O Dieese, que completa 60 anos no próximo dia 22, debateu na sexta-feira, (4), desenvolvimento industrial e desigualdade regional, como parte de um esforço para dar “centralidade” às questões relacionadas ao mundo do trabalho. No final do dia, reuniu gerações para uma comemoração, em sua sede, na região central de São Paulo, com as presenças dos ex-diretores técnicos Walter Barelli, Heloísa Helena de Souza Martins e Sérgio Mendonça, atual secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, além do ministro do Trabalho e Previdência Social, Miguel Rossetto, e do secretário nacional do Trabalho, José Lopez Feijóo. A imprensa não pôde acompanhar o ato comemorativo, supostamente a pedido do ministro.
Diretora técnica entre 1966 e 1968, Heloísa Martins foi sucedida por Barelli, que havia indicado para trabalhar no Dieese e que se tornou o diretor de maior tempo na casa: 22 anos, até 1990. Mendonça, no cargo até 2003, observa que o Dieese, além de sua agenda clássica (com temas como inflação e desemprego), é hoje um “centro de pensamento para intervir nas políticas públicas”, em uma sociedade muito mais complexa do que a dos anos 1950 – quando o instituto surgiu, a partir de questionamentos do movimento sindical sobre índices oficiais de custo de vida.
No período da manhã, o professor David Kupfer, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), chamou a atenção para a “doença da competitividade” que atinge a indústria brasileira. “Estamos trocando produção por importação, estamos perdendo competitividade ano após ano”, afirmou, apontando problemas como rigidez estrutural e redução de investimentos.
Ele ressaltou a importância de alguns “pactos” para dar novo dinamismo ao setor: federativo (sistema tributário), público-privado (com novos marcos regulatórios para permitir mais investimento), social (que permita crescimento econômico aliado ao bem-estar social), capital-trabalho (para modernizar as formas de contratação sem comprometer direitos) e internacional (para rever estratégias de inserção).
O sociólogo Arilson Favareto, professor da Universidade Federal do ABC, questionou o modelo de desenvolvimento, afirmando que o Brasil se firmou como país urbano sem superar a “fratura” entre interior/litoral e norte/sul. E lembrou que Celso Furtado, referência no assunto na história brasileira, não via possibilidade de o Brasil tornar-se uma nação plena sem solucionar esses problemas. “Mais do que isso, a não solução da questão regional está na raiz de grande parte dos problemas urbanos. Essa questão é constitutiva da formação do Brasil e dos nossos dilemas do desenvolvimento.”
Segundo ele, a industrialização deixou de ser “o principal vetor de desenvolvimento” quando se analisam as diferenças entre regiões. “Não faz sentido, hoje, relacionar a questão regional com desconcentração industrial. Temos de pensar que há uma diversidade de vantagens comparativas e de trajetórias possíveis.”
O professor identifica mudanças recentes nesse processo. E cita fatores como fim do êxodo generalizado (para o Sudeste, principalmente), novos destinos migratórios (como Centro-Oeste e Sul, devido ao agronegócio), maior permanência de trabalhadores no Nordeste e crescimento da importância das cidades médias. Os indicadores brasileiros melhoraram, aponta Favareto, lembrando, no entanto, que um desafio se mantém: a redução da desigualdade.
Fonte: Rede Brasil Atual