O diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, participou na segunda-feira (6) da audiência pública realizada pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que tratou sobre a privatização de estatais. De acordo com ele, ao transferir ativos à iniciativa privada, o país entrega sua soberania e permite um impacto severo sobre os empregos e sobre o desenvolvimento local.
Segundo Clemente, o Estado é protagonista na articulação de estratégias de desenvolvimento e, portanto, deve ter a sua participação fortalecida. “Não há caso de um país gigante como o Brasil que entrega seus ativos para o controle internacional. Não há experiência histórica. A gravidade dessa transferência dos ativos estatais está integrada a uma entrega mais dramática. O que estamos fazendo é uma entrega do maior volume de ativos reais disponíveis no planeta para uma riqueza patrimonial”, criticou.
O especialista lembra que há um processo de transferência do controle produtivo mundial para o sistema financeiro, o que interrompe os investimentos e o avanço dos países. “Estamos fazendo algo que nunca fizeram na história econômica. Capitaneado pelo setor financeiro, não sabemos quais são os reflexos dessas transferências. Nós sabemos que o setor financeiro muda a lógica do setor produtivo. O que era uma lógica de produção de lucro e reinvestimento torna os lucros distribuídos aos acionistas, com pouquíssimo investimento”, explica.
Ele se manifestou contra a privatização da Petrobras, Eletrobras e as outras estatais brasileiras. Além disso, Clemente destaca a entrega de recursos naturais, como a Amazônia. “Muitas vezes não nos damos conta que uma grama de árvore da Amazônia vale milhares de vezes mais do que o petróleo. Nós estregamos a base florestal dos nossos cinco biomas, ou seja, estamos entregando a base produtiva da saúde, a maior reserva de água potável do planeta, a maior reserva agriculturável do planeta. Estamos falando das maiores reservas do mundo em um único território”, lamenta.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) também criticou decreto assinado por Temer na última quarta-feira (1º), que facilita a venda de ativos das estatais. Segundo ele, o decreto é inconstitucional, pois a criação e a venda de empresas estatais precisam passar pelo Congresso Nacional.
“Estão tentando legalizar ilegalidades que já foram cometidas, em especial na Petrobras. A Petrobras vendeu 66% do campo de Carcará, do pré-sal, sem licitação, para a estatal norueguesa, com o preço do barril de petróleo saindo a US$ 2. Isso é um presente”, disse o senador.
Via Rede Brasil Atual