Genial nos campos, jogador argentino nunca escondeu sua proximidade com líderes da esquerda latino-americana
[Do Brasil de Fato | Edição: Rodrigo Chagas]
Ele parecia imortal. Tantas vezes, Diego Armando Maradona driblou os boatos sobre sua morte e as circunstâncias que poderiam levá-lo ao óbito. Porém, por volta das 13h15 desta quarta-feira (25), chegou a informação de que o ex-jogador argentino faleceu em sua casa, aos 60 anos, após uma parada cardiorrespiratória.
Maradona foi operado no dia 6 de novembro para remover um hematoma subdural. Porém, sofreu com uma baixa anímica, anemia e desidratação, que o mantiveram internado até 11 de novembro, quando finalmente teve alta hospitalar e foi levado para sua residência em Buenos Aires.
Diego Maradona estreou em 1977 pela seleção argentina. Tinha apenas 16 anos e todo o país desejava que fosse convocado para a Copa do Mundo de 1978, disputada na Argentina e ganha pelos argentinos.
Em 1986, veio a consagração. No México, Maradona, que já era uma estrela mundial, teve uma atuação épica e levou a Copa do Mundo, pela segunda vez, para a Argentina. Durante o torneio, o craque argentino fez um dos mais importantes gols de sua carreira, nas quartas-de-final, contra a seleção da Inglaterra.
Quatro anos antes, ingleses e argentinos guerrearam pela posse das Ilhas Malvinhas, um arquipélago ao sul da Argentina, que acabou sob comando da Inglaterra, após conflitos sangrentos, que vitimaram cerca de 650 soldados argentinos.
Durante a Copa do Mundo, um gol de mão e outro antológico, driblando metade do time inglês, serviram para eliminar a seleção europeia. Era a vingança de Maradona e de todos os argentinos.
A partida, transformada em ato político por Maradona, é apenas um capítulo de sua história com a política. No corpo, o ex-jogadores carregava duas tatuagens, uma do revolucionário argentino Che Guevara, no braço direito, e outra do ex-presidente cubano Fidel Castro, na perna esquerda.
Com Fidel Castro, manteve a amizade mais próxima. Por diversas vezes, visitou o ex-presidente cubano na ilha. Em uma delas, para se tratar da dependência química que o acompanhou durante toda a vida. Foi em Cuba que Maradona ganhou uma sobrevida, após uma série de complicações em decorrência do vício.
Hugo Chavéz, ex-presidente venezuelano, foi outro amigo próximo de Maradona, que também recebeu visitas do jogador durante o seu mandato. Em março deste ano, o argentino recordou os sete anos de morte do líder da Venezuela. “Nunca se rendeu, lutou até seu último suspiro. Depois de sete anos de sua morte, está mais vivo que nunca.”
A amizade foi estendida à Nicolás Maduro, sucessor de Chávez no comando da Venezuela. Em agosto de 2017, após mais uma turbulência no mandato do venezuelano, Maradona anunciou em suas redes sociais. “Somos chavistas até a morte. E quando Maduro ordenar, estarei vestido de soldado para uma Venezuela livre, para lutar contra o imperialismo e os que desejam apoderar nossas bandeiras, que é o que temos de mais sagrado.”
Maradona sempre explicitou sua admiração pelo ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Quando o petista estava preso, o argentino enviou uma mensagem. “Se querem voltar à era dos desaparecidos, como hoje fazem Lula ‘desaparecer’, estão muito enganados”, afirmou o ex-jogador.
Quando Lula foi solto, em 8 de novembro de 2019, Maradona se manifestou. O ídolo argentino publicou uma foto abraçado ao ex-presidente brasileiro e escreveu. “Hoje, se fez justiça.”
Com o casal Kirchner, Cristina e Nestor, manteve uma relação próxima e de apoio incontestável nas eleições presidenciais enfrentadas por cada um. A adesão se estendeu a Alberto Fernandez, eleito presidente da Argentina em outubro de 2019.
Duas semana após a posse de Fernandez, Maradona o visitou e mandou um recado a Maurício Macri, presidente argentino derrotado nas urnas e alvo constante do ex-jogador. “Esse não volta mais. Que vá morar na Tailândia”. “Falei em nome dos mais necessitados, para que neste momento tão complicado, todos possamos comer e trabalhar”, concluiu.
Macri nunca teve vida fácil com Maradona. Quando presidia o Boca Junior já era alvo de críticas do ídolo argentino. Hoje, Fernandéz se despediu da lenda. “Você nos levou ao lugar mais alto do mundo, Nos fez imensamente felizes. Foi o maior de todos. Obrigado por ter existido, Diego. Sentiremos sua falta pelo resto de nossas vidas.”
No último ano de sua vida, Maradonna foi técnico do modesto Gimnasia y Esgrima La Plata.