Dieese aprsenta balanço de negociações em 2010: cerca de 90% dos acordos foram fechados com aumentos acima da inflação

Após melhor ano para aumentos reais, Dieese vê dificuldade nas negociações salariais em 2011…





Rede Brasil Atual

Em 2010, as campanhas salariais pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) conseguiram o maior número de aumentos reais (acima da inflação) da série histórica. A previsão para este ano, porém, é de um grau maior de dificuldade, pelas perspectivas de crescimento menor e de aumento da inflação. O coordenador de relações sindicais do instituto, José Silvestre Prado de Oliveira, vê em 2011 um ano "espremido" entre 2010, "que foi muito bom", e 2012, "que deverá ser melhor que 2011". No ano passado, 95,6% dos acordos foram fechados com reajustes acima ou equivalentes à inflação.

De 700 acordos pesquisados, 621 (88,7%) ficaram acima da variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC-IBGE), usado como referência nas negociações. Foi o maior percentual de aumentos reais desde que o levantamento começou a ser feito, em 1996.

Outros 49 acordos (7% do total) foram fechados com reajustes equivalentes ao INPC e 30 (4,3%) ficaram abaixo da inflação. Também aumentou a magnitude dos aumentos reais: 15% resultaram em ganhos três pontos percentuais acima da inflação, ante 5% em 2009 e 4% em 2008.

Segundo Silvestre, desde 2004 se observa uma tendência de crescimento dos acordos com reajustes acima da inflação. "Do ponto de vista do ganho real, 2010 foi o melhor ano da série. Coincidentemente ou não, foi o melhor resultado do PIB", observou o economista. Em 2010, a economia cresceu 7,5%, para uma inflação média de 4,9%.

Além do crescimento da economia, a inflação é uma variável fundamental para explicar o comportamento dos reajustes, lembrou o técnico. "Além, obviamente, da ação dos sindicatos", acrescentou. Assim, a perspectiva de crescimento menor do PIB este ano e de inflação maior, mais o aperto no crédito e a redução do consumo das famílias, compõem um cenário de dificuldade adicional para as negociações salariais.

Estratégia
"Acho que o movimento sindical não vai recuar da estratégia de continuar batalhando por ganho real", aposta Silvestre. Ele acredita que este será um ano de "aumentos reais sem a mesma magnitude (de 2010)". Por outro lado, há uma expectativa de expansão dos investimentos, devido a fatores como Copa do Mundo, pré-sal, Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e Olimpíadas de 2016.

Do total, 346 foram da indústria (49,4%), 239 no setor de serviços (34,1%) e 115, no comércio (16,4%). De acordo com o Dieese, a maior parte (598, ou 85,4%) refere-se a convenções coletivas de trabalho, fechados entre entidades de trabalhadores e empresariais, enquanto 102 (14,6%) foram acordos coletivos, assinados com uma empresa ou um grupo de empresas. Doze negociações foram feitas nacionalmente. A maior concentração de datas-base está no mês de maio: 187, ou 26,7%. Nesse mês, predominam as negociações de sindicatos de trabalhadores na construção civil e no setor de transportes.

Dos acordos fechados na indústria, 90,5% ficaram acima do INPC e 6,9% empataram com a inflação. O índice de acordos abaixo do INPC foi de 2,6%, o menor de todos – em 2009, esse percentual chegou a 7,8%. Para Silvestre, foi mais um sinal de recuperação do setor mais atingido pela crise de 2008. Entre os aumentos reais, 7,5% ficaram quatro pontos acima do INPC, ante 1,8% nos dois anos anteriores. De 10 segmentos industriais, seis (construção/mobiliário, extrativista, gráfico, metalúrgico, químico/farmacêutico e fiação/tecelagem) tiveram acordos com a totalidade de aumentos reais.

No comércio, 95,7% dos acordos superaram a inflação e 0,9% equivaleu ao INPC, enquanto 3,5% ficaram abaixo. Por fim, nos serviços 82,8% dos acordos salariais ganharam do INPC e 10% corresponderam à variação do índice, enquanto 7,1% perderam. Também entre 10 segmentos, um (bancos e seguros privados) só fecharam acordos com aumentos reais.

A grande maioria dos acordos (95,3%) foi fechada de uma só vez, sem parcelamento. Quase 20% foram escalados por faixa salarial e 12% foram acrescidos de abono. "Os abonos salariais de 2003, na sua maioria eram para compensar o não pagamento da inflação total. Agora, vão além disso", comparou o técnico.

Ele também destacou o impacto do salário mínimo na economia. Impacto que este ano não deverá ocorrer, já que o aumento foi praticamente igual à inflação.

Considerado o triênio 2008/2010, o padrão se mantém: 88,6% dos acordos acima do INPC, 1,7% equivalentes à inflação e 9,7% abaixo.