A presidenta Dilma Rousseff voltou a lamentar nesta terça-feira, (7), a visão externada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que associou o voto no PT à pobreza existente nos “grotões” de “mal informados”. Em entrevista coletiva no Palácio do Alvorada, ela afirmou que a noção defendida pelo líder do PSDB está presa a um conceito do passado.
“Acho lamentável. Acho lamentável porque é uma visão elitista do país. Vocês sabem qual é uma das grandes forças do Brasil? É ele ser esse país continental que é”, defendeu, afirmando se tratar de uma “visão atrasada” aquela que desconhece em cada um dos brasileiros um cidadão com grande potencial humano. “Fico estarrecida quando escuto essa história. Escutei isso ao longo da minha vida. Escutei muito que o povo não sabia votar. Quando o povo não sabia votar vocês sabem o que acontecia, né? Não tinha eleição. O povo não sabia votar, então não deixavam o povo votar. Essa história de que o povo não sabe votar porque não se formou numa universidade é uma falácia, uma mentira.”
Além de FHC, articulistas e usuários de redes sociais associaram após a eleição de domingo o voto no PT à pobreza. Ressurgiram as ideias de que o bom desempenho petista nas regiões Norte e Nordeste está diretamente conectado a uma dependência criada pelo Bolsa Família. O colunista Paulinho Navarro, do jornal mineiro O Tempo, chegou a sugerir um plebiscito para excluir do Brasil as duas regiões.
Nesse sentido, a fala de Dilma antes que começassem as perguntas dos jornalistas já ressaltava mais uma vez as diferenças entre o PT e o PSDB de seu adversário no segundo turno, Aécio Neves. Ela afirmou que o segredo dos 12 anos de administração dela e de Luiz Inácio Lula da Silva está justamente em governar para todos, ainda que com prioridade para as classes mais baixas.
A presidenta recordou que em 12 anos subiram a linha de pobreza 36 milhões de pessoas e que 42 milhões entraram na chamada classe média. Hoje, 73% dos brasileiros estão nas classes A, B e C. “As necessidades passam pelo fato de que é fundamental que o Brasil busque duas coisas simultaneamente. A gente tem de olhar para os mais pobres, que ainda são pobres. Um governo que não olhar para quem é mais pobre não está fazendo seu trabalho direito. Agora, ao mesmo tempo esse governo e os governos que virão terão de enfrentar o desafio de aumentar o emprego para a classe média brasileira.”
Dilma se reuniu no Centro de Eventos Brasil 21, na capital, com governadores eleitos e reeleitos pelo PT e por partidos da base aliada, além de parlamentares e ministros licenciados para a campanha. Hoje foi anunciado que o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, também irá se licenciar do cargo pelas próximas três semanas para reforçar a equipe que trabalha pela reeleição.
Na entrevista, Dilma foi perguntada sobre qual o caminho para melhorar o nível de votação em São Paulo, estado em que foi derrotada por Aécio, com uma diferença de 4,2 milhões de votos. Ela disse que a ideia é garantir comunicação com todos os setores da sociedade na tentativa de reverter a situação, e não deixou de por duas vezes alfinetar os tucanos.
Ao ser questionada sobre o que explica a baixa votação do PT no estado, a petista se contrapôs a FHC, dizendo que se ancora em um pensamento comum: “Eu não tive voto. Não tem diagnóstico mais simples e mais humilde. Voto, a gente pode fazer todas as suposições, mas você precisa partir desse princípio”, afirmou. “Vou lutar para ganhar em todos os estados possíveis. Não tem essa de ganhar um estado e achar que não vale. O Brasil é um só.”
Depois disso, a presidenta passou a recordar que teve boas votações no Nordeste, no Norte, no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais, terra natal dela e estado que foi governado por Aécio durante oito anos. “Quem me conhece votou em mim”, disse Dilma, que foi perguntada se aquela frase era uma indireta ao tucano: “Você está deduzindo. Você é rápida”.
A presidenta foi perguntava novamente sobre a importância do apoio de Marina Silva e do PSB. A ex-ministra, terceira colocada no primeiro turno, com 21,3% dos votos válidos, deu sinais de que apoiará Aécio no segundo turno, mas a posição do partido será definida amanhã, durante reunião em Brasília. “Acho que ninguém pode abrir mão de apoio de ninguém. Agora, também sei perfeitamente, pela experiência política e todos vocês sabem disso, que ninguém é dono do eleitor. Fico muito feliz quando me apoiam, agora sei que ninguém manda no eleitor. É um princípio democrático.”
Fonte: Rede Brasil Atual