Estudo feito pela subseção do Dieese na FUP revela a baixa representatividade de mulheres e homens pretos em cargos de gerência no Sistema Petrobrás. Segundo os relatórios da empresa e balanços financeiros e sociais analisados, o percentual de trabalhadores negros que ocupam cargos de gerência na holding e subsidiárias vem caindo. Em 2008, cerca de 30% das gerências eram ocupadas por petroleiras e petroleiros pretos. Em 2019, esse número despencou para 19,3% e chegou a 17,7% em 2018, o mais baixo índice desde o início da série histórica, revela o Dieese em entrevista dada à revista Carta Capital.
Veja a íntegra da reportagem publicada nesta segunda-feira, 23/11:
O Sistema Petrobras reduziu o número de pessoas negras que ocupam cargos de gerência no período entre 2008 e 2019, segundo análise divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), na sexta-feira 20.
Os percentuais se referem ao Grupo Petrobras, que inclui tanto a empresa matriz quanto as companhias subordinadas. As informações foram extraídas de um relatório da própria estatal, divulgadas por meio de demonstração financeira, segundo o Dieese.
De acordo com a análise, em 2008, 29,9% dos cargos de chefia eram ocupados por negros, e em 2019 o percentual foi de 19,3%. O índice mais baixo foi identificado no ano de 2018, de 17,7%. Somente após 2018 foram registrados percentuais abaixo de 20%, se comparado a toda a série histórica, desde 2009.
Entre 2014 e 2016, houve uma oscilação de 5%. O Dieese supõe que a variação pode ter ocorrido por influência de dois planos de demissão voluntária, um lançado em 2014 e outro em 2016, ou por venda de empresas subsidiárias, entre outras hipóteses.
- Em 2008 e 2009, 29,9% dos cargos de chefia no Sistema Petrobras eram ocupados por pessoas negras;
- Em 2010, o percentual foi de 25,3%;
- Em 2011, 24,9%;
- Em 2012, 25%;
- Em 2013, 25,2%;
- Em 2014, 20,3%;
- Em 2015, 25,3%;
- Em 2016, 20,8%;
- Em 2017, 22,2%;
- Em 2018, 17,7%;
- Em 2019, 19,3%.
O estudo também analisa a situação da empresa matriz isoladamente, por meio do Relatório de Sustentabilidade de 2019, primeiro ano em que a companhia descreveu percentuais separados para homens negros e mulheres negras, diz o Dieese.
Dos 46.416 trabalhadores da Petrobras, 9,42% (4.374) são homens brancos em cargos de gerência, e 1,95% (907) são mulheres brancas em cargos de gerência. Enquanto isso, somente 0,54% (252) são homens pretos em cargos de gerência, e 0,07% (31) são mulheres pretas nesses postos.
Segundo Cloviomar Cararine Pereira, técnico do Dieese na subseção da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e autor da análise, o objetivo foi mostrar que a tendência desigual no mercado de trabalho brasileiro entre brancos e negros se repete de forma pior no alto escalão da Petrobras.
Enquanto, na Petrobras, somente 0,54% do quadro de funcionários total é de homens negros em cargos de gerência, o Brasil aponta percentual médio de 2,4%. No caso das mulheres negras, se na Petrobras é de 0,07%, o país tem média de 1,9%.
“Se, no Brasil, os cargos de decisão são ocupados, em sua maioria, por homens brancos e mulheres brancas, no caso da Petrobras isso também acontece, com uma diferença ainda maior”, comenta Cararine.