. No passado, essa resposta servia para abafar as denúncias.
O discurso fora do tom técnico esperado por um membro do alto escalão da Petrobrás causou bastante indignação entre os operários da empresa. Um dos trechos mais polêmicos da fala do diretor foi quando mencionou que a atual gestão é formada somente por técnicos e concursados. Não é o que pensa o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar. Ele afirma que Chaves entrou na diretoria da Petrobrás “pela janela”, sem nunca ter feito concurso para trabalhar na estatal. “Ele, que se diz de uma diretoria técnica, ingressou na empresa sem concurso público em 2019 para ganhar 150 mil reais por mês e ajudar a destruir essa empresa”, acusou o sindicalista. Para lembrar, o executivo tomou posse da diretoria de Relações Institucionais em dezembro do ano passado, mas já trabalhava na empresa há cerca de três anos.
A celeuma não seria completa se o tema dos preços dos combustíveis não viesse à tona. Chaves reclamou durante o evento que a empresa está sendo cobrada pelos preços dos derivados. Reconhecendo que os valores estão caros, o executivo justificou dizendo que o Brasil ainda precisa importar gás, diesel e gasolina. “Porque o Brasil não conseguiu atingir essa autossuficiência [no refino de petróleo]? [Foi] essa corrupção do passado, que afugentou todos os investidores privados do país”, declarou Chaves.
Bacelar, por sua vez, rebate dizendo que a causa dos preços altos de combustíveis no país está na política de preços desempenhada pela Petrobrás desde 2016. “Que bom que ele [Chaves] reconhece que o combustível está caro. E está caro porque o ex-presidente Michel Temer implementou o Preço de Paridade de Importação (PPI), que atrelou nossos combustíveis ao preço do petróleo internacional, ao dólar e aos custos de importação de derivados”, lembrou.
O diretor de Relacionamento Institucional da petroleira também afirmou durante o evento que, somente em 2021, houve um primeiro investimento relevante no refino brasileiro, fazendo referência à compra da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), na Bahia, pelo Fundo Mubadala. “O que ele chama de investimento, na verdade, é entrega. Como pode vender uma refinaria a preço de banana como foi feito com a RLAM, Terminal Madre de Deus e os terminais terrestres da Bahia? A refinaria valia quase US$ 4 bilhões e foi entregue por US$ 1,8 bilhões para um fundo de investimento dos Emirados Árabes”, contestou Bacelar.
Outro ponto de desavença é a questão do endividamento da Petrobrás. Na fala de ontem, Rafael Chaves disse que a atual diretoria está “carregando nas costas o pagamento de mais de 200 bilhões de reais de dívida desde janeiro de 2019” e que não “tem sido fácil reverter a situação que a empresa se colocou”, fazendo referência aos casos de corrupção vividos no passado recente.
O coordenador geral da FUP discorda da fala do diretor. “Essas informações não condizem com a realidade. Nós sabemos muito bem que por conta do pré-sal, altíssimos investimentos foram feitos para termos o desenvolvimento, a exploração e a produção do pré-sal brasileiro, ao ponto de termos quase 70% de toda a produção oriunda do pré-sal, o que tem gerado esses resultados vultosos para a Petrobrás”, concluiu. Bacelar também criticou o fato de toda a diretoria da Petrobrás participar do evento sem máscaras, apesar da recente alta de casos de covid-19 entre os trabalhadores da companhia.