Rede Brasil Atual
Artistas e ativistas promoveram neste domingo (24) um ato público no centro da capital paulista para lembrar o Dia Internacional pelo Direito à Verdade. Organizada pela psicanalista Maria Rita Kehl, integrante da Comissão Nacional da Verdade, e pelo grupo teatral paulistano Companhia do Latão, a celebração teve discursos, canções e uma encenação inspirada no texto “As cinco dificuldades de escrever a verdade”, do dramaturgo alemão Bertold Brecht (1898-1956).
O ato aconteceu na rua Maria Antônia, palco do enfrentamento ocorrido entre membros do chamado Comando de Caça aos Comunistas (CCC), da Universidade Mackenzie, e estudantes Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. “Aqui começou a rebelião estudantil de 1968 e é um sítio histórico da resistência à ditadura. As novas gerações estão assumindo coisas que estavam enterradas há décadas e isso é fundamental”, disse Adriano Diogo, presidente da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo.
A celebração também contou com a participação de ex-estudantes do Centro Universitário Maria Antônia da USP (entre 1949 e 1968). “Esse lugar foi palco de amor e luta. Em certo momento, o que estava em jogo era a adesão de estudantes e colegas à luta armada”, lembrou José Miguel Wisnik, compositor e professor de Literatura Brasileira da USP.
Em sua fala, Wisnik prestou uma homenagem a Elenira Nazaré e Iara Iavelberg, militantes desaparecidas e mortas durante a ditadura militar. “Não queremos instaurar uma verdade única, mas a dimensão das verdades que desvelam a mentira maiúscula de que nada disso aconteceu. O torturador não admite que essa história seja contada”, disse.
A data
O Dia Internacional pelo Direito à Verdade para as Vítimas de Graves Violações dos Direitos Humanos foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2010, em homenagem a Oscar Romero, arcebispo de El Salvador, assassinado em 24 de Março de 1980 por seu ativismo contra a violação aos direitos humanos.
“Vivemos um momento em que o pensamento conservador não tem medo de ir às ruas. É preciso marcar posição histórica e discutir esse processo, que se tratou de crime de Estado”, disse Sérgio de Carvalho, diretor da Cia do Latão, sobre o período em que vigorou o regime militar no país (1964-1985).
A celebração contou também com a presença de Débora Maria Silva, integrante do grupo Mães de Maio, fundado em 2006, após a execução de centenas de jovens nas periferias da capital, entre eles, o próprio filho. “Juntar o passado e o presente faz parte do nosso movimento, que foi feito para ajudar aqueles que não tem fala. As mães também pleiteiam a Comissão da Verdade para a história dos ‘crimes de maio’ que não foram contados.”
“Hoje, o direito à verdade ainda é um debate no Brasil. O modo como a ditadura acabou criou um clima para que ninguém mexesse com os militares. Trata-se de uma verdade à qual todos temos direitos e que continua silenciada”, disse Maria Rita Kehl.
O ato pelo Dia Internacional pelo Direito à Verdade recebeu o apoio de inúmeros coletivos culturais e grupos teatrais e foi encerrado com uma apresentação do bloco de percussão Ilu Obá De Min.