A mobilização programada para esta sexta-feira em defesa do governo da presidente Dilma Rousseff e da Petrobras, em contraposição as manifestações contra o governo previstas para o domingo, visa não apenas defender a democracia, mas também lutar contra a ascenção de grupos reacionários; para o jornalista Breno Altman, “o fato é que o processo que terá início amanhã poderá abrir nova etapa na vida política do país (…) Minoritárias no parlamento e atropeladas pelos monopólios de comunicação, as correntes de esquerda têm na mobilização militante e popular ferramenta decisiva para romper o cerco a que estão submetidas”; em seu artigo ele alerta que, a partir de agora, “está se abrindo capítulo decisivo da história nacional e da luta dos trabalhadores”.
Amanhã as forças progressistas, comandadas pelo movimento sindical, darão provas se têm vontade política e capacidade de mobilização para enfrentar a ascensão dos grupos reacionários.
Não se configura uma jornada puramente a favor do governo, a bem da verdade. Afinal, um dos três eixos da convocação se confronta com a política econômica, ao reivindicar a retirada das medidas provisórias do ajuste fiscal.
Mas as outras duas bandeiras centrais – a defesa da democracia e da Petrobrás – são claras contraposições à ofensiva conservadora que busca deslegitimar e interromper o mandato da presidente Dilma Rousseff.
O fato é que o processo que terá início amanhã poderá abrir nova etapa na vida política do país.
A disputa é pela praça pública e a voz das ruas.
Minoritárias no parlamento e atropeladas pelos monopólios de comunicação, as correntes de esquerda têm na mobilização militante e popular ferramenta decisiva para romper o cerco a que estão submetidas.
Desta vez, no entanto, há uma novidade: a direita está disposta e preparada para lutar por cada palmo de asfalto. Não se vivia situação desse tipo desde o período que antecedeu o golpe de 1964, quando as marchas com Deus e a família pavimentaram o caminho dos tanques.
Deve-se reconhecer, aliás, que a reação burguesa encontra-se em melhores e mais avançadas condições de combate que a esquerda.
Doze anos de estratégia predominantemente institucional e conciliatória, com renúncia à batalha de ideias e ao protagonismo do povo organizado, provocaram bizarrice histórica: os governos encabeçados pelo PT ostentam o feito, ao menos desde certo ponto, de terem mobilizado seus opositores e desmobilizado a própria base de apoio.
Esta deficiência, que agora atinge indiscutível visibilidade, tem que ser resolvida em momento de crise aguda, quando o tempo proíbe o erro e a hesitação.
Administrações progressistas de países com problemas econômicos muitíssimo mais graves, como a Venezuela ou a Argentina, contam com padrão de mobilização sensivelmente superior ao brasileiro simplesmente porque apostaram, cada qual a sua maneira, na construção de políticas e instrumentos para a luta pela hegemonia no Estado e na sociedade.
O ato do dia 13, contudo, terá ainda outros desafios a enfrentar.
O principal deles é que o governo Dilma, ao adotar pacote fiscal que descarrega o reequilíbrio das contas públicas nos ombros dos trabalhadores e do setor produtivo, criou clima de confusão, divisão e paralisia entre as fileiras de esquerda.
A jornada convocada pelas centrais e movimentos terá de combinar a defesa democrática do mandato de Dilma Rousseff com o protesto contra medidas antipopulares que está implantando.
Fosse outro o comportamento das principais entidades envolvidas na manifestação dessa sexta-feira, estaria assentado o terreno para a oposição capitalizar para seu projeto a insatisfação que começa a grassar entre os trabalhadores. Além disso, seria impensável a unidade de ação, multipartidária, que se deseja construir.
Não é uma situação confortável, que se exemplifica no tímido envolvimento da direção do PT e do ex-presidente Lula na mobilização. Não seria fácil, para as principais lideranças petistas, é evidente, subirem em um palanque cujo discurso inclui crítica frontal à política econômica estabelecida pelo governo.
Por essas e outras, é louvável a iniciativa da CUT e seus parceiros de empreitada, ao demarcar linha de resistência contra a escalada reacionária, em um momento no qual os partidos progressistas e o Palácio do Planalto parecem atônitos.
Trata-se de esforço para reconstruir o campo de alianças do segundo turno presidencial, atropelado pela guinada ortodoxa pós-outubro e o gabinete que a representa.
Nas próximas horas será dado o primeiro passo para a articulação de uma frente ampla contra o retrocesso e o golpismo, que simultaneamente disputa os rumos do governo e exige um programa mínimo que represente as classes e grupos dispostos a defender o mandato democrático e o aprofundamento das mudanças.
Oxalá dezenas ou centenas de milhares atendam o chamado do movimento sindical e popular. Talvez venha a ser demonstração de forças inferior àquela preparada pelo reacionarismo para o dia 15, mas começará a ser trilhado o caminho para uma nova estratégia política.
Não tenhamos dúvidas: está se abrindo capítulo decisivo da história nacional e da luta dos trabalhadores.
*Breno Altman é editor do Opera Mundi e colunista parceiro do 247.