“Eu estou colocando o meu emprego em risco. Sei que posso sofrer retaliações, mas não vou sofrer mais do que os familiares dos meus companheiros que morreram em um acidente que poderia ter sido evitado”, declarou à FUP, Vitor Marques da Silva, ao falar sobre o seu depoimento à ANP, no último dia 07. Técnico mecânico da BW Offshore e cipista eleito, ele revelou à Agência o passo-a-passo do que considera como uma “tragédia anunciada”. Conhecido entre os trabalhadores como Bico de Luz, Vítor trabalhou durante 14 meses na FPSO Cidade de São Mateus, no Espírito Santo, onde no dia 11 de fevereiro nove petroleiros morreram em uma explosão causada por um vazamento na Casa de Bombas que já era recorrente há mais de um ano.
Ele relatou à ANP que um dos trabalhadores feridos na explosão já havia sido vítima de um outro vazamento no mesmo local, no dia 20 de dezembro de 2013. Vitor cobrou da BW o número da CAT, mas foi informado que “não havia número já que não se tratava de um acidente e sim de um incidente”. Segundo ele, a ocorrência também não foi relatada à CIPA. Vítor revelou ainda que após o acidente foi punido pela empresa com uma advertência por escrito acusado de “fazer papel de polícia junto à CIPA”.
No depoimento à ANP, o cipista também declarou que durante seus embarques para a FPSO Cidade de São Mateus presenciou pelo menos cinco disparos de alarmes na Casa de Bombas, cujo acesso passou a ser feito “somente com autorização” por causa de uma “quantidade frequente de gás” no local. Vitor relatou que devido à sua atuação na CIPA foi transferido pela BW em julho de 2014, “contra a sua vontade” para a FPSO Polvo, “sendo impedido de completar o seu mandato” na Comissão.
Vítor espera que seu depoimento possa contribuir para que outros acidentes sejam evitados e os procedimentos de segurança na indústria de petróleo, revistos, já que atualmente o que existe é uma “sequência de erros” nas gestões de SMS. “Espero que minha atitude sirva de exemplo para que outros trabalhadores também atuem para que não sejam vítimas de novos acidentes no futuro”, declarou.
Fiscalização tem que ser prioridade, cobra FUP em reunião com ministro do Trabalho
Em reunião no dia 31 de março com o ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias, a FUP denunciou os diversos problemas de SMS que os sindicatos enfrentam na Petrobrás e em toda a indústria petrolífera e ressaltou a importância da fiscalização para garantir uma política preventiva de saúde e segurança nos locais de trabalho.
A FUP cobrou a recomposição dos quadros de auditores fiscais e técnicos da Fundacentro nos estados, ressaltando que a fiscalização do MTE é fundamental para garantir a efetividade das normas regulamentadoras, que são sistematicamente descumpridas pelas empresas do setor.
Segundo informações dos auditores fiscais, há um déficit de aproximadamente cinco mil profissionais em todo o país e somente mil estão sendo admitidos. O ministro reafirmou que dará andamento ao Grupo de Trabalho para converter o Anexo 2 da NR 30 em uma Norma específica para plataformas. Ele também se comprometeu em estabelecer uma mesa de entendimento com a Petrobrás para cobrar o cumprimento da NR 20 e em discutir com a FUP e os sindicatos um cronograma de inspeções nas refinarias, terminais e plataformas.
Fonte: FUP