Em entrevista ao Portal do Sindipetro NF, o diretor de SMS do sindicato, Alexandre Vieira, avalia as principais conquista e retrocessos da categoria petroleira em relação ao tema. Segundo ele, houve melhorias no diálogo com a Petrobrás, especialmente na área da saúde, mas ainda há muitas heranças do governo Bolsonaro para remover
[Por Vitor Menezes, da Imprensa do NF]
Neste Dia Nacional da Prevenção de Acidentes do Trabalho (27 de julho), a Imprensa do NF conversa com o coordenador do Departamento de Saúde e Segurança do Sindipetro-NF, Alexandre Vieira, que faz uma avaliação da conjuntura da categoria petroleira em relação ao tema. Segundo ele, houve melhorias no diálogo com a Petrobrás, especialmente na área da saúde, mas ainda há muitas heranças do governo Bolsonaro para remover.
O sindicalista destaca que ainda não foram solicionados alguns problemas crônicos de manutenção em plataformas e que há grande falta de efetivos, em todas as áreas da companhia. Para Vieira, é preciso “virar a chave” em relação à questão da segurança no trabalho, inclusive entre os próprios trabalhadores.
Confira a íntegra da entrevista:
Neste dia de Prevenção a Acidentes e Adoecimentos do trabalho, qual o balanço você faz da situação dos petroleiros do NF em relação à saúde e à segurança?
Os petroleiros sofrem muito ainda pelos resquícios da gestão do governo Bolsonaro. A gente tem problemas graves relativos à manutenção das plataformas, que foram negligenciados. A gente tem problemas graves em relação ao efetivo. Em Marlim, por exemplo, onde era para ter quatro pessoas não tinha nenhuma pessoa, em alguns efetivos. Tinha pessoas de outras funções, dois supervisores fazendo o trabalho de seis. A gente está muito preocupado com a questão do efetivo e não é só aqui no NF. Tem muita hora extra sendo gerada no refino também. E efetivo é um grande ponto pra gente estar corrigindo e se preocupando.
Tivemos o caso recente da P-31, ainda sob apuração, mas que traz essas marcas de um período de desleixo com a segurança. Já há sinais de melhoria nos investimentos na área?
Não tivemos ainda acesso aos números, mas sabemos que não há grande novidade ainda na área de SMS. A gente viu mais avanço na área da saúde, como na saúde mental, mas na área de segurança ainda está patinando. Temos até uma crítica a uma mudança de que não será mais SMS, será SO, Segurança Operacional, e onde está o trabalhador aí? É só na operação? Não deveria ser Segurança do Trabalhador e Operacional? Primeiro as pessoas. Temos crítica até ao próprio nome que está mudando aí na questão do SMS.
Uma questão que você sempre pontua é a busca por transparência nas informações sobre os casos de acidentes. Isso melhorou na nova gestão da Petrobrás?
Infelizmente a gente ainda tem resquícios da prática do governo anterior, não no sentido do diálogo, mas no sentido da lógica, do que é para ser considerado acidente, do que é acidente com afastamento ou sem afastamento. Inclusive a gente acabou de ter uma discussão [com a empresa] sobre o protocolo de desembarque de suspeitos de contaminação por doenças contagiosas, como a Covid-19, que a Petrobrás estava fazendo na aeronave normal. Ela estava basicamente criando contactantes. Pegando o pessoal que era suspeito da doença, colocando na aeronave com o pessoal que nem era suspeito, inclusive sem máscara e sem saber que tinha um suspeito de Covid ou de outra doença na mesma aeronave que ela. A gente vê que tem ainda que virar a chave. Depois da reunião eles falavaram que isso seria modificado [saiba mais aqui]. Tem-se um diálogo maior, mas ainda tem resquícios de práticas que a gente entende que não objetivam e precaução e resguardar a vida, ficam olhando muito para o lado econômico ainda.
O NF prioriza históricamente a questão da segurança.Você avalia que isso se estende a toda categoria? Os petroleiros e petroleiras da região são participativos nos debates e ações sobre o tema?
Sendo bem sincero, a gente tem dificuldade de fazer o petroleiro entender que o mais importante pra ele não é o salário, que o mais importante pra ele é a vida dele, a integridade física dele. Porque quando a gente chama assembleia que tem a ver com alguma coisa monetária ela é maior do que quando tem assembleia que tem a ver com a saúde. Só que sem saúde você não trabalha, sem saúde você não embarca, e isso é uma chave que a gente tem que fazer o trabalhador, o petroleiro, a petroleira, virar. Porque a gente cansa de ver pessoas se acidentando, a gente sabe que a pessoa não se acidenta porque quer, tem toda uma falha de gestão por trás disso, mas as pessoas, infelizmente, por medo de perderem o emprego, com medo de ficarem mal com o chefe, continuam aceitando pressão e se colocam em risco. Por pressão da chefia, por pressão econômica para fazer o serviço, ela coloca a integridade física dela em risco. Com a melhora do mercado a gente sabe que isso acaba mudando um pouco, mas esse ainda é um grande desafio, fazer o trabalhador virar essa chave.